Annabelle 2.

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- Olá Joh. - Ele levantou para cumprimentá-la.

- Olá querido, pode sentar. - Ela disse, abanando as mãos. - O que estavam assistindo? - Mirou a vasilha vazia e a TV ligada.

- Aquele filme de terror que a senhora me indicou. - Respondi.

- Ah sim, é ótimo não é? - Largou a bolsa e casaco no outro sofá.

- Tirando o fato da Lin quase ter uma síncope, é razoável. - Bailey se divertia as minhas custas e mamãe se juntou a ele.

- Ela é mesmo muito medrosa. - Ela sentou e se esparramou no sofá. - Aposto que se você não estivesse aqui, com cinco minutos de filme ela desistiria.

- Três. - Se era para tirar com a minha cara, eu também iria participar. - No terceiro minuto teria desligado e iria ficar lá fora até você chegar. Me roendo de medo, e abafando gritos para cada barulho irrisório. - Tremi de brincadeira.

Eles riram absurdamente alto, eu acompanhei pois, se não pode vencê-los, junte-se a eles.

- Eu trouxe o pen drive com as amostras para a Anjo Sado. Tem algum tempo? - Bailey perguntou, depois de recuperar o fôlego.

- Claro, estou louca pra ver o resultado. - Ela levantou. - Vamos até o escritório.

Os dois se retiraram, aproveitei para ir até a cozinha pegar um chocolate que escondi com muito custo da mamãe, ter duas chocólatras na mesma casa, era um desafio e tanto. Peguei a bandeja com os bifes que havia temperado mais cedo, as batatas já haviam sido distribuídas na mesma, pus um pouco de azeite por cima e ervas finas, o jantar estava no forno. Enquanto esperava, verifiquei meu WhatsApp, haviam mensagens demais e a preguiça de lê-las me dominou. Entrei no Twitter, votei na tag para melhor artista do EMA, mandei tweets para alguns amigos e para alguns famosos, porque ninguém é de ferro.

Os dois apareceram na sala, de onde estava dava para vê-los, mamãe ainda usava a blusa da Anjo Sado, ela estava fazendo um plano de publicidade com Bailey, se tudo desse certo, abriria uma filial em outra cidade.

- Quer ficar pra jantar Bailey? - Ouvi ela lhe perguntar.

- Bem Joh, eu... - Ele parecia disposto a recusar, até ouvir as palavras seguintes.

- A Joalin que fez o jantar.

Ele se espantou um pouco. Assentiu uma vez, ambos se aproximaram da cozinha, Bailey tinha os olhos estreitos como se não acreditasse que eu cozinhava, ou esperasse que minha comida fosse uma droga.

- Eu faço o café, não almoçamos em casa, então ela fica encarregada da janta. - Mamãe explicou.

- Resumindo, ela fica com o mais fácil. - Brinquei, Bailey abafou o riso.

- Sim porque ela trabalha o dia inteiro. - Mamãe falando de si mesma em terceira pessoa era hilário.

Bailey parecia divertir-se com nossas discussões idiotas.

Eles sentaram à mesa, mamãe lhes serviu vinho, eu bebi meu suco de abacaxi, apesar de adorar vinho ela não me deixava beber na frente dos outros, pra manter a reputação de boa mãe, dizia. Retirei o bife do forno, pus a caçarola com arroz branco na mesa, coloquei os pratos e talheres, mamãe pegou a salada e alguns tomates cereja.

Começamos a comer, observei Bailey dar a primeira colherada e sua cara de assombro me fez prender um risinho.

- Pode dizer, ela tem a mão ótima. - Mamãe elogiou. - Minha comida não chega aos pés da dela.

- Tenho que admitir Lin. Você me surpreendeu. - Ele bebeu um gole de vinho, corei, nunca tinha mostrado meus dotes culinários para ninguém além de minha mãe e  Shiv.

- Onde aprendeu a cozinhar desse jeito? - Perguntou.

- Comecei com as revistas de receita, gostava de experimentar coisas. No início era horrível, porque eu tinha curiosidade com temperos diferentes e nem sempre acertava a dose. Hoje sei administrar a coisa...

