Um dia bom. Um dia besta

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Vem ver, amor
O dia que se levantou pra gente


Seus olhos estavam completamente vidrados. Eles andavam de mãos dadas como se tivessem minha idade e não conseguissem se separar por um segundo. Nem mesmo eu com meu humor questionável conseguia ficar alheia a todas aquelas luzes e pessoas. Mas ele parecia ter encontrado um lugar mágico, como se nós não conhecêssemos a magia.

Já tinha escutado sobre como aquele era um lugar para artistas, que os artistas se encontravam. De fato ele era nossa artista. Hugo carregava pelo menos três tipos de máquinas fotográficas que eu não fazia ideia do para que serviam e porque ele precisava de todas. Mas ele precisava.

― Não posso desenhar. Levaria tempo demais. – Ele suspirou entristecido. - Não vou conseguir guardar tudo em minha mente, minha memória é boa mas os detalhes se perdem. Com as fotos posso lembrar, posso escolher ângulos.

Então aproveitou minha careta e clicou algumas vezes apenas para me irritar.

― A câmera te ama maninha.

Eu empurrei ele para longe, não gostava tanto de fotos assim, mas Hugo vivia dizendo o quanto a câmera me amava, então acabava tendo muitas fotos espontâneas que ele tirava sem que eu nem percebesse.

Meus pais relembravam uma viagem de antes de nós.  Paravam para sorrir e ficar abraçados apreciando o nada. Era um dia tão iluminado. Um dia bom.

Comemos comidas de rua, entramos em lojas que tinham todos os tipos de roupas, demos moedas a artistas de rua, escutamos músicas diferentes. Ali, naquela cidade e em um país diferente parecia que nada poderia nos tocar, que éramos sempre a família feliz.

Entre todos os meus pensamentos confusos. Entre todos os sentimentos se misturando dentro de mim e com a saudade sendo controlada. Eu conseguia finalmente aproveitar o momento.

Tínhamos visitado a escola de bruxaria, o ministério, todos os eventos importantes que a Ministra não poderia escapar. Mas agora olhando para minha mãe ela não parecia nem mãe e nem ministra, parecia apenas uma mulher apaixonada aproveitando o amor de sua vida.

Puxei meu irmão para o lado, ele entendeu o recado e tirou várias fotos deles. De Ronald e Hermione. De longe a melhor viagem de férias.

Nova York tinha todos os tipos de pessoas. Mulheres gordas, magras, negras, laranjas o que era um pouco esquisito. Eu não me sentia incomodada. As lojas tinham todos os tamanhos de roupas, era um mundo diferente.

― Quero morar aqui. – Escutei meu irmão falando. – Isso aqui vibra vida.

Vibrava mesmo. Vida. Arte. Luz.

― Quem sabe um dia. – o abracei – Combina com você.

Ele não entendeu. Hugo era discreto e observador. Não se envolvia. Mas quem olhava de fora sabia que ele vibrava tanto quanto aquela cidade.

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Não se assuste
Se eu exagerar e imaginar uma imensidão de planos


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