LUIZA

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LUIZA

São nove horas da manhã. Estou chegando à casa de Ilda. É ali que vou ficar estes três meses de curso. Sou fotógrafa e com este curso, conseguirei subir de nível na Revista Vida, onde trabalho. Meu salário será maior e me tornarei chefe do departamento de arte. Sorte a minha que aqui morava a amiga de minha mãe e eu poderia ficar lá e não gastar em hospedagem. Mesmo assim, eu estou apreensiva. E essa apreensão tem nome. Marcos. Segundo Ilda, mãe dele, ele se fechou para o mundo e não gosta de pessoas visitando-o, desde que houve o acidente e perdeu os movimentos das pernas. E agora, eu estaria lá, como uma intrusa em seu mundo. Isso me preocupa. Não sei qual será sua opinião sobre eu ficar lá. Mas agora, estou aqui. Não vou voltar. Preciso desse curso para crescer na vida e vou continuar.

Perdida em pensamentos, nem noto o táxi parar. Dou o dinheiro ao taxista e me dirijo à casa de Ilda. Bato na campainha e uma Ilda sorridente me atende.

— Olá! Você deve ser Luiza…

— Sou sim… E a senhora deve ser Ilda…

— Sim, mas nada de senhora… você, por favor… Mas entre, vamos…

Ela passa o braço em meus ombros, num gesto amigável e me dirige para dentro de sua casa.

— Vou ajudá-la com as malas até o seu quarto…

Puxa vida! Mal acabei de chegar e ela já diz que o quarto é meu! Nunca em toda minha vida fui tão bem recebida! Uma emoção toma conta de mim…

Ilda vai à frente e eu a sigo. Quando chegamos ao corredor dos quartos, passo por uma porta aberta e visualizo um homem em uma cadeira de rodas, sentado perto da janela, observando a rua. Dou uma parada para ver melhor. Com certeza, aquele é Marcos. E como é bonito! Neste momento, ele vira o rosto em minha direção. Nossos olhares se encontram e eu vejo muita tristeza, encoberta por uma máscara de antipatia e ódio.

— O que está olhando? — ele pergunta bruscamente.

Eu entro em pânico, sem saber o que fazer. Apenas respondo um baixo “Nada” e sigo atrás de Ilda. Que bela recepção! Bem diferente de sua mãe. Um homem tão bonito, com tanto mau humor!

— O roupeiro está vazio, então, fique à vontade para arrumar tudo como quiser! Qualquer coisa, estarei na cozinha… — Ilda diz, dá um sorriso e sai.

Enquanto arrumo minhas coisas, fico pensando em Marcos. Imagino como deve ser difícil estar naquela cadeira de rodas e sem perspectiva de voltar a andar. Dá até para entender esse mau humor…

Em meio aos meus pensamentos, ouço um barulho de metal. Saio de trás da porta aberta do roupeiro para ver o que é, apesar de já saber que não é “o que”, mas “quem” é.

— Então, você é a Luiza… — Marcos fala e me olha de cima abaixo. Eu fico um pouco constrangida com a maneira intensa que seus olhos percorrem meu corpo.

— Sim, sou eu — confirmo. — E você é o Marcos, certo?

— Sim. Devem ter falado muito sobre mim.

— É, falaram… Sinto muito sobre o acidente e…

— Não preciso de pena! — ele me interrompe rispidamente.

Olho para baixo envergonhada e tento consertar a situação.

— Eu não… Não é pena… É só… Deve ser difícil para você… — eu gaguejo.

— Não diga mais nada! Não piore a situação! — ele me interrompe novamente. Agora seu nervosismo está à flor da pele! — Vejo que você é como todos.

Ele vira a cadeira de rodas em direção à porta, pronto para sair, mas eu o impeço. Rapidamente, paro à sua frente e o enfrento.

— Ei! O que quer dizer com isso? — pergunto, fazendo uma cara de brava. Seus olhos brilham neste momento.

— Acho que me enganei. Você não é como todos. Não me trata como se tivesse pisando em ovos e tentando me agradar.

— Ah, então era isso… Fique você sabendo que não merece agrado algum. Ou acha que merece ser tratado bem, quando trata mal as pessoas que se preocupam com você?

— Vejo que já está a par de tudo… — ele responde, com um sorriso de deboche.

— Não dá para falar com você…

Agora, sou eu que me viro para a porta, pronta para sair. Mas ele agarra meu pulso, antes que eu possa dar um passo, e me puxa para sua direção. Eu caio sentada sobre seu colo. Nossos olhos se encontram e explodem em faíscas. Meu peito sobe e desce com a respiração acelerada. A atração foi instantânea.

— Então, é melhor pararmos de falar e agir… — ele diz e ataca minha boca num beijo quente e arrebatador.

Suas mãos deslizam pelo meu corpo enquanto me beija e eu o agarro pelo pescoço, acariciando seus cabelos com minhas mãos. Minha mente fica turva e meu corpo se enternece em meio à paixão desenfreada. E quando menos espero, sinto o vazio em meus lábios. Abro meus olhos e vejo Marcos com um sorriso cínico. Nervosa, levanto bruscamente de seu colo e sigo para a porta. Não conseguiria ficar um segundo a mais ali! Não depois de tudo isso!

— Ainda não acabei! — ele diz em tom autoritário e eu paro de costas para ele. — Eu não sou rico, então, nunca mais banque a sedutora! — ele completa, ríspido e eu saio apressada do quarto, antes que faça alguma besteira.

Enquanto sigo para a cozinha, penso em toda aquela cena. O que eu fiz? Nem eu consigo me compreender. Jamais me entreguei assim a um homem que mal conheço! Mas o que mais me dá raiva é o modo como ele me ofendeu. Sedutora, eu? Ora, foi ele que me beijou! Como se eu iria querer dar o golpe do baú! Nunca!

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