Seis Letras.

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Meu corpo permaneceu estático ao ver mamãe tomando o café com os olhos de águia em cima de mim. Bailey era todo tranquilo e adultinho, caminhou displicente até a mãe, deu-lhe um beijo na testa e um bom dia a Johanna. Serviu-se de chá e sentou a mesa, me abandonando parada com cara de tacho na entrada.

- Venha comer alguma coisa Joalin. - Vanessa se prontificou a retirar-me da inércia.

Dei alguns passos lentos até a mesa, evitando encarar Joh. Minha mão tremia vergonhosamente, ao menos nisso Bailey me ajudou, servindo o matte fumegante, nada que evitasse o tremelique seguinte. Quando pus a xícara na boca e suguei um pouco do líquido quente, eis que Joh resolve dar o ar de sua graça.

- Então. Eu sabia que você iria dormir fora. - Começou.

Pigarreei algumas vezes, engolindo em seco o chá.

- Não se preocupe Joh. Nós só dormimos.

Bailey pegou um biscoito na travessa, com toda calma. Como se estivesse falando que na primavera nascem flores. Lhe dei uma olhada nada discreta, tinha que lembrar que meu namorado era um homem maduro e bem resolvido, provavelmente, se fosse um adolescente, estaria escondido atrás de mim enquanto eu teria que resolver o assunto.

- Não vai dizer nada Lin? - Mães adoram nos constranger na frente de pessoas as quais não queremos ser constrangidas.

- Bailey já disse. - Mordi o lábio em nervosismo. - Só dormimos. Chegamos muito tarde e é isso.

Minha voz era rouca, isso acontecia sempre algumas horas após acordar. Mas hoje tinha algo mais, tensão talvez. Bailey continuava a comer biscoitos e pensando porque as mulheres são de marte e os homens de vênus, ou seja lá como fosse, aquela quietude me estressava. Adolescentes são explosivos, inquietos, contraditórios e rebeldes na maioria das vezes. Suas reações eram estranhas para mim, ao mesmo tempo em que me intrigavam, era bom ter estabilidade, mais do que isso, era ótimo. Notaram a contradição?

- Eu vim aqui conversar com a Vanessa e com o Bailey. E então é bom que estejas aqui.

Mas o bom dela, não era exatamente bom. Acho que levaria era um bom puxão de orelha e um bom de um castigo de Joh, isso sim.

- Eu já disse isso a sua mãe. Mas o alvo era você. - Seus olhos azuis cravaram em Bailey. Ele era todo blasé. - E quero que diga olhando nos meus olhos o que sente por minha filha. E nem tente mentir, porque troquei tuas fraldas, te vi crescer e te conheço bem o suficiente para saber se é verdade ou não. - Johanna não tinha um sorriso cordial no rosto. Essa mulher amedrontava às vezes, sério.

Bailey nem titubeou. Primeiro olhou para mim por algum instante. Meu coração estava pela goela, podia sentir um bolo batendo bem ali. Prendi a respiração quando um medo insano invadiu os pensamentos. E se Joh dissesse que ele estava mentindo? O que deveria então fazer?
Vanessa esperava tão ansiosa quanto nós por uma resposta. Ele largou o resto de biscoito e encarou minha mãe com serenidade e determinação.

- Eu amo tua filha Johanna. Ela é tudo pra mim e pretendo passar o restante de minha vida ao lado dela. - Me olhou com ternura. Eu mal conseguia discernir algo, já que minha boca se encontrava seca e a emoção de suas palavras me tomaram de assalto. - Se ela quiser isso também, é claro.

Seu sorriso singelo foi rápido. Pois ele se voltou para uma Joh estupefata e uma Vanessa a beira das lágrimas.

- Meu Deus garoto. - Joh piscou algumas vezes para esconder o olho marejado. - Você ama minha menina. Ama de verdade.

Vanessa o abraçou com carinho, ela deixou transbordar a água contida em seus olhos. Bailey somente assentiu o que minha mãe havia dito. E eu, bem. Prendi a respiração por tanto tempo e somado ao estômago vazio, a visão escureceu e estive a beira de um desmaio. Senti as mãos protetoras dele em volta de mim e o sussurrar de sua voz ao pé do ouvido. Recuperei os sentidos que não foram totalmente apagados.

𝐁𝐨𝐫𝐧 𝐓𝐨 𝐌𝐞  ͟͞➳ 𝓙𝓸𝓪𝓵𝓮𝔂 𝓐𝓭𝓪𝓹𝓽𝓪𝓽𝓲𝓸𝓷Onde histórias criam vida. Descubra agora