LUIZA
Dirigindo para o curso, penso em tudo o que aconteceu. Desejo. É apenas isso o que ele sente por mim. Tudo o que vi em seus olhos, foi mero engano. Eu já devia saber. Devia estar preparada. Apesar disso, me envolvi, deixei meu coração falar mais alto.
Mas tudo bem. Ao menos, tudo está servindo para Marcos recuperar sua vontade de viver. E farei o que está ao meu alcance para ajudá-lo até o dia que eu for embora. Dói pensar em me afastar do homem que amo. Mas quando o amor não é correspondido, a separação é inevitável. Eu só preciso resguardar um pouco meu coração nessas próximas semanas. Teria que dar tudo de mim para controlar meus sentimentos. Sem problemas. Eu posso fazer isso. Se for para o bem dele e sua mãe, eu aceito.
Chego ao prédio do curso e subo o elevador até a minha sala. Colegas, com os quais criei amizade, me cumprimentam e eu retribuo. Sento em minha carteira e fico lá, divagando. O professor chega e durante a aula inteira, fico desligada, fora de mim, só pensando em Marcos. Como ajudá-lo sem cair em seus braços. Sim, porque não pretendo mais ir para a cama com ele. Seria loucura continuar com isso! Automutilação! Meu coração ficaria em pedaços até o final. Já não estou nada bem, não preciso piorar a situação.
— Luiza, você está bem? — ouço um cochicho. É minha colega, Carol, com quem fiz amizade e que senta na carteira ao meu lado.
— Hã? — olho para o lado desnorteada. Nem ouvi a pergunta dela, de tão concentrada em meus pensamentos que estava.
— Eu perguntei se você está bem — ela cochicha outra vez para mim.
— Ah, sim. Estou sim — cochicho de volta.
— Não é o que parece. Você parece desligada, pensativa demais. E triste.
Não digo nada, apenas engulo seco.
— Ok — ela respira fundo. Entende meu silêncio. — Se quiser conversar, podemos almoçar juntas, sei lá…
— Obrigada, Carol, mas hoje não. Eu preciso ir para casa.
— Para casa? Você vai embora? Vai desistir do curso? — Carol pergunta, confusa.
Certo. Agora eu já estou chamando a casa de Marcos e Ilda de minha casa. O amor está me deixando atrapalhada!
— Oh, não! Eu quis dizer a casa de Ilda.
— Hum… e Marcos.
— É… e Marcos.
— Certo, então — ela me olha como se soubesse do meu motivo por estar desse jeito. E, na verdade, acho que sabe mesmo. Falo demais em Marcos. — Mas, já sabe, se precisar estou aqui.
— Eu sei. Obrigada, amiga!
— Está bom o papo? — levo um susto, de quase cair da cadeira, quando ouço o professor perguntar próximo a nós duas.
— É… ahm….
— Terminaram? — ele interrompe.
— Sim, professor — respondo e olho de rabo de olho para minha amiga.
Ele respira fundo e vai voltando para a frente da classe.
— Lembrem-se que vocês estão aqui para o crescimento de vocês, não o meu — ele fala olhando-nos.
Nós apenas balançamos a cabeça afirmativamente.
— Tudo bem. Continuando…
E assim foi a aula até o final. O professor explicando, eu não prestando atenção, por conta de meus pensamentos guiados em outra direção. Na direção de Marcos. Eu, o metal. Ele, o ímã.
***
Após a aula, enquanto volto com o carro que aluguei durante minha estadia nesta cidade, fico pensando o caminho inteiro em algo que eu pudesse fazer com Marcos. Ilda disse que ele adorava dançar, que conquistava as mulheres com sua desenvoltura. Soube hoje, por alguns colegas que me convidaram na saída, que haverá um baile no Paz Eventos, um salão que realiza bailes, casamentos, formaturas, etc. Marcos sempre frequentou esses bailes, segundo Ilda. Então, penso em levá-lo, mas sei que vai ser difícil convencê-lo.
Paro o carro em frente à casa e vou direto para a cozinha. Marcos está lá. Finalmente, ele almoça à mesa e não no quarto. E sua cara é de espanto ao me ver.
— Ué? Veio almoçar em casa? — ele pergunta.
A maioria das vezes, eu almoçava por lá, com minha amiga, em alguma lanchonete ou restaurante por perto do curso. Mas hoje, resolvi vir vê-lo, para ver se paro de pensar nele durante a aula. E, agora, também por conta da ideia que tive.
— Sim. Vim convencê-lo a ir ao baile hoje à noite comigo — vou direto ao ponto.
— O que? Baile? Você está louca!?
— Não estou, não! Sei que você gosta, sempre ia… — falo, enquanto encho meu prato de comida.
— Mãe, você e sua boca! — ele diz, virando-se para Ilda, sentada ao seu lado.
Sento à sua frente e pego em sua mão. Ele se vira e olha em meus olhos. E eu digo, com um grande sorriso estampado em meu rosto:
— Ah, vamos lá! Você sabe que vai ser divertido! — e dou uma garfada.
— Sei? Até parece! De que adianta ir se não posso sequer dançar com você?
— Quem disse que não pode?
— Ah, fala sério! — ele debocha e eu continuo comendo. Não digo nada por alguns minutos e como em silêncio. Marcos e Ilda só me olham, pois já haviam almoçado.
Quando termino, pouso vagarosamente meus talheres no prato e levanto. Olho para Marcos e digo, com um sorriso torto:
— Falo sério, sim. Esteja pronto às oito.
E saio, sem ouvir qualquer argumento. O baile começa às oito e meia da noite. É hoje que Marcos “volta à vida” de uma vez, ou não me chamo Luiza!
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De Volta à Vida
Short StoryEle, um cadeirante revoltado e isolado. Ela, vem para "balançar seu mundo". Juntos, viverão uma história de amor e superação.