25 - Um Gay, Putos Nazistas e Uma Bolsa de Pedrinhas (de Diamantes)

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— Estou me relacionando com um homem. — Fredrick finalmente falou e seu coração começou a parar de bater. Colocar aquelas palavras para fora era, ao mesmo tempo, maravilhosamente bom e aterrador.

— Como é? — a doutora Louise indagou instintivamente, não porque não havia sido capaz de entender as palavras ditas, mas porque não tinha conseguido processá-las.

— Estou me relacionando com um homem. — Freddy repetiu e a cara de estupefação da diretora do hospital o levava a pensar que contar para ela tinha sido um erro.

— Me desculpe, é que... — Louise tratou de se recompor, puxando as alças da regata roxa que usava e enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans. Então ela se encostou no balcão que separava a sala da cozinha do duplex do médico e voltou a falar — Isso é e não surpreendente e... eu não esperava que fosse me contar assim, tão de repente.

— Pode parecer de repente para você, mas... venho pensando nisso há algumas semanas e... concluí que a melhor forma de lidar com esse assunto é sendo sincero. Sendo honesto comigo e com as pessoas ao meu redor. — Fredrick explicou, se sentando no sofá e fitando o mundo além da imensa janela.

Louise observou as feições de Fredrick e suspirou. Tão logo as férias de verão começaram, o projeto do livro foi posto em prática e, tal como a doutora havia previsto, os encontros semanais que tinham para tratar do assunto eram ótimas oportunidades para uma investida romântica.

Contudo, embora ela, de fato, tenha ficado mais próxima do doutor Warren, tal aproximação se dava apenas pelo espectro da amizade. A cada dia, Martha Louise tinha menos esperança de que poderia ser mais do que uma simples amiga.

E agora ela sabia o porquê.

Não que a doutora não tivesse suas suspeitas. Era a tal intuição feminina aliada às pequenas evidências deixadas aqui e ali. Quando, meses antes, assustou Freddy sem querer durante um exame ortopédico em um paciente de sobretudo amarelo, Louise teve a impressão de que a relação entre médico e paciente excedia os limites profissionais.

Por que diabos eles tinham ficado tão assustados? E por que, durante um exame, perderam a noção da realidade ao ponto de não escutarem as batidas na porta? Naquele dia, a diretora do hospital se despediu de Fredrick, após se desculpar pela intromissão, com uma cara de "aí tem".

Depois, perdeu a conta de quantas vezes cruzou com um doutor Warren com cara de bobo e a digitar algo no celular. O sorriso singelo que se formava, provavelmente, inconscientemente em seu rosto, iluminava-o por inteiro, denotando, também pela quantidade de vezes que ele secava as mãos suadas nas próprias calças, que Fredrick estava apaixonado.

Sendo uma psiquiatra, Louise sabia reconhecer os sinais bem demais e, agora, se amaldiçoava por, mesmo diante das evidências, ter nutrido a esperança de que, se passasse tempo suficiente com Freddy, ele desenvolveria algum interesse romântico por ela.

— É o paciente de sobretudo amarelo? — indagou a mulher.

— Foi só eu que achei ou ele ficou incrivelmente lindo com aquela roupa? — Freddy sorriu, mas seu tom era melancólico.

— Se me lembro bem, o cara é até bem bonito. — Louise admitiu. Não estava se sentindo exatamente mal pela revelação do médico, mas ter que abandonar a ideia de ser qualquer coisa além de amiga para Fredrick não a agradava — Fredrick, qual é o problema? — decidiu ir direto ao ponto. Por hora, não aguentaria ver o doutor a falar do quanto gostava do tal homem — Embora eu saiba que a revelação de qualquer coisa relacionada a sexualidade normalmente gera certa apreensão, não acho que é por isso que está com essa cara de cachorro abandonado. Quer me contar o que houve?

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