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Mesmo depois de voltar para casa, não consigo parar de pensar em tudo o que Theo me disse.

Ele está completamente equivocado. Conversei com Fernanda e percebi que deveria ter brigado com ele.

Ainda bem que aproveitei aquele corpo uma última vez.
Theo é falso. Como pode dizer que estava apaixonado por mim e, no dia seguinte, me chamar de prostituta como se fosse uma ofensa? Apaixonado é a bunda dele.

Voltamos de viagem há um dia, e nada mudou.

Porém, duas visitas em especial me pegaram de surpresa: Alex e Gael vieram me procurar.
Alex voltou com um convite para jantar, enquanto Gael tem passado todas as noites no bordel para conversar comigo.

Alex já esteve no meu restaurante para tomar café comigo, e Gael tem sido meu parceiro de copo.
O perigo é eu acabar me apaixonando por um deles… ou pelos dois ao mesmo tempo.

Theo precisa entender que ser prostituta não é motivo de vergonha. É um trabalho, e isso não interessa a ninguém. Se uma mulher escolhe usar o corpo como forma de trabalhar, isso não é da conta de ninguém. Ela não está dependendo de ninguém.

Eu juro, se Theo continuar com esse preconceito, vou acabar brigando com ele.

— Você sempre foi assim? — pergunta Gael, ao meu lado no bordel. Estamos ligeiramente bêbados.

Mesmo enquanto trabalho, dou atenção a ele. Afinal, fui paga pelo serviço: fazer companhia, animar a noite.

Penso na pergunta e sinto que preciso que ele especifique. Tenho muitas versões de mim mesma.

— Assim como? Sou de vários jeitos, como você deve ter notado nesses últimos dias. É como se, a cada hora, uma parte diferente de mim surgisse — respondo, provocando.

— Você tem cara de adolescente que sai escondida de casa para ir a festas sem os pais saberem.

— Não escondia muito, não. Meus pais sabiam. Tentaram até me trancar no quarto, mas eu sempre dava um jeito de sair. Eles entendiam que era a minha fase de aproveitar. E você? Sua adolescência foi assim?

— Eu também ia a festas, mas por outros motivos. — Gael parece misterioso. — Mas então, quer dizer que na volta pra casa você deixava uma cena do crime?

— Sempre! — respondo rindo. — Meu pai tinha o hábito de colocar ripas de madeira no quintal para ouvir quem entrava. Toda vez, eu derrubava uma que batia no telhado do quarto deles. Era inevitável!

Gael ri alto.

— Você nunca se lembrava da madeira?

— Eu voltava bêbada, Gael! Meu pai acordava assustado, perguntando: "Que barulho foi esse?" E minha mãe respondia: "É a Larissa chegando, homem."

— Você tem irmãos?

— Sim, um irmão gêmeo. Ele até tentou me vender uma vez.

Gael arregala os olhos, curioso.

— Como assim?

— Quando éramos crianças, ele queria um beijo de uma menina e me trocou pelo beijo dela. Meu pai descobriu e ele apanhou. Achei justo.

De repente, sou interrompida por uma mulher que diz que Lurdes quer falar comigo.

— Só um instante, Gael. Já volto.

Vou até Lurdes, que me espera com um ar enigmático.

— Espero que esteja preparada. Tem um rapaz em um dos quartos à sua espera.

— Quem é?

— Ele não se identificou, só disse que já te conhece. E que vai esperar a noite toda, se for preciso.

— E se eu não for?

— Se eu fosse você, iria. Misteriosos são os melhores clientes, ainda mais pagando caro.

— Não sou objeto, Lurdes. Você sempre me diz isso.

— Mas Gael está só conversando com você e tirando sua vez de atender outros.

— Certo. Vou conhecer o tal homem.

Retoco o batom, solto os cabelos e sigo para o quarto.

Paro diante da porta e bato.

— Entre, querida — diz uma voz grave e vibrante do outro lado.

Entro e vejo um quarto impecável, em tons de vermelho. Tudo parece vazio até ouvir um assobio. Quando me viro, dou de cara com um homem lindo, sentado em um sofá.

Ele veste camisa social aberta, gravata frouxa e segura uma taça de vinho. A máscara que cobre seu rosto só deixa à mostra seus lábios rosados.

Eu travo no lugar.

— Se produziu assim para mim? — ele pergunta, me deixando sem graça.

Balanço a cabeça em confirmação.

Ele me estende uma taça de vinho e tira minha jaqueta. O toque dos seus dedos na minha pele provoca arrepios.

— Você não sabe quantas vezes pensei em tudo o que poderia fazer com você — ele murmura, perto do meu ouvido.

Oh, céus. Cada dia meu trabalho fica mais difícil.

A Prostituta Indomável.Onde histórias criam vida. Descubra agora