Uma execução em Paris
Desde que o Presidente da Corte de Apelação de França tenha pronunciado a pena de morte, o condenado não pertence mais à Justiça; torna-se propriedade do executor. Alguns dias decorrem e o desgraçado sobe as escadas da guilhotina.
O lugar das execuções em Paris é na praça de la Roquette, em frente à prisão do mesmo nome.
O lugar já é sinistro por si mesmo e parece ter sido escolhido de propósito para impressionar. Por detrás do cadafalso se estende a alta muralha do depósito dos condenados. É aí que são encerrados, momentaneamente, aqueles que a Corte de Apelação do Sena envia para expiar seus crimes, quer seja nas prisões centrais, ou em Toulon, na Nova Caledônia ou em Caiena. Na frente, uma parede, não menos alta, não menos triste, contorna a prisão.
À esquerda, a larga rua de la Roquette, bordada de pardieiros fechados, onde, durante o dia, trabalham os operários das industrias funerárias: —marmoristas, negociantes de coroas fúnebres, etc. À direita, a rua sobe e morre ao pé da colina, onde está o cemitério do Pére-Lachaise.
É verão. As luzes das casas estão apagadas. Aqui e ali, alguns clarões aparecem das janelas dos cabarés, onde curiosos privilegiados tinham achado, a peso de dinheiro, um bom lugar para assistir ao espetáculo. A multidão se agita. Homens, crianças se deitam nos passeios, procurando dormir uma ou duas horas antes da execução. Alguns aquecem o café, outros cantam, conversam, trocando amabilidades e pilhérias. Ouvem-se risadas de mulheres.
A multidão é composta quase toda de vagabundos e de mendigos, que, não tendo onde passar a noite, para lá vão se distrair. Há muitas mulheres da baixa e da alta prostituição. Ao sair dum café do Boulevard dos Italianos, elas encontram um garoto ou um cocheiro de fiacre, que as avisa sobre a execução capital e que, por 20 francos, as levaria à praça de la Roquette.
O carrasco, sentado numa cadeira, diante da parede da prisão, assiste ao levantamento o cadafalso. O chefe do serviço vem preveni-lo de que está tudo terminado. Ele sobe, então, os degraus e surge sabre a plataforma. Examina todas as peças da máquina, faz descer e subir a navalha, observa o balanço, o cesto — tudo enfim —, de modo a ter certeza de que tudo se acha em perfeita ordem.
Às 3 horas da manhã, um rumor prolongado sai da multidão. É a guarda de Paris que chega: 120 homens a pé e 80 a cavalo abrem a massa dos curiosos e se espalham pela praça. Depois, vêm 120 policiais e, em seguida, 26 homens a cavalo, da gendarmeria do Sena. Nenhum funcionário da prisão ainda pregou olho. No primeiro guichê, conversa-se sobre o condenado. Cada um emite sua opinião sobre a atitude que ele terá no momento supremo. Um guarda chega. Todos lhe perguntam:
— Como vai ele?
— Está triste, não dorme e está inquieto. Quando eu parti, ele me disse: "Adeus; bem sei que isto não pôde tardar".
Entra o padre. Penetra no primeiro guichê.
Às 4 horas, o chefe de segurança chega e, em seguida, o carrasco, que se tinha ausentado.
Às 4 e 15, o comissário de polícia do bairro, o secretário da Corte, o diretor da prisão, o chefe de segurança e o padre estão reunidos no primeiro guichê.
O diretor e o chefe de segurança puxam o relógio e dizem:
— É hora.
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