Não estou sozinho...

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~Elsa~

Naquela manhã os guardiões saíram em busca da minha irmã enquanto eu, Hiccup e Jack ficamos vendo eles irem, conhecemos um pouco mais do lugar e depois Jack tentou montar o Banguela mas o Banguela o derrubou e Hiccup começou a rir por muito tempo, eles acabaram tendo uma pequena discussão mas logo pararam pois Jack disse que estava atrasado para espalhar neve pelas cidades, Hiccup começou a olhar a cauda do banguela pois parecia que aquela pequena confusão danificou um pouco a prótese da calda que ele fez, eu decidi apenas o observar, percebi como seu rosto sorridente se tornou sério enquanto ele analisava os danos, eu acabei percebendo que quando fui com ele ao grande salão onde ele fica para liderar Berk ele sempre manteve seu rosto sério e fechado evitando conversas e quando finalmente acabava sorrindo seu sorriso logo desaparecia, diferente de quando está em seu tempo livre onde ele acaba sorrindo mais e seu sorriso dura mais tempo, me pergunto por que ele faz isso, talvez seja por conta de liderar uma ilha inteira? Ou será que é por alguma outra razão? Acho que seria incoveniente perguntar, afinal é algo pessoal dele não?
- Elsa?...- Quando Hiccup me chamou percebi que todo esse tempo eu só estava olhando para ele sem disfarçar e ele acabou notando isso e me encarando também com seu rosto meio avermelhado.
- D-desculpe eu só estava... só estava pensando em algumas coisas só isso.
- T-tudo bem, não tem problemas, só me perguntava se havia algo na minha cara para você ficar me olhando dessa forma.
- Que forma?
- Ah, que você estava me analisando já que parecia prestar bastante atenção no que fazia, talvez buscando a resposta a alguma pergunta?
- Uau, sinceramente era isso mesmo.
- Bom e o que você gostaria de saber? - Hiccup se afastou do Banguela e se sentou ao meu lado no chão e depois se apoiou na parede.
- Bom eu estava me perguntando...por que quando você está no grande salão você é alguém tão diferente do que você é quando não está sendo chefe...- o Hiccup fez uma cara de surpresa.
- Você deve ser bem observadora para ter notado isso.
- Eu acho que estou me intrometendo não é? Tudo bem, eu vou até meu quarto e - quando estava me levantando Hiccup segurou minha mão me impedindo e ir.
- Eu não disse nada disso, não precisa ir.
- Ah...- depois de um tempo em silêncio Hiccup acabou falando.
- Eu sou assim por que, eu preciso ser.
- ...como assim?
- é uma longa história.
- tudo bem se não quiser contar...
- você me contou a sua não é? Então não seria justo eu não contar a minha.
- Tem certeza?
- Claro, me faz bem conversar com você - Hiccup me olhou sorrindo. - Bom, eu era um jovem viking, naquela época o relacionamento de dragões com vikings não existia, vikings caçavam eles com unhas e dentes buscando a extinção de dragões.
- Isso é horrível...
- Sim, eu sei, naquela época os mais jovens já começavam a treinar para sua caça aos dragões e como eles eu também, mas diferente de todos eu não conseguia ser um bom vikings, todos me achavam fraco e desajeitado demais para causar algum dano que seja em dragões, mas eu sabia inventar então inventei uma máquina para poder caçar um dragão, que seria o fúria da luz já que ele era considerado
- A Cria Diabólica do Raio e da Própria Morte?
- Exatamente, eu consegui derruba-lo mas machuquei sua calda, eu tentei matar ele mas quando o olhei nos olhos não consegui fazer algo, então o soltei mas ele não podia mais voar, demorou um tempo até que nós começamos a nos entender, eu criei a prótese e foi quando nós voamos pela primeira vez, a sensação era assustadora mas única para mim, depois de um tempo Astrid descobriu tudo e logo depois todos descobriram, prenderam ele e o levaram para achar o ninho de dragões para acabar com todos, mas, junto com os cavaleiros de dragão conseguimos ir atrás deles, eu mostrei aos cavaleiros seus dragões e no fim conseguimos salvar os dragões e o banguela, mas no meio de tudo isso eu acabei perdendo minha perna, depois de descobrir sobre como poderia haver tantas outras espécies de dragões por esse mundo eu acabei querendo sair e descobrir cada uma delas pessoalmente.
