Em lugar de mil palavras, deixa o instinto se exercer
Deixa o íntimo silêncio percorrer só
Câmara secreta. Eu o observo. Tão decidido. Consegue abrir a passagem para buscarmos os dentes do basilisco sem saber a língua das cobras. Lembra-se de pegar uma vassoura porque aparentemente temos que subir um túnel enorme para voltar.
Ele é incrível. E quero dizer isso com todas as palavras que preciso dizer, mas não me permito, aquele medo infantil volta e apenas o observo.
― Você precisa ter essa honra. – ele coloca a taça de Lufa-Lufa no chão a minha frente, está olhando apreensivo pra mim como se soubesse exatamente o que estava por vir, talvez ele soubesse mesmo.
― Não acho que consigo.
― Consegue. – ele confirma com a cabeça. – Precisa sentir como é. Estou aqui por você.
O encaro, tem tanta certeza em seu olhar, quero lhe dizer que é por esse e outros motivos que ele é a pessoa mais importante para mim no momento, quero lhe dizer que o amo antes mesmo de saber o que é amor, quero lhe dizer que apesar de estarmos no meio da guerra quero o beijar. Preciso tanto o beijar.
Mas não faço nada disso. Pego um dente de basilisco e encaro a taça. Aquele pequeno objeto brilhante me encara e em seu reflexo começo a ver formas.
― Hermione eu vi sua alma e ela é minha... – uma voz pavorosa sai do objeto e uma fumaça preta sobe. – Sempre sozinha na infância, ninguém querendo ser seu amigo, sua esquisita. – uma menina nas sombras está chorando, um grupo de crianças a aponta e começa a rir. Sinto algo mexer dentro de mim. A mesma sensação de anos atrás de abandono. – Tentando parecer esperta e sempre ignorada, lembra-se do olhar de desprezo de sua mãe quando descobriu que era bruxa? – fecho os olhos não quero ver mais as sombras. Então o olhar de minha mãe quando recebi a carta de Hogwarts aparece em minha mente, seu olhar de desaprovação e decepção. – Pesadelo, palavra adequada para te definir. – A voz volta a solar e abro meus olhos. Rony e Harry nas sombras rindo. Lembro de um choro no banheiro.
― Hermione, não o escute, acerte a taça... – uma voz ao fundo fala, não sei quem é...
― Já reparou que nenhuma menina é sua amiga de verdade? Nunca tão bonita quanto elas. – ergo os dentes do basilisco no alto. – Ninguém nunca te olhada com outros olhos, sempre esquisita, sempre um pesadelo, sempre um livro andante...
― Hermione acerte!
Sinto lágrimas descerem de meu rosto e me encaminho pra taça decidida, com a maior força que consigo reunir acerto a taça. Um grito de dor ecoa, um líquido preto do objeto. Sento no chão arfando e soluçando de tanto chorar. Sinto Rony atrás de mim me abraçar.
― Você nunca foi um pesadelo. Me desculpe. – ergo meus olhos para ele e entrelaçou meu braço em seu pescoço, o abraço sem medo.
Todos meus medos interiores haviam sido revelados, e ele mesmo assim não se distanciava de mim, quero lhe agradecer por ter sido primeiro meu amigo, quero lhe dizer que não quero ser mais sua amiga. Mas não faço. Me permito ser envolvida por ele e chorar tudo que precisava chorar.
.
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Tentativas vãs de descrever o que me calou
Me roubou palavras e chão e ar
Me roubou de mim
Ela me encara, totalmente julgadora. Enquanto dou garfadas e mais garfadas em minha pizza. Sinto suas palavras me atingirem “Você vai engordar”. “Ninguém vai olhar para você”. “Todos vão apontar e dar risada”. “Vai chorar quando não achar nenhum vestido do seu tamanho”. Mesmo assim ignoro suas palavras em minha mente e pego a sobremesa. Sorvete. Sento no sofá ao lado de meu pai, e me permito ser abraçada pelos ombros.
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Somos Nó(s)
FanfictionSe uma pessoa é formada de momentos, o que poderíamos falar de uma família? Todos os detalhes da vida da família Granger/Weasley será apresentada em várias linhas temporais, narradas em primeira pessoa pelos membros dessa família. Mostrando momentos...