Peguei um ónibus e alguns minutos depois, desci perto da livraria Ls'coffe. Só pela aparência de fora, eu já tinha gostado. Entrei analisando cada canto, e notei que, era muito maior, da que eu costumo ir, perto de casa. O ambiente era descontraído, então, eu poderia muito bem, frequenta-lo, mais vezes.
Sentei-me, perto da janela, para que eu pudesse ver a chuva cair, enquanto, bebia uma boa dose de café e apreciava, um bom livro. Pedi meu café, que me foi entregue, rapidamente, e que por sinal estava maravilhosa.
Definitivamente, eu frequentaria, mais vezes.
Fui escolher um livro, no meio de tantas, que passei algum tempo, para decidir, entre três. A quantidade de livros daqui muito maior, e tinha vários alguns lançamentos, também.
-Vou escolher esse, e outro dia volto para ler o outro— falei para mim mesma, pegando o livro de Nicholas Sparks, "The notebook".
Voltei para onde estava sentada, me concentrando, para começar a leitura. Estava tão concentrada nela, que até me desliguei do mundo lá fora.
-Ruby?—ouvi alguém me chamar e quase que me irritei.
Ser interrompida durante uma leitura, que por acaso estava muito boa, com certeza, não está na lista de desejos, de ninguém.
Respirei fundo, antes de levantar a cabeça, e ver Peter á minha frente.
-Peter—falei o cumprimentando, com um sorriso simples.
-Você por aqui?—ele perguntou, sorrindo.
-Pois é, a livraria perto da minha casa estava fechada, então, vim nessa—falei pousando meu livro na mesinha, á minha frente.
-É, aqui é bem frequentado, mesmo—ele comentou passando os olhos pelo local.
-Você veio ler, também?—perguntei curiosa.
-Não, não sou muito chegado aos livros, vim mais pelo café, que é muito bom—ele disse dando uma risadinha.
-É mesmo—falei apontando, para o meu café.
-Então, vou te deixar ler seu livro, você parecia estar concentrada—ele comentou sorrindo de lado.
-Tudo bem, nos vemos, no trabalho—falei me despedindo.
-Até—ele disse e saiu andando.
Voltei a ler meu livro, e tentando concentrar-me, novamente, porque, tinha parado numa parte, muito boa.
Nem notei as horas passando, e quando voltei meu rosto para a janela, notei que já estava de noite. Peguei meu celular, vendo que já ia dar 20 horas.
Fui colocar o livro no lugar, paguei pelo café e saí dali. A chuva já tinha parado, estava caindo, somente, algumas gotinhas.
A rua estava bastante iluminada e com algum movimento. Fui andando até a estação de ónibus, mas, ao ir atravessar a estrada, um carro estava vindo tão depressa, que para não me acertar, ele teve que travar, brutalmente.
Eu gritei de susto, sentindo meu coração quase sair do peito.
-IDIOTA, NÃO ESTÁ VENDO QUE ISSO É UMA PASSADEIRA...—gritei assustada e furiosa ao mesmo tempo.
Minhas mãos estavam tremendo, e o susto estava percorrendo, todo o meu corpo. O homem saiu do carro vindo correndo na minha direção.
-Allan? VOCÊ NÃO SABE CONDUZIR, NÃO? QUASE ME ATROPELOU—gritei com ele, mesmo sabendo que ele era meu chefe, mas no momento, não estava nem aí.
-Calma, Ruby, é que você apareceu, de repente—ele se justificou me deixando ainda mais furiosa.
-DE REPENTE? VOCÊ DEVE ESTAR GOZANDO, COM A MINHA CARA—esbravejei irritadíssima.
-Foi só um susto, você está bem, prometo tomar mais cuidado, da próxima vez—ele disse fazendo sinal de juramento.
-Próxima vez? Você pretende "quase atropelar" outra pessoa, novamente?—perguntei indignada, ainda com o efeito do susto, rondando minha cabeça.
-Deus do céu, Rubí, você continua a mesma estressada, de sempre—ele disse e eu arregalei os olhos, ficando tudo claro na minha mente.
Parei por dois segundos, me relembrando, desse rosto cretino.
