O rapaz bem ajeitado
É o que contam por aí: os botos se transformam em gente para vir a terra namorar as moças. Todo mundo sabe como acontece. Nas primeiras horas da noite, os botos viram homens. Sempre rapazes altos, brancos, fortes e bonitos. O povo que mora perto de rio sabe como é. Eles adoram festas onde dançam e bebem muito. Antes do nascer do sol eles pulam na água e voltam a ser botos. Nadando por aí.
Os botos vêm a terra atrás das mocinhas novas. Eles dançam e brincam com elas. As mocinhas terminam de barriga. Menino que não tem pai, já sabe, é filho do boto.
Mas dá pra reconhecer os danados. É só prestar atenção: rapaz bonito que está numa festa e ninguém conhece. Que dança muito, bebe mais ainda e não tira o chapéu, pode escrever, esse é boto. É que eles se transformam, mas ficam com um furo no alto da cabeça. Usam o chapéu pra disfarçar.
Mas os botos não fazem só isso não. Eles são mágicos: moça e rapaz jovem e bonito que nada perto deles pode se transformar em boto. Basta eles quererem.
Conheci um homem chamado Zé Deodoro que quase perdeu um filho assim. O rapaz, que se chamava Ernesto, adorava nadar no rio junto com os botos. Por mais que o pai falasse, não tinha jeito. Rapaz bonito, os botos o encantaram e o pobre virou um ser do rio.
Na primeira noite que Ernesto se desencantou e voltou a ser homem, foi a um baile e conheceu uma moça linda. Conheceu Rosinha. Moça nova, bonita e faceira. Vestido de chita e flor no cabelo. Brincou com ela e a moça ficou de barriga. Quando o sol ia começar a nascer, o rapaz voltou para o rio e se transformou em boto. Mas aconteceu o inesperado: Ernesto se apaixonou por Rosinha. Queria voltar a ser homem para se casar com ela.
Zé Deodoro andava feito doido atrás do filho. Tinha certeza que o rapaz tinha sido transformado em boto. Um dia, na beira do rio, Zé Deodoro estava lamentando o destino do filho quando um boto veio bem na beira. Era o Ernesto que conseguiu dizer para o pai que queria se desencantar. Mas para isso, Zé Deodoro precisa fazer uma coisa terrível: tinha que furar o olho do bicho com espeto ou bala. Bala podia matar, então Zé Deodoro pegou um galho seco e furou o olho daquele boto. Logo o bicho se desencantou e virou seu filho amado. E isso não é história não, conheço o Ernesto. Hoje ele é cego de um olho, mas está casado com Rosinha, tem quatro filhos e trabalha no comercio. Mas nunca mais tomou banho de rio.
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Contos que você não deveria ler
RandomEssa história irá lhe marcar para o resto da vida,pois aqui,permanece e fica,contos que você não deveria ler. Separamos os contos mais famosos 100% assustadores para você que usa essa maravilhosa plataforma Wattpad se apaixonar e se assustar com os...