Capítulo 15

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Através do Vitral Prt.1

O dia está lindo! Gosto de ver como o sol entra pela grande janela redonda e com um lindo vitral colorido. Gosto de sentar no chão e passar meus dedos por entre os feixes que entram. Daqui de cima, consigo ver as casas vizinhas, logo depois do imenso gramado verde da mansão; à direita, há uma casa amarela, nunca vejo seus donos, mas eles têm cães. Eu gosto muito de cães, mas mamãe diz que não podemos ter. Aliás, mamãe diz muita coisa:

- Catarine Marie, você não deve incomodar os patrões! Você tem de ser obediente! E não deve sair! O lado de fora é perigoso!

- Eu já sei disso, mamãe!

Ela é muito preocupada, e eu entendo; quando eu era pequenina, houve um grande surto de tuberculose, pelo que me contaram, e eu fiquei muito doente durante muito tempo.

As coisas nunca mais foram as mesmas, fiquei com a saúde debilitada e não pude mais sair ou brincar na rua. Passo a maior parte do tempo aqui onde chamam de sótão, eu chamo de quarto, meu e da mamãe. Antigamente vivíamos em outros aposentos, nos fundos da casa, mamãe governanta, papai jardineiro, Romeo e eu, crianças, apenas isso.

Durante a minha doença algo aconteceu, não sei o quê, nem quando ou como. Mas papai e Romeo saíram para cuidar do jardim e desapareceram, nunca mais foram vistos. Foi isso que mamãe me contou, sinto que ela sofre. Às vezes, ao anoitecer, a vejo pela janela caminhando por entre as árvores, tenho certeza de que espera a volta deles ou de alguma resposta. Como pode alguém sumir sem deixar vestígios?

Eu sofro também, mas bem menos; eu era pequena e faz tanto tempo. Hoje me incomoda mais não poder sair ou brincar com as outras crianças; mamãe tem medo que eu suma ou contraia alguma doença. Na época dos Holsten não era assim, eles foram os primeiros patrões dos quais lembro. Senhor e Senhora Holsten, Sara e Eduardo. Nós brincávamos no quintal entre as árvores, de pique-esconde, de pega-pega e corríamos atrás dos cães, muitos cães. Parecíamos da mesma família.

Logo após o sumiço de papai e Romeo, e quando melhorei de saúde, chegaram os Blaters, tão repentinamente que eu nem soube por que os Holsten foram embora. Acho que mamãe também não sabe, pois, quando a questionei, apenas disse que era costume os serviçais serem mantidos na casa quando os patrões as vendiam. Além de nós duas também ficou o Sr. Edgar, o cozinheiro. Quando ouço o ringir das escadas, já sei que é ele, homem gentil, sempre traz guloseimas que esconde debaixo de seu avental. Acho engraçado como caminha rapidinho com suas perninhas curtas e sua grande barriga, ele tem cheiro de alho com alecrim. Eu gosto. Às vezes, ouço mamãe dizer a ele para tomar cuidado com as coisas da casa.

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