MARCOS
Os três meses do curso terminaram. Luiza parte amanhã. Foram os melhores dias da minha vida, os que vivi ao seu lado. Cinemas, jantares, noites que assistimos filme na sala aqui de casa (com direito a amor no tapete), piqueniques, noites que amamos cada milímetro do corpo um do outro. Momentos especiais, únicos. Com Luiza me diverti, ri, vivi. Mesmo nos momentos que fracassei (como em algumas noites de amor), ela me fazia sentir que a fiz a mulher mais feliz do mundo. Jamais me senti fraco diante dela. Ela nunca me olhou com olhos de pena. Ao contrário, seu olhar era sempre de admiração, alegria e paixão. Seus olhos se tornaram os sóis da minha vida.
E essa noite seria nossa despedida naquele baile, que ela me convenceu a ir. Minha mãe foi convidada a ir também. O senhor Afonso agora tomou coragem de pedir para ter um encontro de verdade com ela. Sempre foram amigos, desde a época que meu pai era vivo. Afonso era amigo de meu pai e casado com uma amiga de minha mãe. Todos se tornaram muito amigos. Então, sua esposa faleceu por conta de um câncer grave. Não demorou muito, meu pai também faleceu por conta de um ataque cardíaco. Ele tinha problemas no coração e o estresse no trabalho, só piorava a situação.
Então, Afonso e minha mãe se apoiaram um ao outro. Eu já sabia, há algum tempo, que ele estava apaixonado por minha mãe. Visitava-a sempre, nestes últimos anos, para conversar. E eu, sempre joguei indiretas à minha mãe sobre Afonso, deixando claro que aceitaria, inclusive gostaria, que ela arrumasse alguém. Todos precisam de amor. Agora, mais do que nunca, vejo isso também.
Sempre pensei que me casaria com minha ex-namorada. Mas aquilo não era amor. Pelo menos, não da parte dela. E da minha parte, virou decepção. A partir de então, não quis mais amar e ser amado. Pensava que não haveria um amor para mim, nessas condições que me encontro. Mas, aí chegou Luiza. Com seu jeito doce, alegre e cheio de vida, foi envolvendo meu coração. Já no primeiro momento que a vi, meu coração soube que seria ela a mulher certa para mim. E agora, ela está indo embora. Não conversamos nada sobre sua partida. Apenas combinamos de irmos ao baile essa noite. Meu coração está em pedaços. Não tenho coragem para pedi-la para ficar. Não quero empatar sua vida. Não vou ser um obstáculo para sua carreira, nem separá-la das pessoas que a amam (os pais e seus amigos). Por isso, prefiro deixar para ela qualquer decisão. Se partir, terei em minha memória os doces momentos que passamos juntos. Só quero que esta última noite com Luiza, seja perfeita.
Estou impaciente esperando-a aqui na sala. Afonso já veio pegar minha mãe e eles foram na frente. Luiza ainda está se arrumando. Estou que não me aguento de curiosidade!
Quando penso em subir pelo elevador para vê-la, ela aparece, descendo as escadas, vestida de branco. Uma deusa aos meus olhos. Adoro ela vestida de branco! Fica parecendo um anjo. E ela é o meu anjo.
- Vamos? - ela pergunta.
- Vamos - concordo, meio tonto ainda.
Resolvemos ir de táxi. Assim, não precisaríamos nos preocupar com estacionamento, nem com o fato de ingerir bebida alcóolica. O caminho todo, vamos em silêncio. Não consigo falar, apenas sentir.
Quando entramos no salão Paz, vemos todos dançando animados, inclusive Afonso e minha mãe. Estava tudo muito bonito. Fazia tempo que não ia nesses eventos. Percebo agora que Luiza tem razão. Senti falta disso tudo. Realmente, eu estava me enterrando em meu mundo.
Sentamos numa mesa e ficamos observando por algum tempo. Certo, ela sentou e eu apenas encostei minha cadeira de rodas.
Meus pensamentos ainda estão na época em que eu participava desses bailes. E em como Luiza me faz sentir bem novamente. Jamais pensei em voltar novamente aqui. Tudo por Luiza. E, agora vejo, por mim também.
- Marcos? - Luiza chama minha atenção.
- Hã? - olho para ela.
- Dança comigo?
- O que? Mas como?
- Deixa comigo. Você vai ver. Garanto que vai gostar.
Puxo-a para meu lado e digo a milímetros de seus lábios:
- Tudo o que envolve você eu gosto.
Então, a beijo de leve, brevemente. Ela sorri e me estende sua mão. Eu a pego e a levo para a pista. A música agora era lenta. Um ritmo quente, repleto de romantismo. Ela se senta em meu colo de lado e me abraça pelo pescoço.
- O que está fazendo? - pergunto.
- Agora, mexa sua cadeira.
- O que? - indago, se entender.
- Apenas mexa sua cadeira, ande com ela, bem devagar.
Faço o que ela me pede. Agora, estou entendendo. Estávamos dançando. Lentamente e juntos. Faço um círculo com a cadeira e ela sorri.
- Viu só? Estamos dançando - ela diz, com um lindo e brilhante sorriso. Aquilo me enfeitiça cada vez que acontece.
- Sim, estamos.
- E você está gostando.
Não foi uma pergunta. Ela viu em mim o sentimento.
- Estou - respondo, mesmo assim. E sorrio para ela, correspondendo ao seu sorriso.
Então, ela cola seu rosto no meu, como os outros casais na pista. O momento é mágico, intenso. É a magia do amor que nos envolve.
A noite inteira, ficamos dançando. Parávamos somente para tomar alguma água. Acabamos não ingerindo bebidas alcoólicas. Nas melodias lentas, Luiza sentava em meu colo e dançávamos lentamente. Nas rápidas, fazíamos um show à parte. Coreografias minhas com a cadeira de rodas e Luiza, com seu gingado. Fazemos uma dupla e tanto!
Essa noite, com certeza, está entre os dez melhores momentos de minha vida. O melhor, foi quando a conheci. E os dez, são com Luiza.
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De Volta à Vida
Short StoryEle, um cadeirante revoltado e isolado. Ela, vem para "balançar seu mundo". Juntos, viverão uma história de amor e superação.