LUIZA

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LUIZA

Após voltarmos do baile, aproveitei para me despedir de Ilda, já que partiria muito cedo pela manhã. Era tarde e ela já havia voltado antes de nós. Afonso deixou-a, somente quando viemos.

Emocionei-me com Ilda e suas palavras. Os meses que convivi com ela, foram de muito aprendizado. Ela é uma mulher guerreira, admirável.

Marcos foi comigo até a porta do meu quarto, para se despedir. Com ele, a despedida foi muito mais difícil. Não dissemos muito um para o outro. Mas nossos olhares diziam tudo. Consegui ver que ele estava sentindo minha partida. Mas também não pediu para eu ficar. Se me pedisse, não sei o que faria. Por isso, preferi deixar como está. Voltaria para minha cidade e veria se tem algum jeito de vir para cá. Algum emprego, ou algo na própria revista que trabalho, mas que seja aqui… sei lá, daria um jeito. Mas não podia falar isso com Marcos. Não queria perturbá-lo.

Sem conseguir dormir, me revirando na cama com essas lembranças e pensando no fato de ir embora no dia seguinte e deixar o amor da minha vida por aqui, levanto da cama. Silenciosamente, vou até o quarto de Marcos, abro a porta, entro e fecho novamente. Aproximo-me da cama, ajoelho-me no chão e o observo dormindo. Como se adivinhasse que estou ali, ele abre os olhos.

— O que faz aqui? — ele pergunta.

— Eu… eu… vim me despedir — gaguejo.

— Hoje não, Luiza. Não quero que vá embora com a lembrança de uma noite ruim.

— Do que está falando?

— Você sabe do que.

Oh, como não pensei isso? Ele pensa que estou ali para fazer amor com ele pela última vez e tem medo de não chegar ao fim, como já nos aconteceu algumas vezes.

— Sei. Não estou aqui para isso — digo.

— Oh, não? Então, para que?

— Eu já disse, só quero me despedir. Vou embora muito cedo amanhã, não vai dar para nos despedirmos.

— Já nos despedimos ontem.

— Eu sei, é só que…

— E minha mãe? — ele interrompe.

— O que tem ela?

— Já se despediu dela.

— Sim.

— Isso foi ontem também, não foi?

— Foi.

— Então, assim como ela, não preciso que se despeça duas vezes.

Por que ele está me tratando assim? Não posso entender. Penso em perguntar, mas resolvo fazer de conta que não ouvi. Deito ao lado dele na cama e o beijo. Sem aviso, sem nada dizer.

Aos poucos, ele corresponde ao beijo e uma ternura nos envolve por completo. O beijo é uma carícia em meus lábios, um toque suave, um carinho que eu preciso para levar comigo. Separo meus lábios dos dele e me deito em seu peito. Seus braços me envolvem em seu calor. É isso o que eu queria. Apenas senti-lo mais uma vez. Saber que fui, em algum momento, importante para ele. Levar comigo o carinho dele por mim. Porque sei que meu amor por ele ficará para sempre em meu coração.

— Só quero dormir com você mais uma vez — falo.

Ele respira fundo.

— Tudo bem.

E dormimos no aconchego dos braços um do outro.

***

Acordo, no outro dia, nos braços de meu amado. Observo-o dormir feito um anjo. Levaria para sempre aquele amor comigo. Talvez, um dia, ele amenizaria em meu peito, ou, quem sabe, nos reencontraríamos dali a alguns meses, se eu conseguisse colocar meu plano de mudança em prática. Bem, o que é para ser, será.

Saio sem fazer barulho, para não acordá-lo. Deixo, antes de sair, uma foto de nós dois no criado-mudo, com os dizeres atrás: “Fui feliz demais ao seu lado!”.

Tomo um banho rápido e me visto. Pego minhas malas e desço. Tomo um táxi e parto para minha cidade. Fico olhando para a casa, até que a perco de vista. A saudade já está apertando meu coração. Jamais me esqueceria dos belos momentos que vivi ali.

De Volta à VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora