LUIZA
Abro os olhos e me deparo com tudo branco ao meu redor. Olho para o lado e vejo Marcos dormindo sentado em sua cadeira de rodas. Sua cabeça está pendida para trás contra a parede. Deve estar bem desconfortável nessa posição.
Como se adivinhasse que estou olhando-o, ele acorda e olha para mim.
— Luiza! — ele vem ao meu encontro. — Você está bem, meu amor?
— O que disse?
Só eu mesma para duvidar do que ouvi, num momento desses… Mas, eu tenho que saber se ouvi direito ele me chamar das doces palavras que tanto quero escutar de sua boca.
— Perguntei se você está bem — ele responde.
— Não, a outra parte…
— Que parte?
Olho para ele apaixonadamente. Ele olha em meus olhos e parece que se dá conta do que estou querendo entender.
— Oh, essa parte… — ele fala, de repente envergonhado. — Você sabe que sim. Foi isso mesmo que eu disse. Mas, se não quiser que te chame assim…
— Não! — interrompo. — Eu quero sim. Na verdade, espero que sinta isso por mim.
Agora, quem fica envergonhada, sou eu. Idiota! Que ideia foi essa de falar algo assim?
Ele dá um sorriso torto, pousa sua mão em meu queixo e levanta minha cabeça baixa, para olhá-lo. Olha profundamente em meus olhos e diz:
— Então, não precisa esperar mais.
Certo, ele não diz “Eu te amo” dessa vez. Pra falar a verdade, a única vez que essas palavras saíram de sua boca foi ontem. Mas, mesmo assim, essa frase é uma linda declaração de amor, não é?
Eu o puxo pelo pescoço e o beijo emocionada. Quando estava ficando mais “quente”, ele para.
— Calma, Luiza. Ainda vai cair da maca desse jeito! Você está machucada, precisa se curar primeiro.
— Oh, não, Marcos. Minha cura é você.
— Eu não tenho todo esse poder… — ele sorri. — Se tivesse, eu o faria, pode crer! — e dá um sorriso torto.
— Hum… e se eu te seduzir? — eu digo, rindo e levando minha mão às suas calças.
— Luiza… — ele me repreende, pegando-me pelo pulso. — Estamos no hospital.
— E daí?
— Como “e daí”? Se o médico entrar aqui, ele vai ter um troço!
Caio na gargalhada, imaginando a cena. Marcos acompanha.
— Tem razão — concordo. — Mas vou cobrar tudo em casa depois… com juros e correções! — completo, rindo.
— Hum… terei o maior prazer de atendê-la.
Ele me beija, sorrindo, mas logo o sorriso some, dando lugar à urgência da paixão.
— Com licença, senhorita Luiza — interrompe o médico, pigarreando.
Rapidamente, nos separamos.
— Vejo que acordou. Está se sentindo bem? — o médico pergunta.
— Oh, sim. Muito bem.
— Percebi — ele fala e sorri.
Sorrio também, mas sinto minhas bochechas ficarem quentes.
— Quando vou poder ir para casa, doutor? — pergunto.
— Vai ter que ficar pelo menos uma semana. Tudo depende de quando seus ferimentos estarão curados.
— Mas doutor, não me machuquei tanto assim!
— Graças a Deus! — Marcos murmura.
— Não foi tão grave assim, Marcos — eu digo virando-me para ele.
— Bem, se a senhorita lembra de tudo, já sabemos que não houve sequelas na cabeça. Os exames não apontaram nada, mas queríamos esperar a comprovação — diz o médico. — Bem, vou deixá-los a sós novamente. Volto depois para fazer mais uma batida de exames.
— Obrigado, doutor Samuel! — Marcos o agradece com um aperto de mão.
— Não tem o que agradecer. É o meu trabalho ajudar.
O médico sorri e sai.
— Agora, mocinha, você vai descansar. Foi um acidente, não foi qualquer coisa! Vamos, dormindo! — ele me ordena.
— Só se você deitar aqui comigo — digo, com olhar pidão.
Ele me olha desconfiado.
— Prometo que não te provoco! — falo, rapidamente, enquanto ergo o sobre lençol para ajudá-lo a entrar.
— O que pensa que está fazendo? — ele pergunta ao me ver descendo da maca.
— Ora, vou ajudar você a se deitar aqui comigo… — respondo.
— Nada disso! Você não está bem para fazer forças! Eu me viro, dou um jeito…
Fico apavorada, sem saber o que fazer. E se ele cair?
Marcos respira fundo, vira a cadeira de rodas na melhor posição para subir na maca e se esforça ao máximo com seus braços para subir na maca.
Quando consegue, deita ao meu lado e me abraça. Pouso minha cabeça em seu peito e ele murmura:
— Só o seu olhar já me provoca.
Sorrio, me aconchego mais em seu corpo e fecho os olhos.
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De Volta à Vida
Short StoryEle, um cadeirante revoltado e isolado. Ela, vem para "balançar seu mundo". Juntos, viverão uma história de amor e superação.