-Rubí? Você me chamou de Rubí? EU SABIA! Eu sabia que te conhecia, de algum lugar—falei indignada olhando, para cima—Só podia ser, como eu não me lembrei, desse seu rosto idiota, antes—falei passando a mão no meu rosto.
-Você ainda está chateada com aquilo? Já passou tanto tempo—ele disse me fazendo ficar, ainda mais irritada.
-VOCÊ E OS SEUS AMIGOS IDIOTAS, INFERNIZARAM A MINHA VIDA E DA MINHA AMIGA, DURANTE O ACAMPAMENTO, INTEIRO—gritei nervosa, e cheia de raiva.
Eu nunca me exaltei daquele jeito, sempre fui uma pessoa equilibrada, que resolvia tudo na base de uma conversa cordeal, mas, não com o idiota do Allan, ou com um dos seus amigos.
-Olha aqui Allan ou Lan, como eu te conhecia, eu jurei que nunca mais eu iria te ver, e olha só, você é meu chefe... eu devo estar pagando, algum pecado—falei negando com a cabeça, rindo sem humor.
-Eu pedi desculpas...—ele começou a falar e eu, o interrompi.
-E segundos depois eu descobri da aposta, e isso foi só uma das coisas que vocês fizeram... vocês me fizeram perder, o colar que meu pai, me tinha dado,MEU PAI... e ainda apostaram, quem me levaria pra cama, primeiro. Graças a Deus, eu descobri antes, só que vocês conseguiram enganar a Mel, que verdadeiramente gostava do Luke. O auge de tudo, foi ter roubado nossas roupas na praia e nos fazer ir pelada para os acampamentos. Todos, um bando de sem noção—despejei só um pouco, do que estava entalado, para eu falar, há muito tempo.
-Eu sei e me arrependo, só que eu era jovem, e não tinha muita noção, das consequências dos meus atos...—ele começou a falar e mais uma vez, o interrompi.
-Não, você era um rostinho bonito com ego inflado, que gostava de brincar com os sentimentos dos outros e como não conseguiu me enganar junto com seus amigos, se achou no direito de nos trolar, de todas as formas possíveis—falei vendo ele ficar calado, talvez, porque ele sabia que o que eu falava, era a mais pura das verdades.
-Tudo bem, talvez fosse isso mesmo, porém, eu nunca concordei com a aposta, as outras trolagens eu até participei, mas, da aposta não—ele disse parecendo ser convincente, contudo, eu não conseguia acreditar.
Eu passei vários anos, ouvindo piadinhas, mesmo, quando meu pai tinha morrido, eu ainda ouvia aquelas piadas, e foi algo que, se acumulando, acabou me afetando muito, praticamente destruiu minha adolescência, pois, eu tinha apenas 16 anos, na época em que , tudo aconteceu.
-Vamos fazer assim Allan, você é meu chefe, eu trabalho na sua instituição, então, vamos ter que conviver, só que, vai ser uma convivência, estritamente profissional, você vai esquecer que me conheceu antes, e eu vou fazer o mesmo, e vai ficar tudo bem, pode ser?—perguntei olhando bem no fundo dos seus olhos, e vi ele respirar fundo.
-Tudo bem, Ruby—ele disse por fim, se rendendo.
-E não me chama mais de Rubí, eu sempre odiei você e seus amigos, me chamando assim—falei por fim, dando as costas para ir, pegar meu ónibus.
-Me deixa pelo menos, te levar em casa—ele gritou comigo já de costas, então virei-me novamente, para ele.
-Eu tenho falta de uma mão, não de um pé, mas, mesmo assim, obrigada, porém prefiro ir de ónibus.—falei por fim dando as costas e continuando a andar.
As memórias de onze anos atrás vieram com tudo. Eu realmente achei que tinha superado, talvez, porque nunca mais tinha visto nenhum deles, mas, agora descobrindo que Allan era um dos membros daquele grupo, foi como se a ferida, tivesse se abrido, e tudo o que eu tinha guardado, todo esse tempo, tivesse que sair da minha boca.
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AQUA |✔|
RomanceRuby Milburn Uma mulher que teve sua adolescência marcada por um grande trauma. Trauma esse que a persegue até a sua vida adulta e que a impede de fazer o que mais gosta...nadar. Junto com esse trauma, veio também a perda do seu antebraço, que fez c...