No escuro

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De você, só quero tudo
No claro e no escuro


           

Não vou mentir dizendo que todas as nossas primeiras vezes foram fáceis. Nenhuma delas foi. Mas depois que aconteciam se transformavam em melhores momentos e melhores lembranças. Depois que deixavam de serem primeiras e se tornavam terceiras, quartas, infinitas, tudo passava a se encaixar. Como se fossem para acontecer, apesar de qualquer empecilho que tivesse sido imposto.

            Então enquanto estou em seus braços e fico olhando para o teto de seu quarto, para os móveis antigos, para as cortinas pesadas e escuras, me sinto segura. No começo jamais deixaria que isso acontecesse tão perto da luz do dia, tão as claras. Mas enquanto você se desvencilha de meu abraço e caminha até as cortinas pronto para abri-las deixando os primeiros raios de sol invadir o cômodo inteiro, eu suspiro.

            Saio da cama com todo o cuidado, me visto com a minha camiseta, aquela que os dedos dele tiraram habilmente e me abraço a seu corpo ainda nu. Gosto de seu cheiro, não importa qual seja a ocasião, esfrego meu nariz em suas costas e escuto sua risada controlada. Quando se vira e me beija fico grata pela sorte que tive, quando me apaixonei pelo melhor amigo.

            ― Scorpius. – Suspiro com todo o desejo que ele me provoca desde o momento que entendi o que era desejo. Seus olhos cinza e cansados são meus preferidos, as orelhas quase roxas e a pele pálida revelando muitas de suas veias pulsantes e vivas. Sei que amo cada pedaço dele, cada circunstância, cada verdade e cada mentira.

            Seu abraço me aquece.

            Sei que logo preciso aparatar, chegar a casa antes que meus pais acordem, sair daqui antes que os dele despertem. Temos poucos minutos ao amanhecer, ainda bem que as longas noites compensam qualquer correria matutina. Estou começando a colocar o restante de minhas roupas, amarrando meu cabelo desajeitadamente.

            Ele deitado na cama acompanhando cada um de meus movimentos. Não sou graciosa, nem pequena, sou totalmente atrapalhada e muitas vezes quase caio de bunda no chão, meu corpo além de ocupar espaços é pesado. E seus olhos parecem acompanhar todos os movimentos com ternura, amor.

            ― Deveríamos morar juntos. – A voz dele é tão enérgica. Como se não existisse possibilidade de recusa.

            Sou pega de surpresa. Esqueço as botas que tentava calçar, pulo em sua cama e paro bem diante de seu rosto. Analiso toda a expressão. Sei que está falando sério. Mas mesmo assim pergunto.

            ― Está falando sério?

            ― Estou. – Ele segura meu rosto com as mãos. E sorri. – Você sabe que quero tudo com você. No claro. No escuro. Quero tomar café da manhã. Não quero que aparate ao amanhecer e também não quero aparatar. Pode ser um quarto e um banheiro. Mas poderemos caminhar pelas ruas ao amanhecer em busca de café e croissant.

            Poderia fazer o café da manhã e tomaríamos em nossa cama. Vivendo nossa vida. No claro. No escuro. Em todos os momentos. Com muitas outras primeiras vezes.

            ― Scorpius, eu acho ótimo. – O beijo.

            E ele me beija.

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