26 | Aquele homem cruel

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CAPÍTULO  VINTE E SEIS:
Garoto solitário

━━━━━━━━━━━━CAPÍTULO  VINTE E SEIS:Garoto solitário

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Violeta


12 de junho de 1996
Um ano atrás

Quando foi a última vez que ergui os olhos para o céu? Parece-me tão distante, como se o tempo tivesse se esticado e distorcido. A chuva caía com uma intensidade quase cruel, como se o próprio firmamento chorasse por mim. Era uma chuva pesada, que encharcava minha pele e penetrava até os ossos. Mal conseguia piscar, tomada por um cansaço súbito e avassalador.

Meus pés, como se possuídos por uma vontade própria, me conduziram pelas ruas lamacentas. Eu estava indo para casa, buscando escapar da presença que atormentava meus pensamentos. Mamãe costumava dizer que o céu estava zangado naquele dia, e eu, tola, não acreditava nela. Mas mamãe sempre estava certa, mesmo quando eu preferia ignorar suas palavras.

A ponte surgiu à minha frente, majestosa e assustadora. Suas vigas de ferro pareciam sustentar o peso do mundo, e eu me vi atraída por sua grandiosidade. Era um lugar onde eu costumava fugir nas noites mais sombrias, quando o mundo se tornava insuportável.

Mas aquela chuva... aquela chuva me pegou desprevenida. Ela lavava minhas lágrimas e minhas angústias, como se soubesse dos segredos que eu carregava. Meu pai havia partido deste mundo, e aquele homem cruel havia tomado seu lugar. Violeta era o único nome que restava de meu pai, uma lembrança frágil e dolorosa.

E então, ele apareceu. Um menino solitário, parado à beira da ponte. Seus olhos eram sombras profundas, e sua expressão, uma mistura de raiva e tristeza. Eu o encarei, intrigada. Por que ele estava ali? Por que ele também estava chorando?

- O que você está olhando? - ele perguntou.
Seus olhos me fitaram com desconfiança, como se eu fosse uma intrusa em seu mundo particular.

- Você. - minha resposta saiu antes que eu pudesse pensar. - O que você tem?

Seus olhos se estreitaram, e ele afastou o olhar.

- E o que você tem a ver com isso?

- Você estava chorando? - insisti, ignorando sua hostilidade.

Ele me encarou, surpreso. Como eu havia parado ali, ao lado dele? Meus pés, novamente, haviam se movido por conta própria.

- E eu não estou chorando. Está chovendo, não vê? Qualquer um poderia se confundir.

- Eu também estava chorando - confessei, sem saber por que compartilhava isso com um estranho. - Mas estou tão feliz que esteja chovendo agora.

A garota da JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora