38

96 6 0
                                    

Chegando na loja, antes de descer do carro, aviso a todos:

— Eu estou atrás de um presente para o Mascarado. Se alguém ver um álbum e uma daquelas câmeras antigas que já saem a foto, me avisem, porque é isso que eu quero.

— Não acho que esse seja um presente adequado para o seu patrão — um dos seguranças, sempre abusado, falou.

— O seu patrão vai gostar sim do presente, e você nem sabe como será. E não quero mais ouvir nada sobre isso — desço do carro sem olhar para trás.

Dentro da loja, Berenice já havia explicado o que estávamos procurando.

— Você estava falando do meu presente no carro, né? Mas e você, já comprou o seu? — não deixo passar a oportunidade.

— Não precisa ser complicado ou especial. Um camisa social, uma gravata, talvez uma carteira ou uma maleta nova.

— Exato. Eu quero um presente especial, algo que o faça lembrar todos os dias. E vocês são homens, nunca dariam um presente com um significado grande para alguém que não é tão especial. Vocês são egoístas, isso sim — claro, ninguém gostou muito do que falei.

Enquanto escolhia o álbum, um dos seguranças falou comigo.

— Senhora, já estamos demorando demais para sair.

— Eu sei. Mas prometo ser rápida — decido pegar o álbum xadrez preto e branco.

Infelizmente, a câmera não estava disponível ali.

— Olha, eu sei que está demorando e que eu sou azarada o suficiente para algo realmente ruim acontecer. Mas prefiro resolver tudo agora, sem precisar voltar depois para comprar o que falta.

— E o que está faltando? — perguntou outro segurança.

— A câmera — respondo. — Se você preferir, podemos ficar um tempo dentro do carro, achar um lugar discreto e esperar, ou, se preferir, você pode comprar para mim.

— Antes de vir, vi uma loja de antiguidades que talvez tenha a câmera que você quer — faz sentido, afinal, a câmera é bem antiga.

— Ótimo, vamos lá.

Pagamos e voltamos para o carro. Começo a sentir uma ânsia estranha e peço para esperarmos antes de colocar o carro em movimento.

Seguimos para a loja, e eu tomo alguns goles de água.

Quando estávamos estacionando, ouvimos gritos e vimos uma multidão correndo. Em seguida, uma explosão.

Meu coração se parte.

— Estávamos falando disso, senhora — diz o segurança para mim.

Minha vontade é chorar. Não posso acreditar que isso aconteceu por minha causa, como se fosse um ataque direto a mim. Talvez fosse para eu morrer, junto com as pessoas ao meu redor. Espero que as que saíram correndo não estejam gravemente feridas.

— Vamos embora — ninguém diz mais nada.

Ainda em choque, sinto a vontade de desistir de tudo, até mesmo de viver, se estou sendo caçada até a morte. Como poderiam saber que iríamos para lá? Pode ser um acidente, pode ser que ele não esteja atrás de mim. Mil pensamentos passam pela minha cabeça. A culpa por aquelas pessoas terem se machucado por minha causa. O arrependimento de não ter dado ouvidos aos seguranças, que estavam apenas fazendo seu trabalho.

É impossível não chorar.

Eu estou fazendo mal para todo mundo, até para quem está comigo nesse carro.

Preciso encontrar um lugar seguro para ficar, só para mim.

---

Quando chegamos em casa, já era noite.

Deixo todas as minhas coisas no carro, com os cabelos soltos, sem chapéu ou óculos.

— Eu soube do acidente — o Mascarado vem até nós, desesperado.

Passo por ele como se não o visse, e ele tenta segurar meu braço, mas eu desvio.

— Eu avisei — ouvir isso me causa tanto ódio.

— Avisou o quê? Para eu não sair? Achando que eu não sei os riscos que corro? Que eu não sabia o perigo de estar perto das pessoas? — minha voz sai um pouco alterada.

— Você não consegue atender às mínimas coisas que te pedem, não consegue cumprir nem algumas regras. Eu deixei vocês saírem, você me disse que seria rápido. Pensei que seria algo bom, mas você voltou pior do que saiu, Larissa — o Mascarado olha para mim com uma mistura de pena e raiva.

— Não, eu não consigo seguir as regras, Mascarado, porque minha vida inteira foi baseada em regras. E eu não pedi isso. Não pedi para minha vida ser uma merda e para ter que fazer diversas coisas apenas para saber aproveitar o mundo de outra forma. Eu fui feita para ser livre, não para ser mantida presa — não consigo evitar falar alto e as lágrimas escorrem.

— Eu só precisava que você ficasse aqui por um tempo. E nem pedi muito. Não te obriguei a ficar aqui, apenas abri as portas da minha casa para você. Mesmo sabendo que estou sendo procurado, você ainda é o alvo principal.

— Ah, me desculpa se eu não consigo viver igual a você, Mascarado, que tem uma vida sem graça, sem erros, uma vida perfeita. Se você consegue se manter distante de todos e do mundo, sozinho, e se sentir deprimido dentro de uma casa sem companhia, e me desculpe se eu não sou igual a você. Eu deixo a tristeza me atingir, mas prefiro sentir ela de outra forma, ao invés de me entregar completamente, como você faz, mesmo sabendo que isso te prejudica. Nunca mais fale comigo como se eu não me importasse com nada do que está acontecendo. E estou cansada de você querer se passar por sabichão toda vez, como se o fato de eu ser mulher mostrasse que sou menos inteligente — antes de me virar para entrar, ainda deixo claro — E você pode ter certeza de que eu vou embora. Não consigo mais olhar para sua cara de sonso, fingindo ser uma pessoa enquanto me mostra ser outra. Vou arrumar um lugar e ficar longe de todos vocês, porque não preciso de nada que venha de você.

A Prostituta Indomável.Onde histórias criam vida. Descubra agora