O fotógrafo ficou parado por um tempo, observando seu ex-marido desaparecer na pequena multidão de transeuntes que descia para os túneis do metrô. Quando se viu só, permitiu-se desabar, sentando-se na calçada para recuperar a força que parecia querer lhe abandonar. Então, se ergueu num pulo e voltou para o interior do estúdio. Seu coração saltava no peito e o ar lhe escapava. Se sentou na cadeira atrás da escrivaninha e tirou o cachecol, o casaco e a touca. Um calor horrível o consumia e seu coração batia como se quisesse fugir do peito.
Incomodado, se levantou e foi atrás de um copo d'água para acabar com a sensação de que iria se engasgar. O tórax começou a doer e os pensamentos mais absurdos invadiam seu cérebro de forma a fazer Alexander ter a certeza de que enlouqueceria.
Um ataque de pânico. Era isso. Um maldito ataque de pânico.
Gritou! E jogou tudo o que estava sobre a escrivaninha para longe. Apoiou a testa no tampo de madeira e tentou buscar ar. E estremecia e tentava se lembrar de que tudo não passava de uma crise... uma crise que já iria passar.
Dez minutos depois, Alexander se encontrava jogado ainda na cadeira da escrivaninha. Respirava melhor e seus batimentos cardíacos haviam desacelerado. Contudo, parte daquele mal resistia, removendo do fotógrafo a força e a vontade de se mexer.
Que coisa chata, não? Toda essa história... a dor, as partes ruins, a depressão, a raiva... por que não pular simplesmente para o amor? Para a resolução dos problemas? Por que essa insistência em repetir aquelas sensações ruins? Quando todos estavam apenas esperando pelo tão sonhado final feliz?
Repetindo. Insistindo em reviver os pesadelos dos quais havia escapado. Como um disco de vinil riscado que tentava avançar, mas sempre retornava para a mesma posição. Traumatizado, viciado... irreparável.
Alexander não estava triste naquele fim de tarde, não. Não era tristeza que o acometia. Quer dizer, ele era depressivo, sim, mas sua depressão não era do tipo que o deixava apático e triste. Os sintomas dela estavam mais para o lado da ansiedade e da irritabilidade. É, o sentimento que tomava o peito do fotógrafo naquele momento era a raiva. Definitivamente.
Raiva de seu passado. Dos preconceitos de merda que o tornaram tão miserável ao ponto de se jogar nos braços de um predador e ainda se sentir valorizado. Raiva de si, por estar tão quebrado, por não ser capaz de se livrar de um vício maldito, por se sentir tão mal, tão inútil, tão fraco, por não conseguir desfrutar de uma felicidade plena, por estar sempre à beira de um ataque de nervos, por estar psiquiatricamente doente, por não conseguir dormir sem remédios...
Sentia raiva de ver Luigi Bertonelli ali de braços dados com um jovenzinho bonito depois de ter destruído a vida de outra pessoa. Raiva de como ele parecia sereno, da sinceridade que exalava de todos os gestos dele enquanto pedia perdão. Odiava como tudo aquilo lhe afetava, tirando o seu chão ao ponto de desencadear um ataque de pânico. Mesmo depois de tanto tempo e, mesmo sem querer, aquele maldito homem ainda era capaz de lhe ferir. Era disso que Alex tinha raiva. De como ele era frágil, quebradiço... ridículo!
Raiva...
No entanto, enganaria-se aquele que acreditasse que a raiva só poderia gerar resultados ruins. Não. Cientistas há um bom tempo sabiam que aquela emoção possuía a função de preservar e fazer a manutenção da sobrevivência.
Uma das respostas possíveis à uma ameaça era a raiva. Ela era capaz de deixar o ser humano pronto para atacar ou defender. Biologicamente, franzia a testa para proteger os olhos, expandia as narinas para promover maior absorção de oxigênio através da respiração. O gás, por sua vez, seria usado como combustível para os músculos, tornando o indivíduo mais apto a lutar. Os dentes tenderiam a ficar à mostra, e toda a postura mudava para assumir uma aparência maior e mais ameaçadora.
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De Dentro Para Fora
RomantiekFredrick Warren é um médico bem sucedido e já beirando os 50 anos. Viúvo e pai de uma jovem de 21 anos, jamais acreditaria se lhe dissessem que ele se pegaria louco de amores por uma pessoa em uma balada. Acreditaria menos ainda, caso lhe dissessem...