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Nunca tive o hábito de dormir até tarde. Sempre fui daquele tipo de pessoas que acorda antes das 9h, mesmo que não tenha nada para fazer, mesmo que seja o meu dia de folga ou esteja de férias. Gosto de aproveitar o dia, aproveitar a brisa fresca da manhã para correr um pouco e usufruir de cada raio de sol que faz no exterior das nossas casas. Em dias de chuva, mantenho a minha rotina, não me deixo acanhar por uns pingos de chuva, mas confesso que isso já me deu bastantes constipações, algumas delas bem severas, e por isso, há dias que treino em casa, por muito mais que eu odeio correr numa passadeira.
Ontem foi mais um dos dias normais na minha vida. Um dia em que treinamos apenas de tarde, mas o meu dia começou demasiado cedo. Começou tão cedo que após a minha corrida matinal, eu assisti a algo que me deixou a pensar nisso pelo resto do dia. Na televisão passou a entrevista de uma mãe solteira que combate junto com a sua filha uma doença dura: a leucemia. Eu não sou pai, mas sonho em ser. Sou apegado aos meus sobrinhos e sou completamente apaixonado pelo pequeno Sonny, o filho do Aaron. Eu consigo imaginar a dor que aquela mãe, Laura, está a passar e o quanto deve ser difícil para ela querer tratar a filha e não conseguir. Contudo, o que me choca mais é o facto do pai da menina as ter abandonado e não querer saber de nada. Ela é sozinha a lidar com tudo e mesmo que tenha o apoio da sua mãe e daquela sua amiga, nada é como ter o apoio de um homem ao seu lado, tendo eles um relacionamento ou não. E aquela menina, ela deveria saber o que é ter o apoio e amor de um pai.
- Oli! – Laurent estala os dedos na minha frente e ergo o rosto na sua direção, vendo-o lado a lado com Özil e os dois com uma expressão confusa. – O que tu tens? Estás estranho desde ontem.
- Estava aqui a pensar numa cena. – Passo a mão pela minha barba e levanto-me, conferindo que estão todos no balneário depois de olhar em volta. – Pessoal, podem dar-me um tempinho? Gostava de falar convosco. – Olho diretamente para Arteta, o nosso capitão, que assente com a cabeça. Todos estão sentados a olhar para mim e sorrio para cada um deles, continuando a brincar com a minha barba. – Eu não sei se alguém teve a hipótese de ver ontem de manhã a entrevista que passou no This Morning, daquela mãe que tem uma filha de dois anos que sofre de leucemia.
- Eu vi. – Oxlade-Chamberlain informa ao dar de ombros, enquanto aperta as suas chuteiras e semicerra o olhar para Chambers e Bellerín, quando os dois o encaram com os olhos arregalados. – Eu acordo cedo, está bem? Tenho uma rotina a manter e depois enquanto tomo o meu pequeno-almoço, vejo esse programa, é bom manter-nos informados.
- É só que não te imaginávamos a ver esses programas de velhos. – Bellerín solta uma breve gargalhada, acabando por engolir em seco quando olha para mim e me vê sério. – Não te estou a chamar velho, é só que o Ox é mais novo e não sabíamos que ele tinha essa rotina e tu tens e ...
- Cala-te antes que te enterres mais. – Ramsey murmura dando um cachaço na nuca do espanhol e sorri brevemente para mim, abanando positivamente a cabeça. – Prossegue.
