Eu não preciso ensinar
Eu não preciso pregar
Eu não preciso me explicar
É impressionante o quanto o tempo muda as coisas, mas não todas. Espera-se que em algum momento as mulheres sejam vistas como pessoas igualmente capazes quando comparadas aos homens. Espera-se por salários iguais, por respeito, por liberdade de escolha e de expressão. Sem que julguem todo e qualquer movimento como algo ligado ao gênero e não as capacidades mentais e físicas de cada indivíduo.
Infelizmente, não é assim.
Eles julgam nossas escolhas de roupa, penteado, jeito de falar e de andar. Eu com a ministra da magia preciso escutar piadas, gracinhas que tenho certeza quase nenhum ministro antes de mim teve que ouvir. Permaneço irredutível mesmo assim e algumas vezes, a maioria na verdade, respondo sarcasticamente e sigo meu caminho. Sou ocupada e dedicada.
Foi uma vitória chegar a esse cargo e certamente eu merecia ele, porque ninguém estudou sobre o mundo bruxo mais do que eu, ninguém se dedicou a atender e entender as diferentes formas de vidas, ninguém ficou mais tempo dentro do ministério do que eu. Mas alguns ainda insistiam de me chamar de melhor amiga de Harry Potter. Ou perguntar diariamente o que meu marido achava de ser casado com alguém que passava mais tempo no trabalho do que em casa. Como se fosse obrigação dele achar algo.
― Eu odeio todos eles. – Digo amarrando meu cabelo. Procuro livros pelas prateleiras e nenhum parece me chamar atenção.
Rony me observa calado. Ele está sujo de farinha, estava testando uma receita que sua mãe lhe ensinou. Ele adorava cozinhar para se acalmar, se divertia misturando ingredientes. Quem poderia imaginar? Eu detesto qualquer tipo de interação com o fogão, só fiz aquela lasanha porque ele disse que eu não era capaz. E eu sou capaz de fazer qualquer coisa.
― Não fique ai me olhando com esse avental e essa farinha. – Me jogo na poltrona. Seu avental diz “Melhor Pai do Mundo”. Eu não tenho nenhuma camiseta dizendo melhor mãe do mundo. E se dependesse de Rose, teria uma com a frase pior mãe do universo, ela faria questão de dizer que o mundo seria pouco para representar o quanto eu era ruim.
Quando ele se ajoelha em minha frente e segura minhas mãos sinto ainda mais raiva. Não dele, mas de todos os outros. De todos que não enxergam quem sou, do que sou capaz, que não enxergam quem ele é, do que ele é capaz.
― Você está linda com o cabelo amarrado e irritada. – Seu sorriso me desarma, faz com que eu suspire.
― Por que não são iguais a você? – Beijo a ponta de seu nariz. Rimos e ele se deita em meus joelhos.
― Que bom, senão quem me garante que você me escolheria. – Seu cabelo é macio e eu gosto da sensação de tocá-lo.
― Eles acham que estou errada, que você não merece ficar tanto tempo em casa enquanto eu fico naquele prédio tentando tornar a vida deles, de todos muito mais fácil e segura. E eu não sei se eu mereço...
― Você merece. – Ele levanta a cabeça e fica olhando fundo em meus olhos. – Você merece tudo que conquistou com esforço. Eu era Auror e não aguentava aquilo, eu gosto de trabalhar na loja. E sou muito orgulhoso de declamar para todo cliente que sou o marido da ministra.
― Ninguém merece achar isso bom. Não sei o que preciso fazer, quem preciso ser. – Estou frustrada por me fazerem me sentir assim.
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Somos Nó(s)
FanfictionSe uma pessoa é formada de momentos, o que poderíamos falar de uma família? Todos os detalhes da vida da família Granger/Weasley será apresentada em várias linhas temporais, narradas em primeira pessoa pelos membros dessa família. Mostrando momentos...