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Dia da Viagem

Depois daquela noite na boate, Theo e eu não nos falamos mais.

Cheguei em casa por volta das seis e pouco da manhã, um pouco bêbada, mas com um sorriso de quem aproveitou a noite ao máximo. Arrumei minhas coisas em caixas e já queria me mudar no dia seguinte, mas as coisas não aconteceram tão rápido.

Conversei com Fernanda. Ela sabe para onde estou indo e tenho certeza de que não vai contar a ninguém. Agora, meu pai não vai ficar me controlando.

Mesmo sentindo falta da casa dos meus pais, não me arrependo de ter saído. Aquela casa deixou de ser um refúgio quando os próprios moradores passaram a representar um perigo.

Com Fernanda, sei que posso contar para tudo.

Espero que a viagem aconteça logo e que, quando eu menos esperar, já esteja de volta.

Passei na faculdade para pegar algumas apostilas e avisar que vou estudar à distância por alguns dias.

Pela manhã, o caminhão de mudança já estava na porta de casa. Não estou levando muita coisa, afinal, Fernanda me avisou que os quartos já têm os móveis essenciais, como cama de casal e guarda-roupa.

Quis fazer a mudança pela manhã porque meus pais não estão em casa, e hoje à noite viajo.

Depois de colocar tudo no caminhão, passo o endereço e vou à garagem pegar a moto.

Tive tempo para me organizar. Fernanda cuidará do restaurante enquanto eu estiver fora, e vamos nos comunicar por mensagens. Sei que tudo vai correr bem.

Não sei quanto tempo ficarei fora, então fiz três malas, além de uma mochila com o notebook e outras coisas. Por sorte, não trabalhei hoje e deixei folga para Fernanda me ajudar a organizar tudo no apartamento.

Agora é quase hora do almoço e estou exausta, com fome e com sono.

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"Vai, amiga, só mais um pouquinho!" Estamos levando o último baú de pertences para o quarto que vou ocupar. É o último e o mais pesado, eu garanto.

Sentamos, uma de costas para a outra, respirando ofegantes.

"O que tem aí dentro que pesa tanto?" Fernanda resmunga, cansada.

"Tem de tudo..."

"Precisamos comer; estou faminta," ela diz, falando minha língua.

"Estou com muito sono. Só tive dois dias para organizar tudo, e a última noite foi longa."

"Vou pedir lanche e você pode dormir à tarde. Se tivesse feito os trabalhos da faculdade antes, não estaria tão cansada," diz ela, pegando o celular para fazer o pedido.

"Cala a boca, Fernanda! Não fico te julgando quando você não faz suas obrigações. Na noite que falei com Lurdes, encontrei Theo, passei a noite toda com um homem lindo, cheguei tarde e só tomei um banho antes de começar a arrumar a mudança. Passei a manhã resolvendo coisas no restaurante. No segundo dia, fui atrás das passagens, organizei as malas e fiz mais trabalhos da faculdade à noite. E ainda tive outra noite quente com o mesmo rapaz das noites anteriores. Ele é perfeito."

"Tá bom, já entendi. Agora fica quieta um pouco, você fala demais. E pelo visto, não está tão preocupada com o Theo."

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Às duas da tarde, almoçamos e depois fui dormir um pouco.

Agora estou embarcando no avião.

"Pegou tudo?" Fernanda pergunta, conferindo se estou realmente pronta para essa decisão.

"Peguei," respondo, rindo.

"Vai com calma, amiga. Não se preocupe, eu vou dar conta de tudo por aqui," ela garante.

"Fernanda, fica tranquila. Eu tô bem e tudo vai dar certo. Vou mandar fotos e, qualquer coisa, você me liga." Dou um abraço apertado nela.

"Eu sei... Só estou checando que está tudo bem. E não esquece de tomar remédio se tiver enjoo. E nada de comer enquanto estiver voando!" Fernanda age como uma mãe.

"Você já disse isso umas dez vezes antes de sairmos para o aeroporto, Fernanda. Já decorei." Paro na entrada do embarque.

"Vou sentir sua falta," ela me abraça.

"Eu também, mas não se preocupe. Vou tentar te ligar todos os dias e não vou demorar a voltar."

"Claro, e quero relatos dos homens de lá! Me mande fotos," ela brinca.

"Você é louca. Como acha que vou tirar fotos dos homens?!" Ela só quer aliviar o clima.

"Se cuida e, se precisar, me avisa," ela diz, beijando minha testa antes de se afastar.

Passo pela segurança para embarcar. Ainda acho um absurdo homens revistarem mulheres, mas em alguns lugares temos a sorte de ter uma policial para nos revistar.

Estou parada com os braços abertos, e o detector apita.

"É meu relógio," explico.

Apita de novo.

"Meu celular," que está preso na cintura, para caso de alguém tentar roubar.

Apita novamente.

"Quer que eu tire isso também?" mostro o colar, brincos, pulseira e levanto a camisa para mostrar a fivela do cinto. O segurança olha para mim com uma expressão fechada, enquanto Theo, do outro lado, ri.

Pego minhas coisas e passo pelo portão de embarque.

Lurdes nos enviou seu jatinho particular para a viagem. Entro e vejo o interior todo branco, com poltronas de couro, cheirando a novo. Me acomodo e coloco os fones de ouvido.

Os fotógrafos não perderam a chance de estar aqui; amanhã, tudo vai estar nos jornais. Meu pai gosta de manter a privacidade, até porque ele tem uma imagem pública e outra que só nós, familiares, conhecemos.

Desligo o celular e fecho os olhos, esperando a decolagem terminar.

"Está tudo bem?" Theo pergunta.

"Está. Só não confio muito em aviões."

Pensei em pedir algo para comer, mas me lembrei do que Fernanda disse.

Segundo Lurdes, o voo é curto, mas parece uma eternidade.

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Depois de quase seis horas de viagem, chegamos bem.

Olho para o lado e vejo Theo dormindo ao meu lado. Ele é lindo. Acho que devo manter uma boa relação com ele, já que ele é próximo da minha família.

E pensar que todas as mulheres ficam loucas quando o veem.

A Prostituta Indomável.Onde histórias criam vida. Descubra agora