D o i s

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Hanna.



        " Era meu aniversário de 18 anos, mamãe sabia que eu era reservada e não ligava para festas, más ela insistiu em fazer e ela organizou tudo, a festa teria sido incrível, más em cima da hora ela precisou correr para buscar o bolo, já que ligaram avisando que não poderiam fazer a entrega, os convidados já estavam na nossa casa, ela ficou tão nervosa com a ligação tão em cima da hora que saiu correndo para o carro e não olhou a rua antes de atravessar. Eu estava sentada conversando com umas amigas do colégio quando a vi sair às pressas, não demorou muito e ouvimos o som. Corremos todos para fora e ela estava caída na calçada de uma casa à alguns metros de distância, escorria sangue da sua cabeça e quando eu cheguei até ela seus olhos antes verdes e vivos, agora estavam vítreo e sem vida e seus cabelos loiros estavam manchados de sangue. A pancada foi muito forte, ela morreu na hora".





Acordei suando frio, como de costume algumas lágrimas escorriam de meu rosto, iam completar 7 anos desde que ela morreu, e eu ainda tinha pesadelos com aquela noite. Olhei no relógio ao lado da minha cama e já estava berando às 06:00, o sol já estava brilhando lá fora, até porque aqui é o Rio de Janeiro, o sol sempre brilhava mais cedo, decidi levantar e começar o dia com uma caminhada. Tomei um banho morno, me vesti para a caminhada e antes de sair do meu apartamento passei no quarto de Maddie.

          Maddie dividia o apartamento comigo, quando minha mãe morreu, como eu já tinha 18 anos acabei ficando por conta própria e com todos os bens dela, acabei vendendo nossa antiga casa e comprando esse apartamento onde moro hoje, o restante do dinheiro guardei numa conta no banco e investi no meu futuro na Universidade, eu ainda tinha uma Boa quantia no banco, porém já estava na hora de começar a trabalhar pra não acabar com toda minha economia. Maddie estudava na mesma Universidade que eu, já tinha falado com ela algumas vezes e ela parecia ser uma garota legal, há uma no atrás a vi chorando num canto e me aproximei, ela estava desesperada pois tinha ficado sem um lugar pra morar, como eu morava sozinha em meu apartamento ofereci dividir com ela, ela me ajuda com as despesas e apesar de sermos bem diferentes acabamos nos tornando melhores amigas.

Olhei a porta do seu quarto que estava entreaberta e ela estava literalmente jogada na cama, ainda usava o mesmo vestido azul colado e curto de ontem e seus saltos ainda estavam nos pés, era quase sempre assim, Maddie saia para suas festas e só voltava no meio da noite, ou no dia seguinte. Eu não implicava com isso, desde que ela seguisse a regra de não trazer garotos para meu apartamento.

Fechei a porta do quarto e sai do apartamento, optei pelas escadas mesmo morando no quarto andar, queria iniciar minha caminhada aqui mesmo.

        - Bom dia Hanna, acordou animada hoje. - Pedro o porteiro me cumprimentou.
        - Bom Dia Pedro. Respondi e segui pela calçada, apesar do sol, um vento fresco batia em meu rosto.
Sabe aquela sensação de estar sendo vigiada? Eu sempre a tive, desde quando eu era pequena, na escola no horário do Recreio eu sempre me pegava parando a brincadeira para olhar em volta e me certificar de que realmente não tinha ninguém me "vigiando". E por mais que eu tenha crescido, essa sensação nunca me deixou, e era assim que eu estava me sentindo agora. Parei a caminhada para fazer um alongamento, meu apartamento não era muito distante da praia, então eu já conseguia vê a areia branca um pouco a frente. Comecei a me alongar e ao mesmo tempo olhar em volta se tinha alguém me vigiando, vi um cara alto de terno preto não muito longe, ele falava ao telefone e eu podia jurar que ele tinha virado a cara na hora em que eu olhei para ele. Meneei a cabeça espantando quaisquer pensamento de alerta e segui a caçada de frente para praia. Caminhei por mais algum tempo e decidi que já estava na hora de voltar. Consegui parar de pensar um pouco na minha mãe, então significava que a caminhada tinha válido a pena.

