Prólogo - Catástrofe

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Eu não consigo me lembrar em que momento tudo na minha vida começou a desandar, para me fazer chegar aqui. Tudo aconteceu tão naturalmente, que nem por um segundo imaginei que estava caindo em uma ilusão. Achei, muito ingenuamente, que não correria esse risco, não achei que seria feito de idiota. Não achei que seria usada como todas as outras. Mas confesso, fui arrogante. Me julguei superior a ele, e talvez esse tenha sido meu maior erro. Ou será que meu maior erro foi me permitir, aos poucos, romper as barreiras dentro de mim e me apaixonar por ele?

Enquanto ando pela rua do pequeno prédio em que moro, penso em que momento os acontecimentos entre nós tomaram essa proporção gigantesca, para nos fazer chegar onde estamos. Quando me deparei, ele fazia mais parte da minha vida do que imaginava. Não sufoquei o sentimento que cresceu dentro de mim, adiei o fim. Queria que ele viesse só mais um final de semana, me desse só mais um beijo, que me chamasse de Barb outra vez. Achei que não me machucaria. Achei que ele não me machucaria. Acreditei que, por ele baixar a guarda comigo, que as coisas seriam diferentes.

Ao dar passos pela rua, tentando fugir dele e de todo esse caos interno que ele causa, ouço seus passos pesados atrás de mim. Tenho vontade de chorar ao lembrar da cena que havia presenciado há poucos minutos atrás. Estou me odiando por ter acreditado, em um curto momento de inocência, que algo daquele tipo nunca aconteceria.

Barbara! — a sua voz me chama em um tom estranho que arranha meus ouvidos. — Espera aí.

Eu quero milhas de distância dele. Não suporto ouvir sua voz agora.

— Barbara! — sua voz sai mais alta. — Calma, porra. Me deixa falar com você, me deixa explicar.

É aqui que perco completamente o juízo. Porque mesmo depois do que ele foi capaz de fazer, quer se explicar, como se alguma justificativa fosse válida depois do que fez comigo.

— Explicar? — me viro depressa para ele, questionando em tom agressivo. — Você não tem que me explicar nada.

— A gente precisa conversar. — ele diz ofegante, me olhando com aqueles olhos que um dia jurei serem lindos, mas que agora sinto raiva de encarar.

— A gente não tem nada para conversar! — digo ríspida, imediatamente me virando de costas para ele, na esperança de ir embora o mais rápido possível.

E eu tento, mas sou impedida pela sua mão segurando meu pulso, me impedindo de seguir para longe da sua presença, pois não suporto mais um segundo perto. Tenho medo de me machucar mais. E me irrita ter suas mãos sujas sobre mim.

— Tira essa mão suja de mim! — grito com ele, me descontrolando ao perceber que ele está tentando me ter mais uma vez, como me teve nos últimos meses.

— Não fala assim. — ele diz um tanto assustado, soltando meu pulso com um cuidado mentiroso logo em seguida. — Me deixa explicar o que aconteceu.

— Enfia a sua explicação no... — não consigo terminar a frase, pois ele me interrompe.

— Para! — ele também grita, parecendo desesperado, mas agora eu sei que tudo é fingimento. — Tenta me ouvir!

Olho em seus olhos escuros que estão arregalados, tomados de ansiedade, e sei que essa será a última vez que vou olhá-los.

— Eu não tenho que te ouvir, e muito menos quero. — digo com nojo.

— Barb, deixa eu falar. — ele dá um passo em minha direção, sua voz mais mansa, enganosamente dolorida, assim como seus olhos que me encaram com um falso receio. — Me dá dois minutos para te dizer o que aconteceu, é só isso que eu preciso. Por favor, Barb.

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