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— Você já foi ao circo? — Theo pergunta enquanto analiso algumas coisas.

— Que pergunta é essa agora, Theo? Por que quer saber disso? — respondo, achando estranho.

— Só curiosidade — responde ele, de forma casual.

— Hm... que cheiro de algodão doce...— começo, mas me interrompo ao perceber onde isso pode levar.

— Para! Não começa com isso de novo — digo, erguendo a mão em sua direção. — Respondendo á sua pergunta, eu não gosto muito de circos — na verdade, eu os odeio.

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— Vai logo! — Theo reclama, impaciente com a minha demora.

Apresso-me, tentando pegar as roupas que ele pediu. Entrei no quarto sem bater, e acabei vendo Theo nu. Não que já não tenha visto seu corpo antes, mas ainda assim, eu deveria ter mais respeito. 

Agora, enquanto ele não quer sair pelado e eu também prefiro evitar essa situação, faço o mínimo: pego a roupa dele o mais rápido possível.

— Já estou indo — digo, revirando a gaveta de cuecas e me perguntado qual pegar. — Se quiser, pode sair pelado, sabe que não ligo — provoco, sem olhar para ele.

— Mesmo que você esteja torcendo para isso, pode esquecer. Você vai ficar só na vontade. Muitas mulheres já me viram assim, inclusive você, então fica só na lembrança — diz ele, rindo de forma irritantemente confiante.

— Ah, nossa, morri de rir — respondo, sarcástica, entregando as roupas e saindo para o corredor.

Enquanto espero, lembro do que Theo comento mais cedo sobre o avião ter um cheiro estranho. Como a menina esperta que sou, passei perfume em cada canto, torcendo para melhorar o ambiente.

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De volta ao meu quarto, coloco a mala sobre a cama, tiro os tênis e procuro meu celular na bolsa. Aproveito para fazer algumas ligações: uma para minha amiga, que não parou de falar desde que voltei de viagem, e outra para minha mãe. Apesar de ela não saber do meu trabalho, gosto de dar sinal de vida para que ela não se preocupe. 

Longe dos homens que conheço, sinto um pouco de paz. Não que eu esteja reclamando da atenção, mas não estou falando deles em geral — meu maior problema é o Bruno, meu pai. A única companhia constante que sobrou é o Theo.

Batidas na porta interrompem meus pensamento: minha sobremesa chegou.

Vou até a porta, pego a bandeja e, ao levantar a tampa, vejo a calda deliciosa escorrendo pelo pudim. Pego um pedaço e me sento na varanda, observando os carros em movimento.

Enquanto como, pensamentos se acumulam: por que minha vida está tão confusa?

Lembro-me do toque no Theo, dos seus beijos...mas ao mesmo tempo algo não bate. Nunca me senti assim por ninguém, mas essa energia que ele provoca em mim é inexplicável.

Meu notebook apita com uma notificação: é um e-mail do Jonas, com o relatório que pedi sobre Theo.

"Vamos conhecer Theo Queiroz de verdade", penso, enquanto como mais um pedaço de pudim e começo a ler o documento.

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O relatório confirma alguns rumores: Theo teve vários noivados, mas todos terminaram por traições. Um deles quase resultou em casamento , mas ao que perece, ambos traíram um ao outro.

Estranhamente, não há informações sobre seus pais ou outros familiares. E como se ele fosse um fantasma, sem raízes.

Entretanto, nada ali confirma que ele seja o tipo de homem que sai com qualquer mulher, como diziam em um site suspeito.

Deixo o pudim de lado e, ao ouvir batidas na porta, vejo que é o próprio Theo.

— A que horas sairemos?

— Daqui a pouco. Chamo você quando estiver pronta — repondo, achando que passaríamos a tarde no hotel.

Enquanto me preparo, penso em mudar a decoração do bordel, como sugeriu Lurdes. Um lugar sensual não precisa ser vulgar, e Theo tem me ajudado a pesquisar ideias.

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De repente, Theo surge com algo sério para dizer.

— Larissa, preciso falar com você. É sério.

— Pode falar, ainda temos tempo antes de voltar ao trabalho — digo,  tentando manter a calma, mas nervosa.

— Anos atrás, te conheci. Você usava um vestido roxo longo, com um pequeno decote e uma fenda na perna direita. Você parecia feliz, mas seu sorriso nunca foi sincero. Sempre achei isso fascinante e triste ao mesmo tempo.

Minha mente viaja. Como ele sabe disso? Eu realmente usei esse vestido, mas era um dia que preferia esquecer.

— Não sabia que seu pai era Joseph. Quando descobri, perdi as esperanças de me aproximar.
Depois, você casou...e eu estava lá, no seu casamento não durou muito, e eu ainda não sei por quê.

As palavras de Theo soam familiares. Já ouviu isso antes?

— Eu sei que você não sente o mesmo, mas  eu precisava que soubesse. Sempre fui louco por você, Larissa.

— Eu...não sei o que dizer. Preciso de tempo para pensar — respondo, tentando processar tudo.

Theo apenas  assente, com um sorriso leve.

— Tome seu tempo. Só quero que saiba: estarei aqui, esperando.

Ele sai, deixando-me sozinha com um turbilhão de emoções e decisões a tomar.

A Prostituta Indomável.Onde histórias criam vida. Descubra agora