DOIS

1.9K 149 2
                                    

-Estou na porta da sua casa—falei quando ela atendeu.

-Dois minutos—ela respondeu parecendo estar bastante nervosa.

Jean Clark, minha amiga desde sempre, a única para além, da minha mãe e tia que conhece minha história e tragédia de vida. Sempre me ajudando, me colocando para cima, e me tirando de enrascadas, devido aos meus desastres, que causo constantemente.

-Eu estou nervosa—ela disse ao parar na minha frente e me abraçar.

-Se isso serve de consolo, eu também estou—ela olhou para mim de forma confusa.

-Com toda essa experiência, você nem precisa de entrevista, você é maravilhosa, vai conseguir—ela disse carinhosa me colocando, para cima como sempre fez.

Jean é a autoestima, que me falta.

Abracei-a de lado e fomos andando em direção ao seu carro.

O caminho não foi tão longo, porque, fomos conversando e contando as muitas novidades que ela tinha, como sempre. E por alguns minutos o nervosismo que eu estava sentindo, se evadiu.

-Chegamos—ela exclamou apreensiva— se não conseguirmos, saímos para beber um copo, e caso conseguirmos, bebemos a garrafa toda—ela disse extremamente nervosa olhando para o prédio onde ocorreriam as entrevistas.

-Jean, calma, vai correr tudo bem, e eu não bebo—falei e ela assentiu.

-Eu esqueci, estou nervosa...Jean se concentra, você é incrível e vai conseguir o emprego—ela disse para si mesma respirando fundo e soltando o ar, ficando mais calma.

Descemos do carro e demos as mãos para entrar no edifício. Era uma grande construção onde ocorria entrevistas de empregos de várias empresas. E logo na entrada já deparámos com uma grande quantidade de pessoas, sentados e em pé, pois, os assentos estavam lotados.

-A nossa sorte é que não vamos para o mesmo ramo, aquele ali tem cara de pintor e aquela mulher, parece musicista—Jean disse analisando as pessoas e eu assenti concordando.

Algumas pessoas parecem com as profissões delas, e o hobbie de nós duas era descobrir qual profissão, assim, passava o tempo e não ficávamos, totalmente entediadas.

-Boa tarde—uma mulher bem vestida pronunciou bem alto chamando a atenção de todos—Nesse corredor, á nossa esquerda—falou apontando—tem várias portas, com pequenas placas, especificando cada área, é só entrarem na sala do ramo que pertencem, sentar e esperar, boa sorte—completou simpática, se retirando.

Fomos andando até o corredor indicado, e Jean entrou na sala que pertencia, a de dança/ballet, e eu fui para a de natação. Só de vista, eu pude contar uns 30 candidatos, e eram somente 10 vagas, então o medo e o receio de não ser escolhida, começou a me dominar.

Algumas pessoas, olhavam pro meu braço um pouco confusas, talvez, por achar que a falta dela me dificultava de fazer, meu trabalho bem. O meu medo era que a pessoa que iria me entrevistar tivesse o mesmo olhar que essas pessoas.

Horas se passaram e a sala foi se esvaziando conforme as pessoas, iam sendo entrevistadas.

-Ruby Milburn?—uma senhora chamou meu nome e meu coração, pareceu que ia sair do meu peito.

-Sou eu—falei me levantando e ela assentiu.

-Me siga, por favor—ela pediu e eu a acompanhei.

Adentramos numa pequena sala simples, com uma secretária e uma pequena estante com alguns livros, mas mesmo assim, não deixava de ser bastante sofisticado..

-Sente-se srta.Milburn—a senhora disse e eu obedeci, sentando-me á sua frente.

Entreguei-a o envelope com meus documentos. Ela começou a analisa-las, silenciosamente e sem nenhuma expressão facial.

Eu esfregava a minha mão na perna, porque, comecei a suar de nervosismo e ansiedade.

-Quais são suas experiências profissionais?—ela perguntou de forma profissional, me analisando.

-Treinamento em alto nível de natação, arbitragem em natação, avaliação e prescrição de exercícios, e além disso, sou treinadora particular há 6 anos—respondi no mesmo tom que ela, que continuava sem expressar nada, e eu não sabia, se me preocupava ou se achava normal.

-Qual o seu público alvo, nos treinamentos que leciona?—ela questionou dessa vez com os olhos no papel.

-Todas as pessoas que praticam ou que queiram praticar atividades aquáticas—respondi com um pequeno sorriso.

-Obrigada pelas respostas srta.Milburn, receberá nosso e-mail, informando-lhe nossa decisão, tenha um bom dia—ela disse se levantando e me estendendo a mão em despedida.

-Obrigada e igualmente—falei apertando-a, e saí da sala com ela me acompanhando.

Respirei fundo, já no corredor, tentando colocar na minha mente, pensamentos positivos.

Vi Jean, ao lado da porta da sala que ela estava, me esperando. Ao me ver, veio correndo até mim, parecendo estar bastante feliz.

-Como foi?—perguntei-lhe animada pela sua animação.

-Super bem, o homem que me atendeu foi super gentil, educado e gostou bastante do meu currículo e experiências—ela contou e eu a abracei, feliz por ela.—E você? Como foi lá?—questionou curiosa.

-Ao contrário de você, a mulher que me atendeu não expressava nada, então ela pode ter gostado ou simplesmente, detestado—falei sincera e ela segurou meu rosto com suas mãos.

-Eles não são nem idiotas de não te contratar, pensamentos positivos. Vamos, eu pago o almoço.—ela disse me arrastando pelo braço.

Acho, que deu para perceber, que eu sou bem insegura.

...

-Como correu?—minha mãe me perguntou sorrindo ansiosa pela resposta.

-Bem, digo, normal, ela me disse para aguardar sua decisão—contei-lhe e ela assentiu me olhando com carinho, de certa forma, me dando apoio.

-Bom, se algo der errado, o que eu duvido, pelo menos, você tem sua tia maravilhosa aqui para te consolar—ouvi uma voz divertida falar, atrás de mim, e meu sorriso abriu grandemente.

Me virei, vendo-a com os braços abertos aguardando meu abraço, com um grande sorriso estampado no rosto.

-Eu imaginei você entrando pela janela do meu quarto, de madrugada—falei brincando, ainda abraçando-a

-Esse ano resolvi chegar de uma forma mais calma, porém, continuo a mesma—ela falou passando as mãos pelo seu corpo e dando uma volta.

Lacey Milburn, a tia mais maluca desse universo. A pessoa que mesmo você estando numa depressão, ela será capaz de lhe fazer dar altas gargalhadas. As suas chegadas aqui em casa são sempre de formas triunfais, então, estranhei ela ter chegado de uma forma tão calma, dessa vez. Solteira, mas, como ela mesmo diz, nunca sozinha. A única que consegue persuadir minha mãe, para sair e se divertir. Uma mulher maravilhosa em todos os sentidos.

-Estou cheia de fome, teve várias turbulências, então, não puderam servir a comida no avião—ela disse bufando e indo até a cozinha, onde minha mãe tirava uma travessa do forno.

-Eu não sabia que iria chegar, por isso, não consegui preparar seu prato predileto—minha mãe lhe informou e ela assentiu sorrindo.

-Sem problemas mana, se for comida, para mim já está ótimo—falou se servindo.

Votem, comentem e me sigam por favor

AQUA |✔|Onde histórias criam vida. Descubra agora