Capítulo 11

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Abri a porta de casa e olhei para a cozinha, já esperando vê-la ali. Mas ela não estava. O barulho do chuveiro ligado preencheu o silêncio e pude ouvi-la cantarolar. Um sorriso surgiu em meu rosto espontaneamente, mas logo em seguida me forcei a tirá-lo de lá.

Joguei minha pasta em cima da bancada e olhei a pilha de jornais ao lado. Hoje eu não tinha comprado um jornal. Tinha passado em frente à banca, como faço todos os dias, mas não entrei para comprar. Fiquei minutos parado em frente à porta, decidindo entre ser racional ou emocional. Porque uma parte de mim sabia que ela tinha que ir, mas a outra metade queria que ela ficasse.

Então meu relógio despertou e já estava na hora de voltar para a aula. A desculpa caiu bem na hora. Não deu tempo de comprar. Mas eu sabia que tinha dado. Eu só não quis fazer. Eu fui irracional. E eu estava prestes a ser ainda mais.

Peguei a pilha de jornais que estava encima da bancada e joguei todos no lixo, depois amarrei o saco e desci as escadas até o térreo apenas para jogá-los no contêiner, longe das mãos dela. Eu sabia que ela não tinha lido nenhum. Mas hoje ela iria saber o resultado do estágio e, se ela conseguisse, eu sabia que iria querer os jornais por perto.

Subi as escadas e, antes de entrar no apartamento, apoiei as costas na parede do corredor e suspirei. O que eu estava fazendo afinal? Nós éramos uma confusão juntos e nem estávamos de fato juntos. Ela só estava ali de favor. Eu era só o colega, no máximo o amigo. Ela não quis o pai tomando conta dela, quanto mais eu. O que eu estava pensando? Que iria mantê-la por perto até ela se apaixonar por mim ou sentir qualquer coisa mais que só desejo. Era estúpido. Eu estava sendo idiota. Eu estava me entregando. Ela estava derrubando minhas barreiras com uma facilidade monstra. E ela estava quase conseguindo entrar. Mas eu não podia deixar.

Respirei fundo mais uma vez e abri a porta. Giovana estava na cozinha e se virou em minha direção. Abriu um sorriso, suas covinhas marcando suas bochechas. Deus, como eu amava aquelas covinhas.

- Onde você estava? – ela perguntou.

Dei de ombros.

- Fui colocar o lixo para fora.

Ela se virou para o fogão de novo e começou a preencher dois pratos com macarrão. Sentei em uma das banquetas e fiquei observando ela.

- Como você está? – perguntei – Nervosa?

Ela riu.

- Muito.

Ela se virou e colocou meu prato e o dela em cima da bancada, pegou os talheres e depois deu a volta, sentando ao meu lado.

- Você vai conseguir – eu disse – Não se preocupe.

Ela me olhou de lado, sorrindo.

- Obrigada pela força – ela disse – Eu não sei o que seria de mim sem você.

Eu tive uma vontade irracional de me inclinar e beijar sua boca ali mesmo. Vinha tendo essa vontade muitas vezes desde que ela tinha se mudado para lá. Mas eu não fiz e nem iria fazer. Eu tinha que manter ela longe. Bem longe.

- De nada – eu disse.

Naquela noite não consegui dormir direito. Fiquei acordado pensando na Anna, na nossa história e na Giovana. Dois anos tinham se passado depois de tudo e eu ainda conseguia me pegar lembrando dela, sentindo sua falta, e sofrendo uma dor que já deveria ter sumido. Mas nos últimos meses algo tinha mudado.

Olhei para Giovana ao meu lado, na cama. Talvez eu tivesse sido idiota. Talvez eu devesse ter me permitido me envolver antes porque agora outra pessoa parecia a solução. Acontece que ninguém tinha despertado meu interesse até aquele momento. E eu não me sentia muito seguro quando essa pessoa era a Giovana. Porque eu tinha essa sensação de que ela iria deixar meu peito ainda mais bagunçado do que já estava.

O Ardor da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora