30 - Quando o Medo de Machucar Machuca

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— Acho que fui promovido. — Alexander pensava no que teria dito à Freddy, se aquele dia não tivesse acabado de um jeito tão ruim — Como foi seu dia no estágio? — perguntaria à Allissa, mas que diferença isso faria agora? Apanhou mais um cigarro e o acendeu. Já era o quinto só naquela breve janela de meia hora que havia se passado desde que tinha deixado o duplex de Fredrick e se dirigido ao mercado que ficava ao lado da concessionária em que o fotógrafo comprou sua motocicleta.

O efeito da nicotina fazia seu corpo relaxar, evitando que explodisse em choro e gritos de raiva. Raiva. Alexander estava sendo acometido por uma miríade de sentimentos, contudo, naquele instante, resumia-se num poço repleto de ódio e rancor, e o cigarro funcionava como uma espécie de válvula para aliviar a pressão em sua cabeça, pois, se explodisse, não apenas se machucaria, como feriria também qualquer um que estivesse ao redor, inocente ou não.

Não que a explosão pudesse ser para sempre adiada. Não. O que Alexander queria mesmo era apenas segurar seu ódio para despejá-lo sobre aqueles que, para ele, eram merecedores.

— Boa noite, eu gostaria de falar com o gerente, por gentileza. — com um sorriso quase ameaçador, se dirigiu à atendente — Pode ficar tranquila, não tive qualquer problema com o atendimento. Só preciso pedir algumas informações. — explicou quando a moça lhe perguntou se estava tudo bem, olhando para ele com sua cara pálida enquanto tentava dar continuidade aos próprios afazeres com as mãos trêmulas.

O gerente apareceu andando em um ritmo apressado, mas não o suficiente para fazê-lo parecer nervoso — Eu conheço o senhor... — o homem gordinho e branco como uma folha de papel sorriu, estendendo a mão ao fotógrafo que, embora não quisesse cumprimentar ninguém, retribuiu o gesto.

Alexander fez as perguntas que quis e viu o gerente ficar mais calmo conforme compreendia que a visita do motoqueiro mal encarado e que parecia "prestes a matar alguém" não era um problema. Agradecendo ao homem e à gentileza da atendente, o fotógrafo montou sua moto e dirigiu até seu prédio, onde guardou o veículo e subiu, optando pelo uso das escadas, embora o elevador já tivesse sido consertado há um bom tempo. A cada degrau, tentava organizar as ideias em sua mente, buscando decidir o que dizer e o que fazer quando abrisse a porta e encontrasse duas das três pessoas que mais odiava naquele momento: Amanda e Lucas.

A terceira pessoa era ele mesmo.

O índio e a loira saltaram da posição em que estavam quando Alexander entrou de repente e passou reto pela sala, adentrando o corredor e indo direto ao quarto que o casal dividia.

— Achei que você ia dormir no Freddy hoje, Lex. — Lucas disse em um tom alegre, contudo, a menção do nome do médico fez as lágrimas retornarem aos olhos do fotógrafo que respirou fundo para não perder o controle.

Concentrando-se em seu plano, Alexander escancarou os armários do quarto de Lucas e Amanda, jogando tudo para fora. Roupas, algumas delas recém compradas, bolsas, sapatos, livros, brinquedos, tudo. Incentivados pelos sons de coisas caindo, o casal foi até a porta do quarto ver o que estava acontecendo.

— Você tá louco? — Amanda foi entrando e gritando, indo, com dedo em riste, em direção a Alexander — Quem você pensa que é pra entrar aqui e... — empurrou o fotógrafo e tentou alcançar a bolsa que ele segurava — Me devolve!

— Quê isso? O que tá acontecendo? — Lucas interviu e se pôs entre Amanda e Alexander.

— O que tá acontecendo é que a vaca da sua namorada é a porra de uma ladra! — Alexander vociferou, soltando a bolsa e mantendo o cartão de Louise na mão — Vadia, filha da puta, quer ter vida fácil roubando o que é dos outros! E você sabia! — avançou em direção a Lucas e o empurrou para longe..

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