- E você foi?
- Por um tempo sim, eu e os cavaleiros até encontramos uma ilha onde fizemos uma base para lutar contra inimigos e salvar dragões, eu estava crescendo e meu pai queria que eu me preparasse para me tornar chefe, mas eu não queria, eu queria continuar a descobrir e viajar por vários lugares em busca de algo novo, eu o enrolava dizendo que ainda não estava pronto para isso, e de fato não me sentia pronto, em uma de minha viagens, acabei achando minha mãe...
- Isso deve ter sido incrível.
- E foi, ela se mostrou alguém que amava dragões e lá conheci o alfa além de tudo isso, eu pude ver meu pai e minha mãe juntos, eu pude desfrutar do que era ter uma família completa, mas...isso durou muito pouco.
- Por que?
- Drago chegou, ele queria destruir tudo e trouxe um dragão para derrotar o alfa, tentamos lutar mas não conseguimos, o alfa de Drago derrotou o alfa que estava do nosso lado, assim Drago controlou todos os dragões, inclusive o Banguela... Ele fez com que o Banguela tentasse me atacar mas...meu pai entrou na frente e não permitiu que o Banguela me machucasse, porém, isso custou um preço muito alto...
- Seu pai ...
- Ele morreu tentando me salvar, eu acabei perdendo o pouco de família que consegui ter, mandei o Banguela para longe e perdi meu pai - Eu percebi como o Hiccup fechou seus punhos e como ele tentava segurar lágrimas.- Depois disso eu organizei um ataque contra Drago, não podia deixar ele ir e dominar Berk, no final consegui fazer o Banguela deixar de ser dominado pelo alfa e ele me defendeu do ataque que poderia ter me matado, no final Banguela se tornou o alfa e Drago havia desaparecido, eu me tornei chefe de Berk e desde então tudo ficou diferente... Diferente do que podia imaginar...
- O que isso significa?...
- Eu....
- O que aconteceu Hiccup? - Hiccup começou a ficar inquieto.
- Sabe, eu sempre fui focado em poder liderar Berk da mesma forma que meu pai fazia... eu quis sempre dar o meu melhor para compensar tudo...
- Tudo o que?
- Eu percebi que aos poucos fui me tornando alguém rebelde e não queria ser o novo chefe de Berk, a vontade de sentir liberdade, explorar o mundo imenso lá fora, descobrir novos dragões acabou sendo tão grande mas por causa disso acabei deixando meu pai de lado, eu acabei sendo tão egoísta...
- Hiccup...- Eu coloquei minha mão em seu ombro tentando fazer ele se sentir melhor de alguma forma.
- Quando encontrei minha mãe eu pensei que minha família estaria unida de novo, era algo com que sonhava desde criança sabe, eu só queria ter sentido a sensação de ter uma família completa enfim, mas acabei perdendo meu pai, e tudo que um dia sonhei acabou simplismente sumindo e se perdendo ao vento.
- E o que mais?
- Eu... Eu acabei me prendendo a realizar todos os feitos do meu pai em uma tentativa de aliviar o que está no meu coração por tanto tempo.
- e o que está?
- Desde que ele se foi, eu mal tive tempo de chorar direito por ele, eu tinha que liderar Berk em um ataque contra Drago e simplismente me tornei chefe de Berk e assumi tudo, mas dentro de mim eu...ainda sinto culpa por tudo que possa ter acontecido com ele...
- Você não tem culpa pelo que aconteceu Hiccup...
- A sensação de culpa e vazio esteve junto comigo sendo basicamente minha única companhia, eu me afastei de todos por que a busca por uma forma de achar um perdão por não querer me tornar chefe e seguir os passos de meu pai antes só me machucavam mais e mais....elas começaram a me queimar por dentro
- ...
- Como chefe de Berk eu não queria demonstrar fraqueza, eu precisava passar confiança a todos, ser um pilar onde todos possam se apoiar assim como meu pai fazia mas...
- Mas você não tinha algo pra se apoiar não é?
- Eu .... Eu queria me tornar aquele chefe que meu pai tanto quis e talvez assim, aliviar essa dor que está aqui dentro - ele abaixou a cabeça e pude ver que as lágrimas dele começavam a cair no chão mas ele tentava segurar elas ao máximo.
- Hiccup, você não precisa ser igual ao seu pai.
- EU PRECISO! - Hiccup me olhou e seus olhos estavam começando a ficar vermelhos.
