Abri os olhos

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Sei mais do que eu quis, mais do que sou
E sei do que sei
Só não sei viver sem querer ser
Mais do que sou


Estou voando alto. Sinto o vento cortar meu rosto e não me importo. Quando se tem 11 anos estamos entre o querer ser criança e o não querer ser. Gosto de sentar no balanço que fica no fundo da casa dela. Gosto de apostar qual de nós dois conseguimos ir mais alto. Gosto de me arriscar pulando no último segundo e derrapando na grama que cobre o chão duro.

Seus cabelos estão curtos e uma franja quase toca em seus olhos. Suas sardas brincalhonas em seu nariz pequeno e frágil. Tão diferentes das minhas que tomavam conta quase do rosto inteiro.

As pessoas gostam de falar do primeiro amor, aquele dá infância, um tipo de amor que levamos pela vida toda. O primeiro. O mais puro. O que não sabemos nada sobre. Ali estava ela, meu primeiro amor. Balançado ao meu lado, rindo como se fosse muito mais divertido do que realmente era. Entregue ao vento.

― Lily, está nervosa para a escola? – Questiono e observo enquanto seu balanço vai perdendo forças até parar ao meu lado. Agora arrastamos os pés na grama.

Ela morde o lábio inferior, coça a cabeça e por fim respira fundo.

― Um pouco.

Ficamos em silencio por vários minutos, provavelmente ela estava pensando sobre a viagem de trem, sobre as vestes, sobre a seleção das casas. Eu estava pensando que Lily era a menina mais bonita que já virá em toda minha vida.

― Gosto de pensar que será uma aventura. – Ela suspira. – Vamos estudar em um lindo castelo e poderemos aprender mais sobre magia. É como...

― Um conto de fadas. – resmungo me culpando por ter sido o responsável por ela gostar tanto dessa fantasia.

― Exatamente. Quem sabe encontro príncipes encantados. – Ela suspira sonhadora.

Eu volto a balançar o mais rápido que consigo. Sabendo que nunca me encaixaria naqueles sonhos. Nunca seria seu príncipe porque eu era apenas o Hugo. Primo esquisito que gosta de coisas trouxas.

Pulo no momento errado e ao invés de cair em pé, saiu rolando deixando um rastro de arranhões em meu rosto, braços e pernas.

.

.

 

O fato é o ato da procura
E a cura não resiste só
O que era certo eu descobri
Nem sempre era o melhor


Eu sempre observei eles, meus pais, estão sempre implicando um com o outro, mas sempre estão se apoiando de forma singular. Vi quando meu pai teve que sair do ministério, minha mãe o abraçava mais frequentemente, parecia querer lhe dizer que estava tudo bem. Tudo bem se ele podia ter um horário mais flexível que o dela no trabalho, tudo bem se ele ganhava menos que ela. E ele a beijava lhe agradecendo com os olhos marejados. Todo dia no jantar faziam isso. Diziam que iam lavar a louça sem magia, só pra ficarem conversando sobre o que assombrava meu pai, falavam baixo, via os olhos dele apertados, ela apertava seus ombros. Eram o apoio um do outro.

Vi meu pai fazer a mesma coisa por ela pouco tempo depois quando minha mãe foi nomeada ministra da magia. Sim, minha mãe ministra da magia. Inimaginável e algo, completamente certo, Hermione Granger Weasley, a pessoa que mais lutava pelas minorias, que havia conseguido colocar regras e pagamento para os elfos, se transformou em ministra. Meu pai esbanjava orgulho. Muito mais que ela. Quando foi anunciada nova ministra ele estava ao seu lado. Seguravam a mão. Ele apertava a mão dela com muita força. Percebi porque os nós dos dedos de meu pai estavam brancos, e ela retribuía o aperto. Durante seu discurso inicial ele estava ao fundo a olhando todo orgulhoso com os olhos marejados. Teve certo momento que ela ficou sem fala, mas o olhou e logo prosseguiu. Eles eram assim. Apoio um do outro.

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