Um Romance Nos Anos 80

Capítulo 25

Era sábado. Não tinha aula e poderia ficar dormindo até tarde sem me preocupar com nada, era o que normalmente faria. Mas desde ontem, meus pensamentos não são outra coisa a não ser o meu beijo com Bevelly. Acordei cedo e fiquei deitado debaixo das cobertas, passando e repassando a cena na minha cabeça. Fechava os olhos e mordia e umedecia os lábios, os quais os dela já haviam estado. Era como se ainda pudesse sentir as suas mãos delicadas na minha nunca, puxando para outro beijo. A inocência do seu beijo, do seu olhar pedindo por aquilo era o meu delírio. Gostaria de beijá-la de novo. Gostaria muito. Mas isso não vai acontecer. Bevelly não é como as garotas que fico, ela não é para isso. Seu jeito meigo e inerme são cativantes, mas ela é tão intocável, tão pura... Eu não sou digno disso. Não sou digno de tocá-la.

Droga. — soquei o travesseiro — Não sei o que ela fez comigo, mas é uma tortura. Além de tudo, tem a nossa amizade e isso é uma coisa que eu não abro mão. Ela é muito importante para mim e me recuso a perdê-la. Preciso conversar com ela, preciso que nos entendamos.

BEVELLY

Estava deitada na minha cama e olhando para o teto, mas a minha cabeça estava em outro lugar. Fui dormir pensando no meu primeiro beijo e da forma como ele foi perfeito. Pensei em Jackson e em como ele fez daquele momento muito especial para mim, foi respeitoso e amável. Aconteceu da melhor maneira, mas agora tudo se complicava um pouco, principalmente porque descobri que sou a fim dele e isso é uma coisa péssima. Por mais que ele seja maravilhoso dessa maneira, não muda o fato de que seja um mulherengo e não posso me interessar por alguém que é assim. Isso ele não esconde. Ele não usa máscaras e deixa claro quem é de verdade. O primeiro garoto que eu me interesso é um que nunca vou ter. Como foi que eu me interessei por ele e nem percebi? Fui puxada dos meus pensamentos ao ouvir alguém batendo na porta.

— Bevelly, sou eu. — reconheci a voz de Griselda. Ela era inconfundível.

— Pode entrar! — falei mais alto para que ela ouvisse e então, me sentei na cama e ajeitei o cabelo.

— Olá, amiga! — disse assim que entrou e estava feliz — Vim ver como você está. Ontem achei que era necessário te dar um tempo para pensar bem nas coisas, por isso não te procurei. Conversei com Georgiana, ela disse que sente muito e que não sabe como se desculpar.

— Ela não tem com o que preocupar, não era ela quem me devia lealdade, era o meu irmão. A escolha de me afastar foi dele, não dela. Mas enfim, isso não importa. Já superei. — toquei no delicioso tecido da coberta. Minha mãe é quem havia feito e ficou muito lindo. Ela juntou várias estampas diferentes e formou um cobertor muito bonito.

— Tem certeza de que está bem? — Griselda sentou-se na poltrona e me olhou atentamente com os seus olhos preocupados e com os fios loiros em volta do rosto.

— Estou bem. — garanti á ela com um sorriso convincente — Nada que venha de Josh consegue me atingir mais. Foi só na hora que fiquei triste, mas depois passou.

— Sinto muito pelo seu irmão. Ele foi um idiota e não estou defendendo a minha irmã, mas ela pediu muitas vezes para que ele repensasse nessa decisão de afastamento. — encostou as costas na poltrona e relaxou o corpo. Seu cabelo loiro tinha uma das mechas presas a uma presilha cor de rosa. Usava uma calça jeans e uma blusa verde.

— Não estou com raiva dela, nem poderia. — coloquei uma das minhas mechas ruivas atrás da orelha e comecei a pensar em uma forma de contar o que houve para Griselda. Preciso me abrir com alguém e ela é minha melhor amiga. Ninguém me entenderia melhor que ela. — Griselda... — engoli seco, estava prestes a admitir algo que me assustava muito.

— O que foi? — seus olhos curiosos prestaram bastante atenção em mim e era como se ela soubesse apenas pela entonação da minha voz que se tratava de um assunto delicado.