Capítulo 7

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Aproveitei que o dia estava tranquilo na oficina e voltei para o problema do som do meu carro. Ainda não tinha consertado o leitor de CD. Não que isso fosse fazer diferença, nem CD eu tinha. Mas de alguma forma eu queria ele funcionando perfeitamente. Quando meu pai tinha me dado o carro, que tinha sido seu primeiro, ele estava com tudo funcionando. Queria manter assim.

Estava tão concentrado que nem ouvi quando ela chegou. Só depois de alguns segundos, quando escutei Pleyson falando com alguém, que levantei a cabeça e a vi.

Respirei fundo. Ver ela era a última coisa que eu queria, mas pelo visto eu não teria escolha. Na verdade, tinha sido até bom ela aparecer, estava com as roupas dela no banco de trás.

Saí do carro e os dois estavam discutindo, como de costume.

- Descabelada – Pleyson disse e virou de costas.

Giovana aproveitou para levantar o dedo do meio para ele.

- Dando dedo? – parei atrás dela – Não achei que você descia a esse nível?

Ela se virou para mim e sorriu.

- Você não faz ideia do quão baixo eu posso chegar.

Eu sorri e bufei. Ah, como eu fazia...

- Na verdade, eu faço sim – falei e me dirigi até o carro – Foi bom você ter aparecido – abri a porta traseira e peguei suas roupas – Tenho algo seu.

Joguei em sua direção e ela pegou no ar. Ela olhou a calcinha na mão e deu um sorriso safado.

- Tem certeza que não quer ficar com isso? – perguntou.

Cruzei os braços e me escorei no carro.

- Achei que você tivesse desistido.

Quando ela saiu da minha casa no outro dia, era isso que ela tinha dito. Eu desisto. E desde então eu estava travando uma guerra interna comigo, entre querer que ela não tivesse desistido e querer que ela finalmente tivesse me deixado em paz. Mas no fundo no fundo, eu sempre soube que ela voltaria. Só achava que demoraria mais tempo. Ela realmente tinha ficado irritada aquele dia.

- Foi... – ela se aproximou lentamente – Mas aí eu pensei melhor... – mais um pouco – E resolvi desistir de desistir – então ela parou na minha frente. E eu não fiz nada – Você vale a pena.

Eu ri e balancei a cabeça.

- Mas você não – falei.

Então ela sorriu, desafiadora, e extinguiu o espaço entre nossos corpos, colando o dela em mim.

- Tem certeza? – ela aproximou o rosto e encarou minha boca – E se eu me aproximasse mais um pouco?

Parado eu estava, parado eu fiquei. Alguma coisa dentro de mim queria que ela continuasse.

Ela se aproximou mais, lentamente, me provocando enquanto eu tentava não deixar ela saber que estava me afetando. Mas antes que ela chegasse à minha boca, Pleyson apareceu e me salvou.

- Garota – ele disse – Aqui é uma oficina e não um consultório de psiquiatria – encarei ele – Eu não trato do seu distúrbio de narcisismo aqui. Se não tiver nenhum problema com o carro, dê o fora.

Eu ri. Ela revirou os olhos, irritada, e se afastou.

- Eu já estou indo embora – ela sorriu ironicamente – Vou te deixar em paz para atender seus outros clientes. Ah não, espera... – ela olhou ao redor – Você não tem mais clientes.

- Quando você conseguir domar seu cabelo eu vou ter mais clientes – ele retrucou.

Eu fiquei no meio, rindo.

O Ardor da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora