SOBRE UM PRÍNCIPE E AMORES ARTIFICIAIS [COMPLETO]

05. EU DEVERIA TER PULSO FIRME

Voltar para o salão e participar do jantar como se nada fora do comum tivesse acontecido foi difícil. Como se já não fosse ruim o suficiente ter de lidar com Taylor e Travis sentados lado a lado e sussurrando como amantes, quase como se quisessem me provocar, eu não conseguia parar de pensar sobre ter agido mal com Sofya e cada vez mais tinha certeza de que acabaria a procurando em busca de alívio de consciência. Certamente, após pedir desculpas, seguiria minha vida como se nunca houvéssemos nos conhecido e tudo voltaria aos eixos. Isso é, se Taylor também resolvesse colaborar comigo.

Assim que papai encerrou o jantar ao terminar de comer e todos os convidados (inclusive eu) se retiraram em respeito, aleguei dor de cabeça (o que era parcialmente verdade) e voltei a ficar recluso em meu quarto, onde ainda estava mesmo o dia tendo amanhecido há muito tempo.

Felizmente, com algumas pessoas eu ainda podia contar.

"O seu café-da-manhã acaba de ser servido na mesa da varanda, conforme o solicitado, vossa alteza", Edwin, a quem mamãe contratou há quase quatro anos com o intuito de ser meu valete e assistente, avisa ao voltar para o quarto.

Ele é apenas alguns anos mais velho do que eu, mas às vezes sinto que há um abismo entre nós. Edwin é extremamente inteligente e centrado, o que me faz crer que merecia um trabalho muito melhor do que apenas organizar a minha vida para mim. Mas como ele nunca reclama....

"Obrigado, Edwin", eu digo. "Você está dispensado, por enquanto".

Arrisco um sorriso, mas tudo o que ganho dele é um aceno educado antes que Edwin saia do quarto acompanhado de duas outras silenciosas funcionárias (as responsáveis por organizar o meu café-da-manhã individual, imagino) e eu siga para a varanda, onde me sento à mesa.

É final de primavera e quase verão em Orion.

Em outras palavras, se há alguns meses estávamos passando por um período mais frio que o normal, agora sofremos com manhãs quentes e me arrependo por estar com uma camisa de mangas longas e calça de moletom. No entanto, não tenho tempo para ponderar me trocar antes de comer ou só depois, porque meu quarto é invadido por um furacão que se nomeia Lucas.

"Finalmente te encontrei!", o caçula dos irmãos Durkheim exclama, cruzando toda a extensão até a varanda de forma rápida, onde se senta à minha frente.

"Falando assim até parece que eu estava escondido e não no meu próprio quarto", percebo, servindo-me de um generoso copo de suco de laranja. "Por acaso aconteceu alguma coisa que eu deveria saber?".

"Eu quem pergunto, levando em consideração que foi vossa alteza quem não apareceu para tomar café-da-manhã no salão de refeições como todo mundo", Lucas rebate, pegando um pão no cesto e o enchendo com geleia de romã. "Desde ontem você está esquisito, Leo. Isso tem algo a ver com a Taylor e a súbita amizade dela com o lorde Ventura?".