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Antony era o nome do meu falecido marido. Não o culpo pela traição que cometeu; na verdade, eu nunca o amei. As consequências de sua traição foram dele.

Aos 16 anos, eu já estava namorando Antony, que teve que esperar até eu completar 18 anos. Ele era o namorado dos sonhos. Apesar de seus defeitos, ele me aceitava como eu era.

Antony era maravilhoso, sempre preocupado com o meu bem-estar e até me ensinou a atirar. Ele terminou o colegial, foi bem educado e construiu seu império, alcançando sucesso na vida, além de oferecer oportunidades a muitas pessoas. Era inteligente e gentil.

No entanto, algo não estava certo. Antony não era feliz. Ele ria, brincava e parecia se divertir, mas a felicidade realmente lhe escapava. Não gostava de comemorar o Natal, o Ano Novo, a Páscoa e outras festividades. Embora fosse um bom marido, eu não entendia por que ele não encontrava felicidade. Nossa relação parecia mais de amigos do que de um casal.

Antony se envolveu em negociações ligadas à prostituição e, aqui estou eu, sem querer fazer parte disso.

Quando soube da traição, já era tarde demais; ele já havia sido morto. Teve um enterro digno. Chorei por ter perdido um amigo, não um marido.

Mas, de certa forma, me senti livre. Estou cansada dessa vida, cansada de ver mulheres se submetendo. Em vez de se vestirem de branco, como seria apropriado, vejo-as de preto, como se estivessem em luto.

Minha filha nasceu e eu a criei como mãe solteira e viúva. Aos 5 anos, minha filha morreu atropelada. Senti uma dor indescritível ao perder minha princesinha. Não tivemos tempo suficiente juntas. Quase entrei em depressão. Chorei por ter sido abandonada por Antony e por ter perdido meu bem mais precioso, que me trazia alegria e fazia eu sorrir todos os dias. Minha Manuela lembrava muito o pai; ela era perfeita. Criei um mundo cor-de-rosa para ela, para que não sofresse antes do tempo. Por um lado, não queria ter uma menina, temendo que ela passasse pelo que eu passei, mas, por outro, aqueles momentos foram alguns dos mais felizes da minha vida. Também não queria ter um menino, para que não seguisse os passos do pai.

Manuela ainda vive dentro de mim. Tenho um canto no meu quarto cheio de coisas que eram dela: suas bonecas, algumas roupas, seu primeiro dente que caiu, o corte de cabelo estilo Chanel que ela quis, o sapatinho com glitter, o arquinho com um grande laço e seu perfume de morango.

Minha velha amiga Lurdes apareceu em minha vida como uma luz. Viu meu sofrimento e me acolheu. Lembro até hoje de suas palavras. Ela me encontrou chorando na calçada e sentou-se ao meu lado.

"Você não precisa se tornar uma delas. Converse comigo se quiser, como mulher, como alguém que já passou pelo mesmo que você. Não se entregue ao luto."

Lurdes me ajudou a me tornar quem sou hoje: uma prostituta. Ela me ensinou muitas coisas e, embora tenha me dado um empurrão nesse mundo, disse que eu acabaria gostando do ramo. Era apenas uma questão de me acostumar.

E aqui estou eu. Eu gostei.

Pela manhã, quando acordo, percebo que não estou no mesmo quarto de antes. A cama é tão confortável que não tenho vontade de me levantar. Arrumo o travesseiro sob a cabeça e fecho os olhos novamente, desejando voltar a dormir.

- MEU DEUS! - lembro da noite anterior.

Procuro Theo pelo quarto, levantando a cabeça. Deito-me novamente, sentindo uma bendita dor de cabeça. Olho para o teto. Um vento gelado entra pela porta de vidro aberta da pequena sacada, balançando a cortina.

A Prostituta Indomável.Onde histórias criam vida. Descubra agora