Por Ruby
Me solta, eu não quero...
O que você está fazendo, com minha a filha? Solta ela, desgraçado...
Pai cuidado...
-Pai...—acordei atordoada e com minha respiração bastante ofegante.
Há algum tempo, não tenho tido esses pesadelos, mas ao que parece, eles resolveram pairar na minha mente mais uma vez, me fazendo lembrar de todo o sofrimento.
Desde que eu nasci, até meus 15 anos, a minha vida foi extremamente estável, digamos. Com uma família bastante unida, e amável.
Nos natais usávamos uns susteres bem brega com estampas de renas, e nas páscoas colocávamos orelhas de coelho e saíamos nas ruas, pedindo doces. Momentos felizes que sempre guardei na minha memoria. Só que, a partir dos meus 16 anos, as memórias felizes tiveram que ceder um pouco de espaço para as tristes.
Me lembro de cada detalhe do dia 06 de Fevereiro de 2012, o dia em que meu pai teve um acidente de carro, comigo dentro. A minha única consequência foi, ter que amputar o antebraço esquerdo, mas já meu pai, o acidente custou-lhe a vida.
Hoje, já com 24 anos, consigo lidar melhor com a perda do meu braço, mas não tão bem com a morte do meu pai. Não que, eu fiquo trancada 24 horas no meu quarto chorando, já passei dessa fase, mas, eu ficava um pouco melancólica, ao ver uma foto dele ou lembrar de algum momento que, passamos juntos.
Com ele, se foi também, a minha vontade de nadar.
Desde os meus 8 anos de idade, pratiquei natação, e eu era apaixonada, até hoje sou, só que a diferença, é que eu não consigo entrar na água. Algo que ocorreu no meu local de treinamento ocasionou o seu falecimento, e me fez perder a coragem de entrar, na água. Porém, com o passar dos anos, comecei a dar treinos particulares de natação. Eu não precisava entrar dentro da piscina, para que meus alunos tivessem um bom desempenho no esporte.
E de qualquer modo, a falta do meu antebraço dificultava um pouco. Contudo, com muito treino, talvez eu pudesse voltar nadar lindamente, mesmo sem ele. A único item, que me faltava era a coragem, o pequeno empurrão, para deixar o trauma de lado e voltar a fazer o que sempre gostei.
A primeira pergunta que normalmente as pessoas costumam me fazer, é como que eu lido com a perda do meu braço. Confesso que no inicio não foi nada fácil, eu tinha que me adaptar a tudo, e ainda lidar com a minha suposta depressão. Eu até experimentei usar uma prótese, porém, era muito desconfortável e eu não me adaptei muito bem a ele, então, decide não usá-lo e aprender a fazer as coisas, só com meu braço direito, e posso dizer, que hoje, não é um problema.
A única parte mais difícil, é lidar com os preconceitos, que infelizmente, ainda existem. Contudo, comecei a ficar imune a elas, pelo menos um pouco. Tento mostrar ás pessoas, que não é nenhuma doença e que posso viver, normalmente, assim como elas.
-Ruby, o almoço está pronto—ouvi minha mãe gritar lá de baixo e apressei-me em vestir, pois, estava saindo do banho.
Lauren Milburn, minha mãe. Desde então, tem sido somente nós duas, e minha tia que vem nos visitar, de vez em sempre. Ela leva sua vida melhor agora, aprendeu a lidar com a morte do marido, assim como eu, e guarda as melhores memórias que viveu com ele. Sorridente e sempre com os melhores conselhos, meu suporte e refúgio na maioria das vezes.
Desci as escadas apressadamente, pois estava com bastante fome. Consequências de acordar tarde, seu estômago parece que vai te sugar, de tanta fome.
-Bom dia, mãe—falei dando um beijo na sua testa e vi ela me recriminar com os olhos.
-Boa tarde, filha. Ficou até tarde vendo série?—perguntou mesmo já sabendo a resposta.
-Pouquíssimos episódios, quase nada—disse fazendo uma cara de inocente e ela sorriu, negando com a cabeça.
-Sua tia, vem passar uns tempos cá—ela informou colocando a comida em cima da mesa e meu sorriso aumentou.
Pela comida e pela estadia da minha tia, aqui em casa.
-Quando?—perguntei ansiosa.
-Ela disse que chegaria de surpresa, você conhece ela—sorriu, serviu sua comida e eu fiz o mesmo.
-Eu posso arrumar o quarto de hóspedes, não precisa se preocupar com isso—informei-a e ela assentiu concordando enquanto comíamos.
Continuamos jogando conversa fora, assim como em todas, as refeições. Eram dos poucos momentos que tínhamos juntas, pois, ela trabalhava por turno no hospital e eu tinha meus alunos, então dificultava nossos momentos mãe e filha, mas sempre dávamos um jeito.
-Tens aulas hoje?—ela perguntou no mesmo tempo em que colocávamos os pratos na máquina, de lavar.
-Não, hoje eu vou para a entrevista da MultiArts—falei e e ela parou voltando-se para mim sorridente.
-Eu pensei que seria só no próximo mês—pronunciou arrumando meu cabelo.
-Eles anteciparam, porque, querem abrir o espaço, o mais rápido possível—disse entusiasmada e ela me abraçou.
-Você vai conseguir, boa sorte—ela separou o abraço, ainda sorrindo, e me olhando com carinho—pode ir escolher sua roupa, eu termino isso daqui—eu ia recusar mas ela me colocou para fora da cozinha.
MultiArts é um projeto, que está sendo desenvolvido aqui em Londres, por empresários Canadenses, o espaço é extremamente grande, com todos os tipos de esportes e artes possíveis. E estou me candidatando para treinadora de natação.
Trabalhar num lugar assim, seria um enriquecimento de cultura e arte para a vida, que até na limpeza, eu trabalharia só para fazer parte daquela comunidade.
Vi algumas fotos do projeto e é incrível. Os donos responsáveis, doam mais que metade dos lucros para instituições mais carenciadas de arte, e o preço de inscrição dos alunos não é tão elevado, muito pelo contrário, é bastante acessível.
Entrei no meu quarto e fui até o guarda-roupa, procurar algo que eu poderia vestir para a ocasião. Pensei em vestidos, mas o tempo estava um pouco frio, então, optei por uma calça e bota. Sempre são uma boa opção.
Meu olhar se desviou para a parede do meu quarto onde se encontravam, todas as minhas medalhas e certificados que ganhei, ao longo da minha trajetória na natação. Senti uma certa nostalgia, encarando-as.
Peguei os bastantes certificados e todos os documentos que pudessem me ajudar na obtenção da vaga, pois, eu tinha a plena noção que seriam, milhares de pessoas buscando uma vaga, também.
Votem, comentem e me sigam por favor.
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AQUA |✔|
RomanceRuby Milburn Uma mulher que teve sua adolescência marcada por um grande trauma. Trauma esse que a persegue até a sua vida adulta e que a impede de fazer o que mais gosta...nadar. Junto com esse trauma, veio também a perda do seu antebraço, que fez c...