-.....
- EU NÃO QUERO FALHAR DE NOVO EU NÃO POSSO, NÃO POSSO MAIS ...- As lágrimas caiam cada vez mais mesmo ele tentando segurar.- Ele só queria um filho que fosse responsável e assumisse seu papel e eu não consegui ser isso para ele, eu não consegui... Eu apenas fugi de tudo e quando vi já era tarde para fazer algo, eu não quero viver pra sempre com essa dor, essa culpa, eu só queria poder ter meu pai de volta e assumir meu lugar, mesmo que isso resultasse em deixar de ser quem sou... - Eu segurei o rosto do Hiccup com minhas mãos e o fiz olhar em meus olhos enquanto ele me olhava surpreso e com lágrimas escorrendo.
- Hiccup você tem que parar de pensar assim! O que houve com ele nunca foi culpa sua, não pense que é, você não queria ser chefe e encara isso como um erro imperdoável mas todos cometemos erros não é? Isso é algo inevitável, mas Hiccup ficar se culpando e se isolando não vai trazer ele de volta, não pense que seu pai morreu pensando que você foi apenas um filho rebelde para ele, ele te amava demais e foi por isso que prefiriu morrer ao te perder, e não foi a toa, ele fez isso por que confiou em você, ele conhecia o filho que tinha, se afastar de todos, se isolar, deixar sua dor te consumir, acha que ele iria querer te ver assim? Ele nunca iria querer isso, o ontem nos não podemos mudar mais por que já foi feito, mas podemos mudar o futuro!
- Elsa ... - ele já não se importou com as lágrimas que saiam de seu rosto.
- Hiccup você é humano e todos precisamos nos apoiar em algo, você não precisa fingir que nada te afeta, chorar nunca vai significar que você e fraco só que dizer que você tem sido forte por tempo demais, Seu pai foi um grande chefe para Berk, mas não significa que você deve fazer isso da forma em que ele faria, você pode mudar da sua forma, isso não significa algo ruim, se você não seguir exatamente os mesmos passos que ele não significa que você o esqueceu, significa que você aceitou o que aconteceu e continuou vivendo, isso não tem nada de ruim, e não pense que você falhou totalmente, uma vez eu li em um livro que, o começo de nossas histórias podem não ter um começo feliz mas isso não define quem você é, é o restante da sua história, quem você escolher ser, você tem várias escolhas que pode fazer, sua história não precisa terminar assim, todos os dias é uma nova chance de mudar e fazer diferente e também você nunca esteve sozinho, seus amigos, o Banguela e sua mãe sempre estiverem ali pronto pra te ajudar, eles querem ver você feliz, eles querem você de volta, todos eles querem o Hiccup de volta e - Não pude terminar minha frase pois Hiccup me abraçou forte já não segurando mais as lágrimas, eu comecei a sentir que meu ombro começava a ficar molhado por conta das lágrimas dele mas não me importei com isso.
- Eu sinto...Eu sinto tanta falta dele.
- Eu sei Hiccup, mas você tem feito de tudo, você está se dedicando e sabe, se eu fosse seu pai eu realmente sentiria orgulho de ter um filho como você, e aposto que sua mãe sente isso todos os dias. - Hiccup continuei me abraçando e aos poucos ele ia se acalmando, senti como sua mãos deslizaram pelas minhas costa e quando o olhei ele estava dormindo no meu colo, eu o observei e pensei em quantas coisas ele pode ter passado, eu comecei a deslizar minha mão pelo cabelo dele que era tão macio, vendo assim, Hiccup parecia um garotinho pequeno e com medo e eu acabei sussurrando.
- Você realmente é mais incrível do que eu poderia achar.

~Hiccup~

Aquelas palavras me tocaram mais fundo que podiam, depois de tanto tempo eu finalmente pude tirar parte de tudo aquilo que decidi guardar comigo, eu abracei a Elsa como se fosse a última vez que a veria, ela me retribui e me abraçou forte, eu acabei dormindo depois do longo abraço me deitando sobre seu colo, eu pude ouvir seu coração batendo e sentir o calor de seu corpo, só isso foi suficiente para que eu voltasse a sentir uma paz que a tanto tempo eu não sentia mais e pela primeira vez depois de tantos anos...eu não me senti mais sozinho.

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