TRINTA E SETE

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Respirei fundo tomando coragem e, entrando totalmente dentro da água, mergulhando a cabeça. Senti uma sensação de nostalgia boa, atravessar todas as minhas veias, e me trazer paz e sossego.

Nadei por cada canto daquela piscina, sem me preocupar se estava ficando mais tarde, ou se precisava descansar, para amanhã. Eu só aproveitei cada momento.

Ao me sentir cansada resolvi ir para a borda e descansar um pouco, ganhar um pouco de folêgo.

Coloquei minhas costas, na parede da borda, ainda dentro de água, de cara com toda aquela imensidão azul.

-Estou bem destreinada—comentei, comigo mesma, ainda ofegante.

Senti alguém pulando na água, me assustando.

-Está me seguindo?—perguntei irónica.

-Só estava com calor mesmo, e resolvi vir—ele respondeu, no mesmo tom, se aproximando de mim.

-Senti sua falta no jantar, hoje—comentei, e senti minha pele esquentar, logo em seguida.

Allan só sorriu, se aproximando mais e, ficando do meu lado, com o rosto para frente, vendo a água.

-Eu também senti...—ele pronunciou e eu sorri de lado.

Eu não sabia o que dizer, estava parecendo uma adolescente, perto de alguém, que eu provavelmente, gostava.

-Ruby, posso te perguntar uma coisa?—ouvi sua voz, um pouco receosa.

-Pode...—respondi simples.

-Porquê você não gostava, de entrar dentro de água?—ele questionou—Se não quiser contar, eu respeito—ele completou e, eu sorri.

-Tudo bem, todo esse peso caiu, no momento que eu entrei dentro do mar. Como eu te tinha dito aquele dia, eu costumava ficar até tarde treinando, e numa dessas noites, eu estava dentro de água, junto com o meu ex treinador, e ele começou a insinuar umas coisas bem estranhas, eu nem respondia, só que ele começou a se aproximar de mim, e... e me agarrou...meu pai sempre ia me buscar, e naquela noite ele deve ter notado minha demora, e quando ele entrou na minha área de treino, e viu o treinador tentando me violentar, ele surtou completamente... bateu nele quase que o matando. Saímos de lá com ele descontrolado...eu até pedi que ele não conduzisse, porém, ele não escutou, ele saiu conduzindo desesperado e desorientado pelas ruas, e acabamos que tendo o acidente...ele não resistiu e faleceu, e eu perdi meu braço—contei tentando não chorar, porque eu já tinha até superado a história, contudo, eu sentia muita falta do meu pai.

Olhei para Allan, e ele tinha um misto de emoções estampadas no rosto. Raiva, tristeza, pena, talvez. Mas ele permaneceu calado.

-Anos se passaram e eu nunca tive coragem de entrar dentro de água, sempre me lembrava a cena, e eu entrava em pânico, eu nem conseguia nadar...você viu aquele dia—completei e ele assentiu, lembrando do dia que eu caí na piscina de susto.

-Eu nem sei o que falar...—ele se pronunciou e, eu sorri simples.

-Não precisa dizer nada, você já fez e faz muito por mim, Allan...você me ajudou a ultrapassar esse trauma que, me atormentou por anos, e me impediu de fazer o que eu mais amava... você é uma pessoa incrível, Allan—falei e ele sorriu acariciando minha pele me fazendo fechar os olhos, com o carinho.

-Eu realmente, não quero te pressionar a nada, Ruby, mas eu gosto de você, gosto muito—ele declarou me fazendo abrir os olhos no mesmo tempo.

Com certeza, eu estava bem vermelha, e sem saber o que falar. Vi nos olhos dele, que ele estava com medo, de me machucar ou algo do tipo. E eu vi que se algo tivesse que acontecer, eu teria que o fazer.

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