           - Bom Dia. - Maddie disse assim que me viu entrar pelo apartamento, ela não parecia com ressaca e nem estressada, pelo jeito a noite foi agradável.
           - Eu quem passo metade da noite numa festa e é você quem tem essas olheiras horrível.

          - Tive outro pesadelo.
          - Daqueles?
          - Sim.- Eu confiava em Maddie, por isso contei algumas coisa da minha vida pra ela.
          - A caminhada ajudou a esquecer?
          - Um pouco, acho que preciso marcar uma consulta com um psicólogo.- Eu disse enquanto arrancava o tênis e me jogava no sofá da sala.

           - É normal ter pesadelos Rhanna, más se quiser posso agendar uma pra Você. - Maddie trabalhava em uma empresa de saúde e sempre conseguia agendar consultas para mim, mesmo quando eu não queria, como há um mês ela invocou que eu precisava passar por um ginecologista, mesmo eu avisando que era virgem e me sentia bem ela agendou e foi comigo, ela ficou admirada quando o médico confirmou minha virgindade e extremamente feliz quando o médico disse que eu não tinha qualquer problemas que poderiam impedir uma futura gravidez, como se eu fosse engravidar algum dia.

          - Na verdade não é por causa dos pesadelos que eu preciso de um psicólogo, lembra aquele meu outro problema? Perguntei e ela pareceu pensar, más logo respondeu.
          - Aquele que você sempre acha que tem alguém te vigiando?
          - Sim, esse mesmo, só que agora parece que está cada vez pior, o que está me assustando muito. -Estiquei minha pernas no sofá e Maddie sentou em outro à minha frente segurando sua xícara de café forte.
         - Olha Hanna, pode parecer loucura, más não acho que seja necessário, talvez isso faça algum sentido daqui alguns anos.
          - Não sei não, estou começando a achar que sou maluca.
         - Vamos mudar de assunto, sabe que nossa colação de grau é na semana que vem, então eu preparei uma viagem de comemoração só pra nós duas. - Disse ela e estendeu um papel para mim, nem tinha notado que ela segurava alguma coisa. Era um planfeto de uma agência de viagem de Nova Yorque.

           - Maddie eu não vou sair do país, eu mal falo português.
          - Para Hanna, você não pode fazer isso comigo, e não pode perder a sua oportunidade de conhecer a tão sonhada NY.
          - Você é maluca, achei que estivesse sem grana, como conseguiu fazer esse pacote de viagem?
         - Eu estava sem grana justamente por estar pagando mensalmente nossas viagens. Maddie se sentou ao meu lado.
        - Se tivesse me falado eu teria pagado a minha parte.
        - Vamos ser sincera Hanna, você nunca aceitaria fechar esse pacote comigo.- Ela respondeu cruzando os braços parecendo chateada, Quem não tem vontade de conhecer Nova Yorque? Eu tenho, más queria terminar meu curso de inglês primeiro, eu estava no segundo semestre do curso ainda eu não saberia me comunicar em NY.

           - Você tem razão eu não teria aceitado, você sabe que meu inglês é péssimo, eu não saberia me comunicar lá.
           - É por isso que você vai comigo, uma fluente em inglês. -Era verdade , Maddie era mesmo fluente em inglês, falava como se fosse sua língua nativa.
           - Para quando está marcado às passagens?
           - Semana que vem, no dia depois da nossa colação de grau.- Ela levantou e deu alguns pulinhos que demonstravam o quanto ela estava animada com a idéia e começou a me contar detalhes da nossa viagem a NY que durariam apenas 3 dias.

Podia ser apenas pela lembrança ruim de 7 anos atrás, más tudo indicava que eu estaria em NY com Maddie no dia do meu aniversário de 25 anos e isso me assustava, como se fosse um pressentimento ruim...

Allan DelyonOnde histórias criam vida. Descubra agora