Capítulo Trinta e Oito

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Por causa da briga do dia anterior, Ariana havia acreditado que o carro de Sam havia sumido porque ele decidira ir embora. Contudo, ele, na realidade, viajara para uma cidade vizinha para visitar a joalheira de um amigo do pai de Ariana, e comprar as alianças. Quando ele retornara, os dois haviam conversado e se resolvido. No jantar daquela noite, o pedido fora feito. Ariana fizera justamente como eu a aconselhara e não houve nenhuma resposta além de "eu aceito".

Uma vez presente naquele jantar de noivado, eu tive que colocar um sorriso no rosto, ouvi-los contar aquela história e celebrar. Eu nunca me senti tão estúpido. Como pude pular de cabeça num sentimento há tempos esquecido? Como pude ser tão idiota, a ponto de correr para sua casa com o objetivo de expressar meus sentimentos, embora soubesse que ela amava Sam? A cada minuto que passava o peso da verdade parecia ser mais real sobre os meus ombros. Ariana iria se casar. Sam seria o padrasto de Tommy. Eles teriam filhos, e eu perderia minha posição "especial" de pai do filho dela. Não. Eu não seria tão egoísta. Se eu a amava, teria que ficar contente ao vê-la feliz, por mais que fosse com outra pessoa.

Não demorei para ir embora. Exausto demais para voltar caminhando para casa, me arrastei na direção à praça que ficava no bairro de Ariana, em busca de um táxi. Porém, acabei involuntariamente indo parar na ponte sobre um pequeno lago, com a pintura de um olho castanho gasta sobre ela. Quando meu pai me convencera de que o melhor a se fazer por Ariana era deixá-la ir, nós tivemos uma discussão terrível, mas eu logo percebi que estava errado. Por isso, havia pichado aquela ponte quinze anos atrás, como uma surpresa para Ariana. Eu deixei uma mensagem em sua caixa postal, contando toda a verdade e pedindo que me encontrasse ali. Porque eu, que sempre fugi de comprometimentos sérios, estava pronto para um relacionamento. Mas ela nunca apareceu, e foi assim que eu soube que a havia perdido pois ela não me amava mais.

Sozinho, enfim, deixei as lágrimas silenciosamente rolarem.

Quando cheguei em casa, minha mãe ainda estava dormindo. Para entrar no seu quarto sem fazer barulho para que ela não acordasse, pressionei lenta e delicadamente a maçaneta para que a porta não rangisse ao abrir. Me inclinei sobre ela e depositei um beijo em sua testa. Em seguida, revolvi ir para a cozinha e preparar uma sopa de galinha para a minha mãe, usando a receita que ela fazia quando eu ficava doente. Eu não era um chefe excelente como Sam, mas poderia me virar muito bem. Além disso, eu precisava espairecer e me distrair dos acontecimentos recentes que mexeram com as minhas emoções e me desestabilizaram de certa forma. Fora tudo muito rápido desde o infarto da minha mãe ao pedido de casamento; eu precisava processar.

Assim que terminei de colocar os ingredientes na panela, a campainha tocou. Meus lábios se abriram em um largo sorriso ao ver o senhor Williams do outro lado da porta. Um grande amigo do meu padrasto Thomas e dono do museu de artes que eu costumava trabalhar. Também era uma grande inspiração como pintor e escultor. Foi graças à ele e as oportunidades de emprego que ele me dera, que eu pude garantir o dinheiro para cuidar dos primeiros anos de vida de Tommy.

— Senhor Williams! — exclamei, alegre ao revê-lo, tentando esconder o cansaço e tristeza da minha voz. — Que surpresa!

— Jay, meu garoto! — disse em tom de brincadeira, se aproximando para me abraçar, dando leves tapinhas nas minhas costas.

Apesar de haviam se passado anos da última vez que o vi, aquele homem continuava exatamente igual. Usava óculos quadrados de armação grossa e suspensórios. Ele era baixo, careca, e possuía um cheiro de tabaco. Sendo uma das únicas pessoas que eu conhecia que ainda fumavam, era uma verdadeira relíquia para o mundo e uma pessoa com um grande coração bondoso.

A MÃE DO MEU FILHOOnde histórias criam vida. Descubra agora