Epílogo

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Alguns anos depois...

Olhei o relógio no meu pulso mais uma vez e voltei a prestar atenção nas notícias pela televisão. Estava passando uma reportagem sobre mais um ataque terrorista na Europa. Alguém tocou meu ombro.

Virei o rosto esperando qualquer um, menos a pessoa que estava na minha frente. Meu queixo caiu. O que ela estava fazendo ali?

- Anna? – perguntei, atordoado.

Ela deu um sorriso.

- Oi, Pedro.

Depois de dez anos, ela tinha mudado pouca coisa. Parecia mais madura, mas ainda era a mesma.

- O que você está fazendo aqui? – perguntei, ainda não acreditando no que estava vendo.

- Eu voltei – ela riu – Estou de volta ao Brasil. Definitivamente.

Encarei ela, tentando processar as informações.

- Hm... Legal – foi tudo o que disse.

Ela abaixou a cabeça e colocou o cabelo atrás da orelha. Foi como um flashback. Ela vivia fazendo isso. Às vezes chegava a ser irritante. Engraçado como eu tinha apagado totalmente isso da memória.

- Eu fui na oficina te procurar – ela disse, voltando a olhar para mim – Ainda está no mesmo lugar – ela sorriu.

- É, ainda está no mesmo lugar – eu continuava fitando ela, um pouco atordoado e um tanto desconfortável. Eu não esperava vê-la nunca mais.

- Pleyson não quis muito papo comigo. Disse que você estava trabalhando aqui nesse prédio agora – ela sorriu em minha direção e então eu pareci despertar do torpor em que estava. Eu senti falta das covinhas nas bochechas. Das covinhas da Giovana. Anna não tinha elas – Eu fiquei sabendo que ele casou. Incrível, não? Nunca achei que Pleyson iria casar.

Sorri educadamente.

- Nem eu.

Ela continuou me encarando com o sorriso no rosto, depois fez a mesma coisa que antes. Abaixou a cabeça e colocou o cabelo atrás da orelha.

- Você não mudou nada – ela comentou – Está exatamente igual.

- Você também não.

- Jura? – ela não parava de sorrir e isso estava me incomodando – Que bom.

Eu não disse nada. Ela não disse nada. Em alguns segundos o silencio começou a ficar constrangedor, então ela mudou a bolsa de uma mão para a outra e pigarreou.

- Eu não sabia como seria esse reencontro – falou – Eu estava meio nervosa. Não sabia como iria me receber. Você sabe... As coisas não ficaram bem entre a gente quando eu fui embora.

- Já faz dez anos, Anna – comentei – A vida continua. A gente supera.

O sorriso dela desmanchou por alguns segundos, mas logo em seguida ela voltou a sorrir de novo.

- Sabe, faz algum tempo que eu me pergunto se eu fiz a escolha certa. Às vezes eu acho que fiquei com o cara errado.

Encarei ela, sem reação nenhuma. Eu não sabia o que ela estava esperando daquela conversa e também não sabia o que ela queria me dizendo essas coisas.

- Então não deu certo na Alemanha, não é? – falei, apenas.

Ela balançou a cabeça e deu de ombros.

- Coisas da vida – suspirou – Eu cheguei a casar, sabia? A gente ficou junto por algum tempo e depois... – ela riu, um tanto histérica – Depois ele decidiu que não queria mais. Levei um ano para conseguir voltar para o Brasil.

O Ardor da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora