LUIZA

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LUIZA

Desperto do meu sono e penso em Marcos. O domingo tinha sido ótimo! Um avanço e tanto para a alma dele, que precisa ser despertada para a vida. Ele riu, conversou, falou sobre ele. Estou começando a tirá-lo desse enclausuramento.

Uma pena que hoje já preciso ir para o trabalho, ou então, poderia sair com ele, continuar com o processo “de volta à vida” de Marcos. Nomeei, como uma meta para mim. Vou fazer Marcos sair desse vazio e começar a viver, ou eu não me chamo Luiza! Não apenas como uma forma de retribuição a Ilda por me deixar ficar aqui, me tratar tão bem, mas também porque eu quero fazer isso, sinto que preciso ajudá-lo. Ok, tem também essa atração forte entre nós. Admito que estou tendo sentimentos muito maiores por Marcos, o que só aumenta essa vontade de ajudá-lo.

Olho no relógio e vejo que já são sete horas e meia. Puxa vida! Preciso me arrumar correndo! O curso começa às oito! Pulo na mesma hora da cama e vou para o banheiro tomar banho e me arrumar.

Vinte minutos depois, desço as escadas, rumo à cozinha. Preciso tomar o café da manhã. Para minha grande surpresa, encontro Marcos fazendo o mesmo.

— Ora, ora, o que temos aqui? Saiu da masmorra, foi? — pergunto, fazendo graça.

— Hum, engraçadinha… — ele responde, rindo. — Resolvi te fazer companhia no café da manhã.

— Sei. Você é vidente agora?

— Você levantou inspirada mesmo hoje, né?

— Com certeza. Até parece que você não sabe de onde vem toda essa minha inspiração…

— Não sei de nada. De onde, posso saber?

— De você.

— De mim? Por acaso tem a ver com meu charme e meus beijos ardentes? — ele pergunta e ri de minha expressão de choque.

— Como é convencido! Desculpe por destruir seu ego, mas não tem nada a ver com isso. E tudo a ver com sua liberdade.

— Minha liberdade? Não entendi.

— Gostei do progresso de ontem.

— Que progresso?

— Vai dizer que não gostou do piquenique no jardim?

— Hummm, gostei, com certeza! — ele fala, com um sorriso torto, fitando-me com um brilho no olhar.

— Eu não estava falando disso! Estava falando do quanto você se divertiu ontem, saiu do seu quarto, do seu mundinho.

— Eu entendi. Tenho que admitir que gostei sim.

— Fico feliz.

Vou até a geladeira, pego a manteiga e me sento à mesa, à frente de Marcos. Pego um pãozinho, corto pela metade e passo a manteiga. Enquanto como, tenho uma ideia de onde levar Marcos. Sabia que ele adorava ir lá, só parou depois do acidente, quando perdeu a namorada. A mãe dele havia me contado. Ainda bem que tenho em Ilda uma ótima aliada!

Levanto os olhos do meu pão e ele está olhando para mim. Parece adivinhar que estou pensando nele. Não perco tempo e pergunto:

— A gente podia ir ao cinema hoje à noite. Sei que você sempre gostou de ir.

— Sabe? Quem te contou? — ele pergunta chocado, mas logo se dá conta. — Ah, só pode ter sido minha mãe…

— É, mas isso não vem ao caso. E aí, você aceita ir comigo?

Ele fica pensativo, respira fundo e fala:

— Não posso.

— Claro que você pode! — exclamo indignada. — Você pode fazer o que quiser! É só você se libertar desse seu mundinho e se abrir para a vida!

— Você não entende.

— O que eu não entendo? Diga-me. Não posso saber, se você não me diz.

— Não gosto dos olhares de pena que caem sobre mim quando saio.

— Ah, então é isso. Você liga para o que os outros pensam a seu respeito?

— Ligo.

— Pois não deveria ligar! Pense primeiro em sua felicidade. Pense em você e sua vida. Se você é feliz, se diverte saindo, fazendo o que gosta, esqueça o resto.

— É complicado.

— Sei que é. Mas tente. E para você treinar um pouquinho, você vai ao cinema comigo hoje. Esteja pronto às sete, porque às oito já começa. Agora, preciso ir, já estou atrasada para o curso. Vejo você à noite.

Saio antes que ele pudesse me encher de motivos para não ir.

De Volta à VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora