Quando seus olhos recaíram sobre tal figura, sentiu que seu coração tinha se esquecido de como bater e bombear o sangue em suas veias. Sufocou uma exclamação em sua garganta, pois queria gritar de susto, de medo e de admiração. No meio da escuridão, tal forma se movia, balançando como um pêndulo que o hipnotizava, o enfeitiçava e o fazia perder o ar. Salivou de desejo, numa fome animalesca por aquela carne, e seu corpo estremeceu frustrado por não poder possuir tão majestosa obra de arte esculpida, sem dúvidas, pelas mãos do mais talentoso artista.
Tal beleza era tão magnífica que fazia com que ele, que era ateu, passasse a crer na existência de um deus. Quem mais poderia desenhar os ângulos e as curvas daquele corpo? Quem mais poderia esculpir aqueles dedos finos e compridos que se esticavam como cobras em uma jornada descendente pelas costas de um qualquer? Ou quem mais, além de deus, poderia dar volume aqueles belíssimos lábios que se pressionavam contra outra boca qualquer? E seus olhos? Quem mais, senão deus, poderia dar forma as joias que se abriam e fechavam, inebriadas, delirando enquanto aquela mesma boca sugava a pele branca de seu pescoço?
Se tal criatura não fosse obra das mãos de um deus, então seria o deus encarnado, agraciando a humanidade com sua formidável glória. Observando-a, teve as próprias pernas tomadas por uma súbita tremedeira. Sentiu que deveria se ajoelhar. Ajoelhar-se, prostrar-se e adorar.
— Pai, ei, está tudo bem? — a voz de Allie alcançou os ouvidos de Fredrick, fazendo o coração dele voltar a bater.
— Allie... sim... — respondeu confuso enquanto a filha e uma amiga o encaravam com ar de riso. — Precisa de alguma coisa?
— Apenas checando... nós ganhamos a aposta, mas não queremos te obrigar a ficar num lugar que detesta — ela disse sorrindo e passando um dos braços sobre os ombros do pai.
— Não se preocupe, querida — Fredrick respondeu, descobrindo que seus lábios ainda eram capazes de se mover após ele ter ficado completamente boquiaberto com a pessoa que fez seu coração parar.
Allissa Lorraine Oliveira Warren acabava de completar vinte e um anos e tinha decidido festejar em uma casa noturna que ficava próxima de sua residência. Era sua primeira semana como moradora de uma cidade grande e, concordando com Samantha (ou Sam), sua melhor amiga, acreditava que deveria aproveitar a oportunidade para conhecer tudo que Chicago podia oferecer. A tal melhor amiga já morava há alguns anos no lugar e estava empolgadíssima para levar a quase irmã do interior para passear nas imensas lojas, clubes, parques e shoppings. Chegou cedo ao apartamento em que Allissa (ou Allie) morava com o pai, Fredrick (Freddy) Warren, e propôs uma aposta ao dono da casa, a quem chamava de "daddy".
Sam e Allie jogariam uma partida de pôquer contra Freddy: se o homem ganhasse, as moças teriam que contratar um daqueles serviços de carona ou um táxi para levá-las à casa noturna e deveriam estar de volta antes das três da manhã. Se as meninas ganhassem, Freddy seria obrigado a dirigir com elas para a balada, deveria esperar dentro do clube até o momento em que elas decidissem ir embora, pagaria todas as despesas da noite e não poderia reclamar caso elas ficassem bêbadas.
Allie deu em Freddy um abraço apertado, comemorando a vitória ao lado de Sam. A jovem de pele negra e cabelos escuros sabia que o pai era suficientemente bom no pôquer para vencê-las com facilidade e que tinha perdido de propósito apenas para poder proporcionar às jovens uma noite de diversão livre de preocupações.
Seria melhor assim. Allie e Sam teriam sua festa regada a álcool e certo nível de pegação, e Freddy (que não dormiria de qualquer jeito) teria seu espírito apaziguado ao poder manter as meninas debaixo de suas asas e olhos de coruja. Elas teriam segurança e ele teria paz. O único problema era que Fredrick odiava aglomerações e locais barulhentos.
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De Dentro Para Fora
RomanceFredrick Warren é um médico bem sucedido e já beirando os 50 anos. Viúvo e pai de uma jovem de 21 anos, jamais acreditaria se lhe dissessem que ele se pegaria louco de amores por uma pessoa em uma balada. Acreditaria menos ainda, caso lhe dissessem...