Capítulo 20

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Cheguei em casa e fui direto no meu notebook. Abri meu e-mail e procurei a resposta do escritório de advocacia que tinha me aceitado. Cliquei em responder e respirei fundo.

Eu iria mesmo fazer isso?

Sim, eu iria. Não tinha sobrado nada para mim em Brasília.

Respondi dizendo que meu e-mail tinha sido hackeado e que só agora tinha conseguido recuperar. Perguntei se a oferta ainda estava de pé, torcendo para que sim, e enviei o e-mail.

Eu tinha demorado muito tempo para responder, precisava de uma desculpa. E precisava de muita sorte também.

Me sentei na frente do computador e fiquei encarando a tela, esperando que a resposta fosse aparecer imediatamente. Mas ela não aparecia.

Levantei da banqueta e fiquei andando de um lado para o outro. Fui na geladeira, peguei uma coca para beber. Abri a latinha e dei apenas um gole, largando ela na pia e voltando para o computador. Nada da resposta. Nada.

Continuei andando, focando meus pensamentos no meu plano. Responder o e-mail. Ser contratado. Fazer minhas malas. Liberar o apartamento. Comprar uma passagem. Ir para São Paulo.

Eu ficava repetindo isso vezes seguidas na minha cabeça. Eu precisava. Porque se deixasse meus pensamentos livres, eu iria voltar para ela. Iria voltar para aquela cena. E eu não podia. Eu não podia porque toda vez que lembrava era como se meu coração quebrasse de novo. E de novo. E de novo.

Alguém tocou o interfone. Fiquei encarando ele.

Será que era a Giovana?

Avancei em sua direção com esse pensamento, mas parei no meio do caminho. Não. Se fosse ela, eu não podia atender. Não podia ouvir a voz dela. Não podia ver ela. Eu não queria. Ela tinha feito sua escolha.

Sentei na banqueta de novo e atualizei o e-mail. Nada.

Meu telefone tocou. Era Pleyson. Atendi.

- Abre logo a droga dessa porta – ele gritou do outro lado e desligou.

Não era ela. Era Pleyson.

Uma decepção do tamanho do mundo tomou conta de mim. Não era ela. Ela não tinha vindo atrás de mim. Ela tinha me deixado ir, sem nem tentar.

O interfone tocou de novo, me tirando do meu devaneio.

Abri.

Dois minutos depois Pleyson bateu na porta. 

- Que porra está acontecendo? – ele entrou – Sua mãe me ligou dizendo que você pediu para ficar na casa dela, que ia se livrar do apartamento.

Sentei na banqueta de novo e voltei a atualizar a página.

- Pedro! – ele chamou.

A página atualizou com uma resposta.

Sim.

Sim, a vaga ainda está disponível. Sinto muito pelo que aconteceu com seu e-mail, achamos que tivesse desistido. Por sorte, o emprego ainda é seu se você quiser.

Eu congelei, olhando para a tela.

- Pedro! – Pleyson me gritou.

Engoli em seco.

- Eu vou para São Paulo.

- O que?!

Ele puxou o computador para si e leu. Depois me encarou.

- Você voltou atrás – falou – Por quê?

Eu não respondi. Então ele me olhou nos olhos e a ficha pareceu cair.

O Ardor da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora