22 - Rotineiras Recordações Numa Manhã de Segunda-feira

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O despertador tocou às cinco da manhã de segunda-feira e Freddy abriu os olhos para observar o ritual que se repetia sempre que Alexander tinha que se levantar para ir trabalhar.

Tudo acontecia da mesma maneira, como se o fotógrafo fosse uma máquina programada para executar uma sequência de ações. O alarme precisava tocar pelo menos três vezes, em intervalos de cinco minutos, antes que Alex se sentasse na cama e passasse cerca de dez minutos encarando a escuridão do quarto. Fredrick podia enxergar a barra de carregamento do sistema operacional do fotógrafo sendo preenchida devagar, completando-se no exato instante em que ele pulava da cama e caminhava até o banheiro.

O médico gostava de ver aquela parte, em especial, quando Alexander estava nu.

Freddy não se dava o trabalho de anunciar que estava acordado, preferindo fingir que dormia todas as vezes que Alex direcionava a ele sua atenção. Sentia um estranho prazer em vê-lo agir com a certeza de que não estava sendo observado, cuidando das coisas que nada tinham a ver com o médico e com o relacionamento que mantinham.

O doutor se divertia em vê-lo já parcialmente arrumado, usando uma toalha sobre os ombros para aparar as gotas d'água que escorriam de seus cabelos lavados e, penteando a barba com os dedos melados de um creme que cheirava a gin. Nesses momentos, normalmente, Alexander verificava o conteúdo de seus pendrives a fim de garantir que não se esqueceria de nada necessário para as aulas ou para o trabalho autônomo no estúdio que alugava.

Fredrick também gostava de pensar sobre as diferenças que existiam entre eles.

Alexander era tão tecnológico, sempre grudado no smartphone, ou concentrado nas tarefas que, normalmente, o faziam ficar horas diante da tela de um notebook surrado. O médico, por sua vez, pensava que iria enlouquecer, caso seu trabalho fosse tão dependente de aparatos tecnológicos. Outra coisa que jamais conseguiria fazer era cozinhar enquanto escutava música com fones de ouvido. Alex era mestre nisso e Freddy sempre ria ao encontrar o fotógrafo dançando em uma cozinha, aparentemente, silenciosa.

Sempre.

Que palavra estranha para usar no início de um relacionamento que sequer tinha nome. Sempre. Estavam juntos há quanto tempo? Há alguns meses?

— Eu sou péssimo com datas de aniversário. Mal lembro a minha. — Alexander disse em algum momento depois de terem estabelecido que o relacionamento que tinham não poderia ser abarcado no conceito de amizade colorida.

— Mas que maravilha! — Freddy comemorou — Faz assim, a gente comemora no aniversário da Allie, já que foi quando a gente se conheceu...

— Tá, mas você vai ter que me lembrar quando estiver chegando o aniversário dela. — riu o fotógrafo.

— E você acha que eu sei? Recebo notificação no celular para lembrar — confessou — Pra não dizer que essas coisas não tem qualquer vantagem...

Sempre.

Era estranho que tivessem tido aquela conversa sobre se lembrar da data em que se conheceram. Até parecia que já eram capazes de vislumbrar um futuro no qual completariam um, dois ou três anos de quê? Namoro?

Sempre.

Era isso o que eram agora? Namorados? Por inventarem qualquer desculpa para poderem ficar juntos durante os dias úteis e nos finais de semana? Qual seria o próximo passo? Apresentarem-se para os amigos e familiares? Como? Se sequer andavam de mãos dadas? Se nem se beijavam em público?

Sempre.

E Alexander desligava o notebook, guardava o pendrive em sua mochila e se virava para o lado, curvando-se inteiro a fim de alcançar o rosto de Fredrick que ainda fingia estar dormindo. Mordia o lóbulo da orelha dele, sorrindo ao ver a pele se arrepiar em resposta ao ato. Somente aí é que o médico abria os olhos e deixava escapar um bom dia em tom preguiçoso. Nem precisava olhar para os raios de sol a invadirem o quarto pelas frestas das persianas que cobriam as janelas, pois podia apostar que eram exatamente seis da manhã.

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