Faltava um bom tempo para começar a me arrumar para ir ao colégio, mas acabei acordando mais cedo hoje. Ainda deitado e encarando o teto do meu quarto, a minha mente vagava para outro universo. Um universo que continha apenas lembranças da viagem com Bevelly no final de semana. Eu a tive. Não por completo, mas a tive. Na verdade, conheci um lado dela que não fazia ideia que existia, um lado ousado e conciso. Me deleitei da sua inocência, lhe proporcionando um pouco do que a minha experiência podia oferecer.
Bevelly é muito mais do que mostra. Se antigamente as ruivas eram consideradas bruxas, consigo compreender um pouco o porquê. Essa garota conseguiu me deixar enfeitiçado como nenhuma outra foi capaz. Ela não precisou usar o corpo, ousadia ou nada disso. Porque mesmo antes dessa viagem, já estava gamado nela. Bevelly apenas foi ela mesma. E me encantei ao descobrir o quão profunda poderia ser. Estar com ela é pura magia, cada segundo é importante, cada instante é mágico.
Passei a mão pelo rosto, suspirando e praguejando. Sim, praguejando. Não posso negar que o que sinto por ela é forte, é nobre e o mais assustador de tudo: É real. Não é uma mera fantasia. Porém, não consigo compreender. Nunca senti nada assim por uma garota. É engraçado tentar explicar que quando ela está por perto, sinto a necessidade de impressioná-la. Mas não deveria fazer isso. Eu não vou mudar. Não posso dar o que ela quer: um namorado. Um cara romântico que leva flores, bilhetinhos com coraçãozinhos e beijos na chuva. Minha essência é ser assim, livre, solto e de todas. Não sou digno dela. Não sou. Mas como posso manter distância? A cada instante a desejo. Não consigo vê-la com outro cara.
A necessidade de levantar se fez. Mesmo que ainda esteja cedo, ficar torturando a minha mente com pensamentos assim não é uma boa coisa, principalmente antes da aula. Antes de ir dormir ontem à noite, disse a mim mesmo que seria capaz de prestar atenção enquanto a professora explica. Poderia encerrar as aulas com Bevelly, mas não queria deixar de vê-la. Não queria. Na verdade, não podia.
Após estar arrumado, desci até a copa, onde os meus pais se encontravam tomando café. Eles sorriram ao me ver. Amava os pais que tinha e por isso era grato todos os dias. Me sentei com eles na mesa. Faz tempo que não tomamos café, juntos e com tempo.
— Acordou cedo, filho. — minha mãe bebericou o café na sua xícara branca.
— Estava sem sono. — pensando em Bevelly. Minha mente torturadora completou.
— Filho, esqueci de te agradecer por ter feito a entrega para mim. — meu pai sorriu e mordeu um dos biscoitos.
— Não tem que agradecer, pai. — me servi com um pouco de café, estava esfumaçando.
— Como foi a viagem com Bevelly? — minha mãe perguntou. Ela é curiosa, um tipo curiosa extremista. Não é atoa que mora em Massburgys.
Foi fantástica. Gostaria de ter levado mais uma semana com essa entrega só para poder estar ao lado dela.
— Foi normal. — dei de ombros, fingindo que não entendera muito bem o que queria dizer, embora conhecesse minha mãe muito bem. Tinha uma ambiguidade nessa pergunta.
— Vocês dormiram fora. Pararam em uma hospedaria, certo? — meu pai pegou mais um biscoito e o mordeu, essa tática era velha. Ele fazia perguntas invasivas como se fosse normal e fazia alguma outra coisa para parecer algo casual.
— Certo. — confirmei. Novamente tentando parecer normal, mas estava começando a ficar nervoso.
— Dormiram na mesma cama? — minha mãe ousou mais dessa vez. Ela e meu pai iriam revezar nas perguntas o tempo todo.
Jamais, ninguém deveria saber do que Bevelly e eu chegamos a fazer. Se alguém ao menos sonhasse com a possibilidade, a reputação dela estaria detonada, até porque a minha fama era horrível. Sei como Bevelly preza bela boa reputação, creio que ela mesma não ligue para os mexericos alheios, mas ela liga pelo fato dos pais ligarem.
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Um Romance Nos Anos 80
RomanceA ousadia é só para quem pode.|| Bevelly Brige vive em uma pacata cidade, na qual a moral e os velhos costumes são tradicionalmente valorizados pelos moradores. Uma época onde qualquer comportamento fora dos padrões é motivo de fofocas e olhares cur...