As horas se passaram mais rápido do que pensei que fossem passar, levando em consideração que o silêncio parecia fazer com que as horas rendessem mais, porém, dessa vez mesmo em silêncio, tudo pareceu acontecer mais rapidamente. Eram sete horas quando chegamos na casa do senhor Ferry em Ourtgreen. A casa dele era bem bonita, cheia de vida, assim como a cidade, que mesmo com o céu escuro, era possível notar a organização.
O senhor Ferry e a esposa nos receberam com muito entusiasmo e boa vontade. Eles eram pessoas bacanas e os filhos eram crianças encantadoras e bem pentelhas (isso era impossível de não se notar). Nos ofereceram um delicioso café e uma conversa bastante amigável. Estávamos todos reunidos na mesa que ficava na copa. Jackson parecia ter bastante intimidade com os dois, pareciam bem chegados.
— Seu pai é com certeza o melhor mecânico que conheço. Os produtos são de ótima qualidade. — elogiou o senhor Ferry.
— Obrigado. — agradeceu Jackson, que parecia ficar feliz em ouvir aquilo. Tinha muito orgulho do pai. — Creio que ele ficará feliz em saber disso.
— E como vai a sua mãe? — a esposa do senhor Ferry, dona Emma, lhe perguntou com sua voz doce e amável, assim como também era a sua aparência.
— Ela vai bem. Do mesmo jeito de sempre. — Jackson bebeu um pouco do café após responder à pergunta dela.
— Que bom! — dona Emma sorriu, um sorriso bem lindo e largo. — E essa linda jovenzinha? É sua namorada? — presumiu.
Meu rosto ficou corado com essa insinuação e talvez a minha expressão sem graça deixara tudo ainda mais confuso do que deveria estar. Jackson também estava todo sem jeito e vi que olhou para mim.
— Não, não. Somos só amigos. — esclareci, com um pouco de timidez. Esse tipo de situação sempre me deixava sem saber o que dizer.
— É. — Jackson reforçou — Somos apenas amigos.
— Hum, sei. — dona Emma sorria com total descrença das nossas afirmações. Parecia gostar da saia justa que ficamos. — Os croissants estão gostosos? — ela me perguntou.
— Estão ótimos, dona Emma. — sorri ao respondê-la. De fato estavam deliciosos, cada ingrediente parecia ter atingido o ponto certo para que tudo ficasse tão perfeitamente saboroso.
— É Bevelly, não é? — a dona Emma quis confirmar, já que a única vez que ouviu meu nome, foi quando Jackson me apresentou a eles assim que entramos.
— É sim. — assenti também com a cabeça. Havia me simpatizado bastante com eles.
— Meu bem, você é uma garota muito bonita. Já tem planos para o futuro? — perguntou. A dona estava curiosa e pelo visto isso não era uma exclusividade apenas de Massburgys.
— Bom, nada concreto ainda. — resolvi não me abrir tanto.
— Bevelly é uma garota muito inteligente. — Jackson se intrometeu na conversa, com uma voz mansa e afetuosa. — Creio que aquela cidadezinha pacata não é o suficiente para uma mente tão brilhante.
Eu o observava enquanto dizia cada palavra e estava surpresa com isso, com as coisas que ele disse. Parecia estar sendo sincero em tudo e pela maneira como falava, ficava claro que tudo era verdadeiro. Talvez estivesse sorrindo feito uma boba, mas é isso que esse garoto me causa: comportamentos estranhos.
Depois de uma recepção tão hospitaleira, nos despedimos deles. Os dois insistiram para que passássemos a noite lá, mas Jackson disse que estava apto para pegar a estrada e que chegaríamos em Massburgys bem no início da manhã ou de madrugada. Concordei com ele, não gostava de incomodar. Ainda mais pessoas que não tenho costume.
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Um Romance Nos Anos 80
RomanceA ousadia é só para quem pode.|| Bevelly Brige vive em uma pacata cidade, na qual a moral e os velhos costumes são tradicionalmente valorizados pelos moradores. Uma época onde qualquer comportamento fora dos padrões é motivo de fofocas e olhares cur...