Areia

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Quer parar o tempo
Natural que seja assim


Meu irmão sempre foi conhecido como observador, mas também posso dizer que o observo, principalmente sua relação com sua prima preferida, e seu completo oposto. Lily nasceu chamando atenção. Hugo nasceu calmo, sem alardes e já com data marcada para vir ao mundo. Lily não. A bolsa estourou uma semana antes do previsto e ela veio ao mundo num dia extremamente chuvoso, ela já nasceu brilhante. Seu nome dizia tudo: Lua.

Hugo era calmaria. Passava um dia inteiro sentado num sofá, ou assistindo desenhos Trouxas quando pequeno, ou lendo uma revista em quadrinhos, ou jogando videogame portátil. Lily era tempestade. Nunca parava na casa dos avós, corria e se machucava o tempo todo pelos jardins. Quando pequena, infiltrada nos costumes trouxas, fazia ballet, natação, judô, flauta, violão e praticava canto, queria ser artista quando crescesse, queria continuar chamando a atenção.

Hugo gostava de se camuflar. Usava um boné para lhe tampar o rosto pelo castelo, gostava de ficar por baixo das cobertas em seu quarto com a varinha iluminando os gibis que não desgrudava de si. Adorava desenhar heróis e damas em apuros para serem regatadas. Sonhava com uma vida dupla. Lily adorava aparecer. Conseguia ser amiga de todos do castelo, dos mais tímidos aos mais populares, todos a adoravam, as meninas achavam-na linda e pediam dicas para deixarem seus cabelos brilhantes como os dela, os garotos se apaixonavam logo de cara. Ela era assim, apaixonante sem muitos esforços. Brilhava por si própria.

Ele era a garoa, ela o furacão. Mas mesmo assim eram melhores amigos. E mesmo com todas as diferenças se entendiam como ninguém mais. Os observando de longe no castelo em que crescemos, não pude deixar de ouvir um diálogo, escondida atrás de uma árvore.

— Hugo, me ensine seu segredo?

Perguntou a ele numa tarde qualquer nos jardins da escola.

— Segredo? – olhou-a confuso.

— Como consegue brilhar tanto, e ser tão único?

Ele sorriu, e logo em seguida respondeu.

— Meu segredo é ter você.

Ela sorriu largo e deitou sua cabeça no ombro dele. Ela com sua luz se espelhava na dele para se iluminar. Como lua e sol.

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Ainda eu não te sei de cor
Tem tanto que eu não aprendi


Quando ele apareceu aqui com a garota pela primeira vez, acredito que não fui o único que acho estranho os cabelos coloridos, as roupas rasgadas em lugares engraçados. Quando eu era jovem morria de vergonha das minhas roupas e elas eram impecáveis, minha mãe não deixava nenhum buraquinho aparente, por mais usadas que fossem. Estava sendo difícil entender que eles tinham crescido, que agora tinham outras pessoas para admirar. Quando Rose trouxe o filho da doninha eu quase tive um infarto, mas eu deveria desconfiar de todas as vezes que saiam juntos, de todas as vezes que ela falava sobre o jovem Scorpius. Mas Hugo nunca falava.

Lembro-me de quando percebi que ele estava gostando dela. Daquela que achávamos que seria a garota que ele carregaria até o fim dos dias, da que seria oficialmente apresentada para a família. Porque apesar de não falar como sua irmã fazia, ele demonstrava como ninguém mais dessa família conseguia demonstrar. Eu disse que ele deveria se decidir, que a garota não o esperaria para sempre. Quando ele disse que não era ela quem estava esperando, não soube o que responder. Não soube como explicar que ele não precisaria esperar. Quem nem todo mundo é como eu e sua mãe somos. Existem primeiros amores que não se tornam os últimos.

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