LUIZA

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LUIZA

Cinco dias já haviam se passado e não vi mais Marcos. Minha rotina era: levantar, tomar um banho e me arrumar, tomar café e sair para o curso. Quando voltava, ao meio dia para almoçar, apenas Ilda e eu estávamos à mesa. A mesma coisa acontecia na janta.

Desde o nosso beijo, ele não descia para comer, nem sequer saía do quarto. Ele está fugindo de mim, tenho certeza. Ilda sempre ia ao seu quarto para levar comida, ou então, morreria de fome. A dor dela me afeta também. Ninguém fica imune ao ver uma mãe sofrer.

Se o quarto dele não tivesse banheiro, seria uma chance de encontrá-lo no corredor. Mas, assim, fica difícil.

Começo a me preocupar com ele. O que será que há com esse homem, meu Deus? Tanta resistência em viver! Preciso dar um jeito nisso. Tenho que arrancá-lo dessa amargura. Não apenas pela mãe dele, mas por ele. E o único jeito é invadir seu espaço. Na mesma hora, surge uma ideia em minha mente. Vou à cozinha, preparo uma cesta de frutas, sanduíches e suco e levo lá fora, junto com uma toalha de mesa, que estendo no gramado. Preciso aproveitar que hoje é domingo, não tem curso, e que Ilda está fora, visitando algumas amigas, por minha sugestão, para espairecer um pouco. É o momento perfeito para fazer Marcos reagir.

O único problema é: Como irei invadir seu quarto? Como um relâmpago, uma ideia surge. Subo rapidamente ao meu quarto, pego um alfinete e minha câmera fotográfica e me coloco diante da porta do quarto de Marcos.

Com o alfinete, começo a tentar abrir a porta trancada. Sorte a minha que ele tirou a chave da fechadura, ou então, essa minha ideia iria por água abaixo.

Quase pulo de alegria quando ouço o estralo da porta se abrindo. É, para alguma coisa valeu assistir tantos filmes. Entro pelo quarto e encontro um enorme silêncio. Marcos está no mesmo lugar onde o vi pela primeira vez. Próximo à janela, ele observa o jardim.

Limpo a garganta, para chamar sua atenção. No mesmo segundo, ele vira para mim e me olha com um misto de espanto e raiva.

— O que faz aqui? Como é que entrou? — ele pergunta, seco.

— Você não pode ficar nesse quarto para sempre…

— Por que não? Quem vai me impedir?

— Eu. Não vou deixar você se afundar desse jeito…

— Você? Ah, quero só ver!

Pego minha máquina e tiro uma foto sua. Ele logo reclama:

— Ei! O que pensa que está fazendo? — xinga-me, se aproximando com a cadeira de rodas.

— Tirando uma foto sua como lembrança desse seu mau humor, que eu pretendo acabar ainda hoje.

— Quero ver como vai fazer essa façanha!

— Está me desafiando? Pois saiba que adoro desafios e sou muito boa nisso! — falo, colocando minhas mãos em minha cintura e entrecerrando os olhos, demonstrando minha indignação. Um sorriso torto sai daqueles lindos lábios. A chama da esperança se acende em meu coração com aquele pequeno gesto. — Agora, trate de vir comigo e para de brigar, pode ser?

Ele me olha desconfiado e pensativo.

— Aonde vamos? — Marcos pergunta, após alguns segundos de silêncio.

— Ao jardim — respondo com animação, empurrando sua cadeira para fora do quarto.

— Pode deixar que eu faço isso — ele diz, segurando meus braços.

Nossos olhares se encontram e algo dentro de mim ganha vida. Um sentimento poderoso, uma força que me atrai aos braços de Marcos. Desvio meus olhos e sigo na frente. Ele vem logo atrás.

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