- É verdade. - Mamãe me interrompeu. - Ela faz comida árabe Bailey, acredita? - Ele estava de queixo caído. - E com a Internet ficou bem mais fácil, comida japonesa e mexicana tornaram-se tão comuns nesta casa. - Sorriu, me senti um tantinho orgulhosa de mim mesma.

- Já pensou em trabalhar com isso Lin? - Reparei que seu prato estava limpo.

- Já. Mas quero ir pra faculdade primeiro, quero fazer administração. - Ele fez uma cara de quem não entendeu. - Porque eu mesma quero gerir meu negócio, então preciso entender do assunto.

- Sim. - Bailey parecia impressionado ao ouvir-me falar. Não entendia o porquê.

- Quer mais? - Mamãe ofereceu, ele não se fez de rogado em repetir a refeição.

Seus olhos castanhos me avaliavam de vez em quando, me peguei tentando adivinhar o que ele poderia estar pensando.

*

*

Acordei num pulo, estava tendo algum pesadelo, maldito filme de terror. A escuridão do quarto era enganosa, vi uma boneca sentada na poltrona a minha frente. Annabelle! Acendi o abajur com os dedos trêmulos, era só minha boneca antiga. Pus a mão no peito sentindo o coração palpitar frenético. Passado o susto, olhei no relógio. Não creio! Duas da manhã e meu sono parecia ter evaporado. Me joguei na cama novamente, rolei de um lado para o outro e nada. Sentei na cama, peguei o celular, mas ninguém interessante estava on-line uma hora dessas. Levantei e caminhei até o banheiro, depois voltei para o quarto e nada de sono.

Desci as escadas, preparei um copo de leite quente e subi de volta.

Me encaminhei até a varanda, uma luz fraca no quarto de Bailey chamou a atenção, deve ter dormido com o abajur ligado. Rajadas de vento frio batiam contra meu corpo, mais uma vez um céu sem estrelas, queimei minha língua ao tomar um longo gole de leite. Mais uma rajada de vento, dessa vez ininterrupta, as cortinas do quarto de Bailey balançavam forte, em uma dessas vezes vi uma cena que deveria me fazer corar e querer me esconder, mas pelo contrário, atiçou minha curiosidade e senti um formigamento em meu ventre.

Bailey estava transando com Ylona, ele estava por cima dela e eu não podia ver muita coisa, ainda tinham as cortinas, que vez ou outra me permitiam alguma visão daquilo. Meus olhos ficaram vidrados contra minha vontade, ainda tinha o medo de ser pega, ordenei que meus pés me levassem dali, mas fui contrariada. Ela enroscou as pernas em sua cintura e eu podia ver malmente o corpo dele nu, porque a claridade não focava exatamente nos dois. As mãos dela arranharam suas costas, comecei a respirar com dificuldade, senti minha calcinha úmida, mas que droga. Sentir aquilo me fez acordar, derramei o leite quente em minhas pernas.

Abafei um grito, corri pro banheiro novamente, troquei de calcinha com pressa, como fui me prestar a isso? Puta merda Joalin, se excitou com a porra do vizinho comendo a namorada, parabéns. Lavei a perna, estava um tanto vermelha, passei um hidratante na falta de algo melhor. Eu teria que parar de frequentar aquela varanda, de novo.

Voltei para o quarto, tudo bem, não sou tão inocente, já dei amassos bem dados, já toquei em meus ex namorados, mas nunca havia visto nada assim ao vivo. Me perguntei, como essas coisas funcionavam? Como em um dia os adultos estão em uma briga dos infernos e no outro estão na cama? Como se nada tivesse acontecido. Tudo bem Joalin, é só sexo, você é bem grandinha para encarar isso com maturidade, assim espero.

Minha boneca me encarava, como se me observasse, as cortinas sopraram mais uma vez, criando um clima diferente no quarto e então eu lembrei. As lembranças de agora tomaram lugar da cena explícita que rondava minha cabeça minutos antes. As novas lembranças mostravam o porquê não gostava mais da varanda, ou da piscina, ou de algumas outras coisas que cercavam minha vida.

𝐁𝐨𝐫𝐧 𝐓𝐨 𝐌𝐞  ͟͞➳ 𝓙𝓸𝓪𝓵𝓮𝔂 𝓐𝓭𝓪𝓹𝓽𝓪𝓽𝓲𝓸𝓷Onde histórias criam vida. Descubra agora