Destino além das estrelas

CAPÍTULO 4

Desde de sempre fui apegada a minha família, a sensação de deixa-los me atormentava. Depois da minha conversa com Caspian as coisas se aquietaram no meu coração por um curto período de tempo pelo menos, mas ainda a insegurança me abatia.

O peso da minha decisão estava me deixando ansiosa, as palavras de Aslam martelavam em minha cabeça "para toda escolha tem sua consequência", a minha escolha selaria definitivamente meu destino.

Escutei sons altos vindos da cozinha, ao chegar na entrada vejo Edmundo de costas preparando o café da manhã e pelo cheiro estava bom. Fazia tempos que não preparava a minha própria comida, pois sempre comia nas barracas de vendedores ambulantes, mas ao vê-lo ali cozinhando lembrei de quando éramos jovens e tínhamos que preparar nosso próprio alimento.

Desde de sempre Edmundo fazia tudo que queria, nunca escutava Pedro e Susana e era mestre em mentir. Mas nem isso me fazia o amar menos; Ele havia conseguido realizar seu maior sonho que era se tornar um soldado do exército, era exatamente por esse motivo que não mantínhamos contato.

-Já acordou? – pergunta ele ainda de costas – senta aqui já está quase pronto.

-Queria continuar dormindo, mas não adianta toda vez que fecho os olhos lembro do tempo em que passamos em Nárnia como Reis.

-Foi uma época nostálgica, ainda tenho saudade apesar de que não trocaria a vida que tenho aqui – ele coloca os pratos sobre a bancada, havia feito ovos mexidos com torradas e um copo de leite tal como fazia quando éramos crianças.

-Tem certeza que nunca voltaria? – pergunto sarcástica.

-Nunca tive tanta certeza na minha vida – diz ele se sentando ao meu lado.

-Mas não era você que gostava de "brincar" de ser Rei? – digo o olhando divertidamente.

-Nunca brinquei de ser Rei, sei que realmente tinha dom para ser um – diz ele sorrindo de forma convencida.

-Se pudesse vir comigo, iria? – pergunto servindo o meu café.

-Talvez. Você não pode ficar sozinha lá, quem sabe o que vai encontrar, talvez um pervertido no meio do nada.

-Sei me defender, mas você pensou sobre o que conversamos na noite passada? – pergunto dando um gole no café.

-Bem não dormi a noite inteira pensando sobre isso – diz ele com o semblante sério – talvez seja realmente verdade o sonho que teve.

-No começo achei que esses sonhos fossem fictícios – digo me lembrando dos sonhos – mas as coisas mudaram quando Aslam conversou comigo, minha mente não seria tão criativa.

-Nisso tem razão, todos sabemos que nunca foi tão inteligente – diz Edmundo sorrindo de lado.

-Tá me chamando de burra? Você é pior, não foi eu que caí na lábia da feiticeira – seu sorriso some enquanto ele me encara irritado.

-Sabe você sempre foi irritante, desde de criança sua birra era estressante – diz ele falando num tom firme – toda vez que fazia isso, eu era obrigado a brincar com você, foi a pior época da minha vida.

-Não vou dizer seus defeitos porque você lida consigo mesmo o tempo todo, coitada da mulher que escolher casar com você – digo enquanto pego uma torrada.

-Continuando o assunto de antes, pensei sobre o que disse ontem, e não tenho o direito de decidir por você – diz ele enquanto se vira na cadeira ficando de frente para mim.

-Nunca deixaria você ou nossos irmãos decidirem por mim, o fato é que eu os amo demais para deixá-los.

-Então o que te impede de ir é porque nos ama? Que absurdo, se pudesse fazer essa escolha teria ido, pois sei que estaria segura e feliz.

-Não é tão fácil quanto pensa, só estando na minha posição saberia o que estou passando.

-Talvez, mas deve pensar no que realmente lhe fará feliz, do que adianta nos amar se vai ser infeliz o resto da vida. Siga os desejos do seu coração, a única coisa que deve fazer é ouvi-lo.

-Engraçado, você disse a mesma coisa que Aslam e Caspian – digo sentindo um pouco de alívio.

-Eles estão certos, se você tem a oportunidade de ajuda-los vá em frente – ele pega minhas mãos as acariciando de leve com ternura – se pudesse ir para protege-la faria isso, desistiria da minha carreira, de tudo por você.

-Eu sei que faria isso, você me deu a resposta que queria ouvir – senti algo esquentar, meu coração palpitava – obrigada, finalmente sei o que devo fazer.

-Não precisa me dizer, tá estampado na sua cara – ele me puxa para um abraço me apertando firmemente – sei que sentirei sua falta, mas se for feliz estando lá tenho certeza que essa escolha valeu a pena.

-Além de ser meu irmão, é meu melhor amigo te amo mais que tudo no mundo – sinto seu queixo se afundar no meu ombro e o escuto dar uma leve fungada.

-Te amo irmãzinha, seja feliz – diz Edmundo me soltando aos poucos, seus olhos estavam um pouco vermelhos – não se preocupe com Pedro e Susana farei com que entendam sua escolha.

-Obrigada, diga que sentirei muita falta deles – dou um sorriso triste – farei tudo ao meu alcance para ser feliz.

-Tome cuidado com esse feiticeiro, não se deixe enganar e principalmente não namore.

-Somente pedirei um favor, no meu trabalho tenho uma amiga muito querida – digo enquanto o vejo levantar uma sobrancelha – o nome dela é Kate, faça amizade com ela, diga que fui morar no exterior.

-Ela é bonita?

-É muita areia pro seu caminhãozinho – digo rindo da sua expressão de ofendido.

Naquela noite foi a última conversa que tivemos, os momentos que passamos juntos estarão gravados nas minhas memórias, mesmo os momentos bons ou ruins foram esses que nos tornaram o que somos hoje e por isso agradeço.