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Dirigi o mais rápido possível para Nova York, pensando no que poderia estar acontecendo com Tommy.
Por mais rebelde e selvagem que ele fosse desde pequeno, Tommy costumava ser muito próximo de mim e de Ariana. Ele nos contava tudo, e adorava ficar conosco. Porém, eu também sabia que ele tinha um pavio curto, podia ser violento se fosse provocado e facilmente se metia em problemas. E nós, como seus pais sempre estávamos ao seu lado para repreendê-lo e ajudá-lo a corrigir sua conduta e seus erros.
Quando ele tinha uns treze anos, a situação foi por água'baixo. Ele se envolveu numa primeira briga com um colega de classe, e nunca soubemos o motivo. Contudo, desde então ele se afastara de nós. Ou estava com os amigos do time de futebol, ou estava trancado no quarto, ou saia escondido de casa durante a noite para ir à festas. Suas notas só pioravam e a cada dia ele se tornava mais arrogante e agressivo.
Assim que cheguei na escola, me direcionei imediatamente à diretoria. Tommy esperava do lado de fora, sentado num dos bancos, fitando o chão, irritado. Me assustei ao ver a grande mancha roxa ao redor do olho dele.
Bufei e me aproximei.
— Onde está a mamãe? — indaguei, sério. Odiava ver o meu filho naquele estado e esperava que ele entendesse que só queríamos o bem dele.
— Já está lá dentro. — rosnou ele, sem conseguir me olhar nos olhos, apontando para a porta da sala do diretor.
— Nós vamos ter uma conversa muito séria depois. — falei, entrando na sala. — Desculpem o atraso. — murmurei, fechando a porta atrás de mim. Eu e Ariana trocamos olhares tristes.
— Sente-se, senhor Martell. Já estávamos começando. — disse o diretor. — Como já deve saber, houve uma briga séria no vestiário masculino, antes aula de educação física. Seu filho, Thomas, iniciou.
— Qual foi o motivo da briga? — perguntei.
— Não sabemos. — respondeu. — Só sabemos que Thomas atacou um colega, que se defendeu, e ambos acabaram machucados. Thomas também quase quebrou o nariz do professor quando ele estava tentando separar a briga. E nós sabemos que não é a primeira vez que ele começa uma briga.
— Nós sabemos, e sentimos muito. — disse Ariana, de cabeça erguida. Eu sabia que ela estava tentando parecer forte, mesmo que se sentisse muito mal e culpada com as péssimas atitudes do nosso filho. — Qualquer punição que o senhor aplicar à ele, faremos questão de que ele cumpra. E nós mesmos o puniremos. Queremos a mesma coisa, não é? Ajudar Tommy.
— Eu temo que não há nada que nós, como colégio, possamos fazer para ajudá-lo.
— Como assim? — franzi as sobrancelhas. O diretor soltou um suspiro triste.
— Na última briga de Tommy, dissemos que seria sua última chance. Infelizmente, as notas dele não melhoraram e seu comportamento continua agressivo. Eu sinto muito, senhor Martell e senhorita Baker. Thomas pode terminar o segundo ano aqui, mas não o convidaremos para retornar ano que vem para o seu último ano. — explicou o diretor.
Coloquei a mão na cabeça, sentindo que a dor ali estava piorando. Meu filho, Tommy, expulso do colégio?! Eu nunca havia me sentindo tão impotente. Eu sentia que meu filho estava jogando sua vida fora, e não podia fazer nada. Tommy era inteligente, e bem lá no fundo tinha um bom coração, mas parecia estar jogando sua vida fora, e eu não sabia mais o que fazer.
— Eu não estou defendendo ele. O que ele fez é terrivelmente inaceitável. — falei, cabisbaixo. — Mas o outro garoto não vai ser expulso, vai?
— O outro garoto não começou a briga, senhor Martell, apenas se defendeu.
— Mas eu conheço meu filho e sei que ele só se torna violento quando provocado, ou quando irritam ele. Não deveriam investigar isso?
— Tendo provocado ou não, foi o seu filho quem partiu para violência física e é ele quem tem um histórico de brigas e confusões. — disse o diretor, se levantando. — Eu sinto muito, ele precisa ir.
Dito isso, nos despedimos do diretor e saímos da sala pisando firme.
— Vamos. — ordenou Ariana, num tom severo. Tommy revirou os olhos e nos seguiu.
— O que devemos fazer? — sussurrei para ela. — Proibir ele de falar com os amigos, e de jogar futebol e videogame?
— Tirar as únicas coisas que ele gosta não vão ajudar. Só vai dá-lo mais um motivo para agir como um adolescente revoltado que odeia os pais. — disse ela, e realmente fazia sentido. Quando eu era jovem e minha mãe me colocava de castigo, eu ficava com mais ódio dela. Agora, como um pai, eu entendia que tudo que ela queria era o meu bem. Eu queria que Tommy soubesse isso. Que não importava o que acontecesse eu ainda acreditava nele e nunca desistiria dele.
— Então... quando a bronca vai começar? — murmurou Tommy, em tom de deboche, assim que chegamos perto do estacionamento. Eu senti o calor da raiva subir pelo meu corpo.
— Não venha com essa atitude! — bradei, me virando para lançá-lo um olhar rigoroso. — Não sei se sabe, mas é assim que funciona um relacionamento entre pais e filhos! Se você pisar na bola, nós temos que te repreender. E você não só pisou na bola, você a esmagou e a destruiu completamente! Thomas, você foi expulso do colégio! E, mesmo assim você não aprende!
— Você vai escrever uma carta para o diretor, se desculpando com ele, com o professor, com o colégio por suas atitudes ao longo dos anos e agradecer por tudo que você aprendeu lá! — exclamou Ariana. — E nada de carro.
— E como eu vou me locomover?
— Sua mãe e eu te levaremos e te buscaremos na escola. — esclareci.
— E, você vai escrever outra carta, um para o garoto, se desculpando por começar a briga.
— Comigo ele não vai se desculpar. — protestou.
— Eu não ligo para o que ele vai fazer. — disse Ariana. — Eu sou a sua mãe, e você vai fazer como eu mandar.
— Acabou?
— Não, não acabou. E você não me interrompe enquanto eu estiver falando. — vociferou ela, mantendo-se firme.
— Desculpe. — Tommy abaixou a cabeça.
— Você só poderá ir a lugares que não são a escola se eu ou seu pai aprovarmos. E, só se você tiver feito os deveres de casa do dia, limpado seu quarto, seu banheiro e lavado suas próprias louças e roupas. Sim, nós vamos conferir seus deveres de casa como se você tivesse oito anos. Porque você está agindo como uma criança imatura, então te trataremos como uma.
— Me deixe perder meu sapato e eu me torno a Cinderela. — rezingou Tommy.
— Não seja dramático e entra no carro. — mandou ela.
— Nos dê as chaves do carro. — disse eu. — Você perdeu o direito de ter um carro e está perdendo a nossa confiança.
— Tá, tanto faz. — ele as entregou para mim, dando de ombros.
— Nós estamos muito...
— Decepcionados? — Tommy me interrompeu, nos encarando com mágoa. — É, eu sei.
E então entrou no carro.
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A MÃE DO MEU FILHO
RomanceQuinze anos depois que Ariana Baker apagara aquela mensagem que o pai do seu filho deixara na caixa postal, a vida de Jason Martell nunca mais foi a mesma. Agora, ele vivia em New Heaven com o meio-irmão, tendo que administrar seu tempo entre o trab...