Capítulo 19

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O almoço foi bem tranquilo, o de sempre, na verdade. Josh ficou quieto na dele, como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse me segurado pelo braço e gritado absurdos comigo. Como se não tivesse me ameaçado com uma coisa tão besta. Se ainda tinha alguma consideração por ele, não tenho mais. Será que meus pais não se tocavam de que o filho tinha algum problema? Eles acham que é só coisa da idade, mas está na cara que não é.

Cada um fez a sua tarefa na cozinha depois do almoço. Minha mãe estava me ouvindo, tendo em mente que trabalhos domésticos não são só para as mulheres e sim para todos que moram em casa. Fazia ela muito bem em acordar para a vida e abandonar essa ideia completamente machista. Ela foi para a loja e meu pai para a farmácia. Josh também saiu, só sabe Deus para aonde.

Resolvi ir até à farmácia do meu pai e pegar alguns prendedores de cabelo. Griselda ficou aqui em casa e toda hora que perdia um pegava o outro. Sumiu todos eles. Caminhava tranquilamente pela rua e percebi que o sol que havia de manhã sumiu. Tudo estava nublado. O tempo andava meio maluco aqui em Massburgys. Completamente fora de órbita.

Entrei na farmácia e após procurar o meu pai com os olhos, eu não o vi. Apenas Jimmy com o seu sorriso meigo de sempre. Era fofo, confesso, mas ele não era o meu tipo de garoto. Fui até a prateleira e peguei um saquinho com os prendedores e me dirigi até o balcão.  

— Olá, Bevelly. — sorriu para mim, docemente.

— Olá, Jimmy. — sorri contidamente para ele.

— Vai ser só isso? — perguntou, empolgado em me atender.

— Vai sim. — o respondi. Não queria dar esperança nenhuma á ele, mas era complicado.

— Então, resolveu a ir à festa de Massburgys na próxima sexta? — voltou a tocar no assunto. Algo me diz que ele queria me convidar para ir junto á ele, mas não poderia aceitar de maneira alguma.

— Não sei se vou. Não gosto de festas e nem de tumulto. — voltei a negar, mas acho que não iria mesmo.

— Vamos, você vai gostar. — garantiu. Era uma frase ousada demais para o vocabulário de Jimmy. — Poderíamos ir juntos. — Ok. Essa frase era ainda mais ousada. Jimmy não diz esse tipo de coisa, quer dizer, ele não é direto.

— Acho melhor chamar outra pessoa, uma pessoa que garanta estar presente. Eu não posso dar certeza. — foi a melhor desculpa que consegui dar sem ter que pensar muito, sou péssima em mentir para as pessoas, principalmente olhando na cara.

— Eu não me importo em ir sozinho. Vou estar lá, se você aparecer, guarde uma dança para mim. — pediu com um sorriso, não tão doce como os outros. Estranhei isso.

— Pode deixar. — respondi um pouco sem graça. Era estranho não esperar isso de uma pessoa. Peguei a sacolinha com o pacotinho dos prendedores e saí da farmácia. Eu precisava contar isso para Griselda e ver o que ela achava sobre o assunto, mas teria que ser em outro momento, faltava pouco para Jackson chegar em casa para as aulas, se bobear, iria chegar atrasada para atendê-lo.

Com os passos acelerados e ágeis, cheguei em frente a minha casa. Subi as escadas e dei de cara com Jackson na porta. A atrasada hoje seria eu, não tinha nem desculpa para isso.

— Bevelly? — Jackson estranhou ao me ver fora de casa.

— Oi. — o cumprimentei sem jeito — Chegou, faz muito tempo?

— Na verdade, acabei de chegar. — admitiu. Ele estava uma graça com aquela calça jeans e a blusa preta de manga, com a mochila jogada nas costas.

— Que bom! — passei por ele e abri a porta — Entra aí. — dei passagem para que ele entrasse.

Fechei a porta ao entrar logo atrás dele. Felizmente já tinha deixado tudo organizado para quando ele chegasse. Sem delongas, nos sentamos no tapete vermelho e foquei na matéria que cairia na prova de matemática dele que seria amanhã inclusive, mas ele já havia pegado os macetes, então poderia ficar tranquilo, eu acho. Jackson estava sério e julgo que era por causa da prova, ele precisava ir bem ou estava tudo acabado para se formar esse ano. Tentei ser mais clara o possível para que ele entendesse e esclarecia qualquer dúvida que ele tinha. Fiquei uma hora explicando e depois passei algumas atividades para ele fazer e ver como se saía.

Um Romance Nos Anos 80Onde histórias criam vida. Descubra agora