Capítulo 26

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Os Mortos Prt.3 final

À noite, enquanto Walter dormia profundamente, ela mergulhava os caninos em seu peito. Walter ressentia-se da falta de sangue e saía para longos passeios nas montanhas procurando recompor a sua saúde. Atribuía aquela debilidade à falta de alimentação. De nada suspeitava. Um dia, estava caído à sombra de uma árvore e um pássaro estranho passou voando, deixando cair uma raiz seca, rosácea, a seus pés. Tinha um aroma delicioso e irresistível. Mastigou-a. Sentindo que sua boca se enchia de amargo fel, lançou fora a raiz que poderia tê-lo salvado do feitiço em que o mergulhara a esposa.

Nesta mesma tarde, Walter regressou ao castelo. O mágico perfume de Brunilda não surtiu efeito algum sobre o homem e pela primeira vez em muitos meses dormiu um sono natural. Começou a sentir uma aguda dor no peito, abriu os olhos e viu a mais horrenda e aterradora imagem de sua vida: os lábios de Brunilda sugando o sangue quente que saía de seu peito. Gritou de horror e Brunilda se afastou com o sangue a escorrer-lhe da boca.

—Demônio! É assim como me amas? — rugiu Walter.

— Te amo como amam os mortos — respondeu, com frieza, a mulher.

—Monstro sanguinário, agora entendo tudo! Tu mataste os meus filhos! Tu és a peste de que o povo falava!

—Eu não os assassinei. Tive que sacrificar suas vidas para satisfazer teus prazeres. És tu o assassino! — gritou Brunilda com os olhos gelados.

As sombras ameaçadoras de todos os mortos foram convocadas ante os olhos de Walter pelas terríveis e verdadeiras palavras de Brunilda.

— Querias amar uma morta, deitar-te com ela. Que esperavas?

—Maldita! — gritou e correu para fora do quarto enquanto se maldizia.

Ao amanhecer, Walter despertou nos braços de Brunilda. Uma longa cabeleira negra envolvia seu corpo, a fragrância de seu hálito o condenava ao estupor. Em seguida, esqueceu-se de tudo e se dedicou ao prazer com a morta em vida. Quando o efeito do feitiço passou, o terror era dez vezes mais forte. Como era dia, Brunilda dormia. O homem se refugiou nas montanhas, longe da vampira. Mas era em vão! Quando acordou, estava nos braços de Brunilda, compreendendo que assim seria para sempre.

Todavia, intentava fugir todos os dias, lutando contra a morte. Walter se refugiou em um dos recantos mais sombrios do bosque, onde a luz nunca chega. Escalou uma rocha enquanto chovia intensamente, e, no formamento, as nuvens formavam os rostos das vítimas de sua esposa. Neste instante, a lua emergiu das altas montanhas e aquela visão lhe trouxe à memória o feiticeiro. Dirigiu-se resoluto ao lugar onde os caminhos se juntam. Não estava longe. Quando chegou, encontrou o ancião sentado numa rocha, cheio de paz. Walter gritou, atirando-se ao chão:

—Salva-me, por piedade, desse monstro que só sabe semear a morte!

— Compreendes agora o quão era importante a minha advertência de deixar os mortos descansar? — disse-lhe o ancião.

—Por que não impuseste aos meus olhos todos os horrores que iriam suceder, todos os assassínios e a maldades que se estariam desencadeando? — perguntou Walter, soluçando.

—Por acaso escutavas algo que não fosse a tua própria voz, tua paixão desmedida?

— É verdade. Mas agora te peço, pelo que mais prezas, que me ajudes — suplicava Walter, agonizando.

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